O palhaço Tiririca foi campeão em votação conquistada como uma prova de que o povo não quer mais a política que está aí de palavras decoradas, de apelo midiático e de instrumentalização de um processo que se baseia no jogo de interesses, de conchavos e de abuso do poder econômico. No processo de eleição, o hoje deputado federal não utilizou da parafernália e do disfarce para efetivar sua propaganda: preferiu o escárnio, a brincadeira fácil e a constatação de que o mundo político de nosso país é uma piada declarada. Não se tem notícia de que o candidato cearense tenha utilizado do abuso econômico e da compra de votos, tão comuns na maioria dos pleitos em todos os locais do país. Ficou provado claramente que o povo está cansado de discursos prolixos e mascaradores da realidade que geralmente são utilizados apenas para garantir votação.
No entanto, o nobre deputado cometeu um pecado que poderá custar sua cassação: é supostamente analfabeto, como uma grande quantidade da população brasileira. Imediatamente, promotores públicos e juízes procurando mostrar serviço, o que nem sempre é tão eficiente, se arvoram em colocar para fora uma pessoa que aí está pelo desejo popular, seja certo ou errado. Ora, quantos analfabetos de diploma não existem em nosso país? E quantos diplomados não compraram o título de alfabetizados e estão aí cometendo erros gritantes de português nas petições judiciais, nas receitas médicas e até em aulas de pós-graduação? Outro pecado de nosso jovem deputado e palhaço foi não ter aprendido a driblar tais situações, como fazem as velhas raposas do mundo político. O palhaço deputado (e olha que há muitos deputados palhaços) cometeu o erro de vir da camada mais pobre da sociedade conquistando um sucesso que atingiu frontalmente nossa elite, que não suporta homossexuais, negros, descamisados e oprimidos no poder.
Rapidez da justiça surpreende
A preocupação dos representantes da justiça com Tiririca poderia ser um momento para questionar ações do Poder Judiciário em prol da educação de qualidade, de luta pelo cumprimento de leis que ajudem o trabalhador, de erradicação do analfabetismo, de mais qualidade no processo educativo e de geração de respeito ao povo que hoje passa até cinco anos esperando uma sentença dos quase deuses que hoje são representantes da justiça. Não queremos transformar estas reflexões numa bandeira pelo voto de protesto, mas queremos deixar claro que é preciso modificar nosso política e fazer com que esta cumpra os ditames de um processo de garantia de alcance dos interesses populares.
Outro dado intrigante é a celeridade com que nossa justiça tem procurado a cassação do deputado palhaço, como se para a justiça fosse uma hecatombe a chegada de um pobre desdentado ao poder. Nossa justiça tem provado que há dois pesos e duas medidas que vão depender do poder que os julgados têm na vida política, econômica e social do nosso país. Por que os chamados ‘Ficha Suja’ estão no poder? Por que crimes hediondos acabam prescrevendo nas prateleiras empoeiradas dos tribunais? A rapidez da justiça neste caso surpreende e nos faz acreditar que o deputado palhaço cometeu o crime de ousar e divertir o povo que infelizmente provou que acredita muito pouco nos discursos pasteurizados e mentirosos que hoje fazem parte de uma política que envergonha e provoca reações como estas.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE