Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Osvaldo Martins

‘A TV Cultura tem feito um enorme esforço para conquistar o seu espaço na preferência do público. Não é fácil. Disputa audiência nas classes sócio-econômicas C e D com as demais emissoras de sinal aberto e, nos segmentos A e B, enfrenta também as TVs a cabo. Procura firmar-se, via propaganda, como alternativa de qualidade, e por isso não pode dar passo em falso. Cada programa que põe no ar assume o compromisso de apresentar o diferencial prometido, sob pena não conquistar novos públicos e ainda ser acusada de fazer propaganda enganosa.

Qualidade, na tela da Cultura, envolve tantos atributos que a ausência de um deles pode ser suficiente para comprometer o todo. No caso do jornalismo, único tema do nosso interesse neste espaço, o quesito qualidade diz respeito antes de tudo à boa informação. Sem ela não há bom jornalismo e sem ele não há o diferencial prometido.

Há momentos em que a informação boa é a conseguida com exclusividade a respeito de um assunto relevante – como o furo do Jornal da Cultura com imagens da saída dos Maluf da cadeia. Em casos como esse não se exige qualidade técnica apurada, nem mesmo texto brilhante. O fato vale por si mesmo, pelo feito da cobertura, pelo ineditismo das imagens. Se jornalismo em televisão fosse sempre assim (o que é impossível), não precisaria de mais nada.

Mas o jornalismo em televisão não vive apenas do chamado ‘esforço de reportagem’. Ele vive também dos programas jornalísticos, diários ou semanais, igualmente úteis e necessários para ampliar o conhecimento do público sobre os temas que formam o nosso cotidiano. Para esses programas, preparados com antecedência, a exigência de qualidade é maior.

Pois a Cultura acaba de estrear dois novos programas jornalísticos que oferecem exemplos diferentes de concepção, de planejamento e de apuro – com resultados de qualidade igualmente diferentes. Um, o Planeta Cidade, é semanal (sexta-feira, 22 horas), e o outro, Opinião Nacional, é diário (segunda a sexta, 12h30). O primeiro, conduzido pelo jornalista César Giobbi e realizado em produtora independente, impressiona de imediato pela qualidade das imagens. Mais que isso: exibe enorme bom gosto em todo o visual e inova a linguagem jornalística, tornando-a inteligente e agradável. Bom exemplo disso foi a entrevista com a senadora Heloísa Helena, a melhor e mais interessante que ela já deu a uma televisão.

O segundo exemplo, o Opinião Nacional, tem a vantagem de contar com um entrevistador com o talento e a experiência do jornalista Alexandre Machado, um dos mais respeitados do país. Isso garante qualidade aos conteúdos, mas não é suficiente para quem quer conquistar novos públicos. Falta uma concepção televisiva minimamente atraente e, por que não, inovadora. Imprensado contra a parede, que aliás exibe mapas do estado de São Paulo (?), Machado parece confinado a um canto de estúdio, enquanto seus entrevistados ocupam as tradicionais poltroninhas de sempre.

Noves fora o fato de que o Planeta é semanal e o Opinião diário, o que importa é aquilo que aparece na tela. O primeiro, moderno, arejado, sedutor. O segundo, antigo, enclausurado, desnecessariamente sombrio. Qual dos dois tem mais chance de conquistar o telespectador, esse ser todo-poderoso quando põe o dedo no botão channel do seu controle remoto?’