Apesar de ser considerada uma ‘mídia maldita’ por alguns dos que fazem a comunicação, o rádio é ainda o principal instrumento de uso por parte dos que têm o poder político e/ou econômico em nosso país. Se formos investigar e descobrir onde estão as concessões de rádio e quem domina este meio de comunicação, teremos nas mãos a verdade sobre a face dos interesses que permeiam a relação rádio x ouvinte. Nos mais afastados locais do país, ainda é o rádio quem comanda a comunicação e é utilizado pelas classes dominantes locais para se perpetuarem no poder. O grande problema é que este processo é desprezado pelos que empunham a bandeira da democratização das comunicações. É triste ver que os movimentos de democratização da mídia desprezam uma análise mais concreta do papel do rádio no processo comunicativo.
O rádio precisa de pessoas que empreendam uma luta por um processo democrático, honesto e verdadeiro, que busquem a valorização dos que estão direta ou indiretamente envolvidos na certeza de que a democracia da mídia começa por um processo de valorização de todos os meios de comunicação de modo indistinto e coerente. Não podemos aceitar que cursos de Jornalismo desprezem este meio e o coloquem apenas como uma disciplina a mais no currículo dos cursos. É preciso formar jornalistas para o rádio que lutem para que as programações obedeçam a regras de uma informação democrática, verdadeira e respeitosa para com os ouvintes. É preciso desenvolver um processo de luta por uma programação de qualidade com programas produzidos, organizados e feitos por quem é verdadeiramente do ramo.
Comunicação sadia e verdadeira
O radialista precisa se organizar urgentemente para exigir que o papel de concessão pública que o rádio é tenha realmente sentido na sua prática e na sua missão. É deveras importante que os profissionais de rádio não aceitem as regras do poder que lhes são impostas em meio aos interesses que permeiam a comunicação. Não podemos aceitar que os meios de comunicação atendam apenas aos interesses dos grupos de poder, e nunca do povo em geral. Na democracia não há lugar para um rádio atrelado aos interesses dos poderosos. O rádio que o povo quer é essencialmente democrático e voltado para os seus problemas imediatos. Precisamos de um rádio que tenha a língua do povo, em que os programas, além de entretenimento, divulguem também cidadania, respeito, solidariedade e valores éticos.
É urgente que os grupos de poder que dominam os meios de comunicação sejam descobertos e expostos perante a sociedade para que a mesma compreenda o processo ideológico subjacente às programações. É comum nos meios de comunicação fechar espaços aos que criticam e questionam o poder. Não estamos numa ditadura militar, e sim numa ditadura econômica, onde quem pode manda e quem não pode se resigna e fica calado.
Não podemos aceitar a passividade de alguns e precisamos urgentemente lutar para que a comunicação seja realmente democrática e que nosso povo seja ouvido, respeitado e satisfeito em seus pleitos mais urgentes. O poder jamais vai conseguir suplantar a organização do povo, que tem seus problemas mas ainda é o melhor remédio para a construção de uma sociedade realmente justa e boa para todos, independente de classe, posição e preferência. Os que fazem comunicação precisam estudar, debater e questionar o rádio que temos para que a luta por sua melhoria alcance a todos e promova uma comunicação sadia, verdadeira e baseada nos ideais puros de nossa sociedade.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE