Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os ‘quase’ e o compromisso jornalístico

No Brasil, parte da imprensa conservadora teima em jogar o engodo da maldade própria na esperança de que os seus adversários ideológicos o belisquem. Recentemente, a revista Veja nos trouxe uma entrevista com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e as perguntas formuladas pelos jornalistas Otávio Cabral e Daniel Pereira foram carregadas de um sentimento implícito de complicar a vida do dirigente petista. Nada de anormal até aqui, principalmente se considerarmos a argúcia dos entrevistadores e a relação da revista quando o assunto é o PT.

Perguntaram se o Partido dos Trabalhadores acredita numa conspiração da imprensa contra Dilma Rousseff, candidata da sigla na sucessão presidencial de outubro próximo. José Eduardo foi claro: ‘Existem articulistas que transformaram suas colunas em libelos contra nossa candidatura…’

Não precisamos sair das páginas de Veja para encontrar pelo menos dois articulistas que combinam a nostalgia do mundo bipartido entre esquerda e direita – ainda pensam que o mundo está dividido pelo muro de Berlim – e que usam seus espaços nitidamente para fazer uma desconstrução da candidatura petista e uma maquiagem da candidatura da situação e de outros fatos que menos lhes agradam o raciocínio crítico e isento.

Oportunidade perdida

Todavia, um ponto que nos chamou atenção na entrevista não foi uma pergunta, mas sim, uma afirmação da Veja: ‘Políticos têm dito que as novas regras eleitorais, como o fim da doação oculta, tornam o caixa dois quase obrigatório.’ Vamos ao exame: a Veja, mormente nos últimos sete anos, tem se destacado pelas várias denúncias que faz, seja contra a corrupção política ou eleitoral. Carrega nas tintas um pouco aqui, descarrega em outros acolá. Exemplo: carregou no mensalão do PT e coloriu no mensalão do PSDB mineiro. Mais recentemente, tapou o nariz no mensalão do DEM, comandado por José Roberto Arruda, e só deu maior destaque ao fato quando o assunto já havia estourado nacionalmente. No entanto, não deixamos de reconhecer o excelente serviço que a revista presta ao país.

Adiante: ao afirmar que ‘políticos têm dito que as novas regras eleitorais… tornam o caixa dois quase obrigatório’, a Veja tem a obrigação de responder à sociedade pelo menos cinco indagações: 1) Quem são esses políticos? 2) Por que a revista não explicita o nome desses quase criminosos? 3) A Veja considera normal acobertar quem fez essas declarações? 4) Quais são os interesses escusos por trás da ocultação dos nomes dos quase criminosos? Será o sigilo da fonte? 5) E os bravos combatentes, arautos do bom jornalismo, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, o que pensam dessa omissão talvez proposital da revista?

Na lógica estabelecida na pergunta de Veja existe agora o quase criminoso, pois de acordo com a revista, alguns políticos – observem: a própria Veja deixou claro na afirmação que já sabe quem são eles! – já declararam que de acordo com as novas regras, o caixa dois será quase obrigatório…

José Eduardo Dutra respondeu a todas as indagações. Mais uma vez, não fugiu do debate e não justificou o injustificável. Entretanto, quando afrontado pela afirmação da revista, perdeu a oportunidade de responder com uma pergunta: quais são os políticos que afirmam que o caixa dois é quase obrigatório?

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Jornalista