Na obra, o operário grita (a) para outro, talvez operário, talvez superior hierárquico. Pode ser que o João venha, pode ser o serrote. De qualquer maneira, o dito do João foi suficientemente relevante para ser propagado, redito pelo operário gritante.
(a) O João disse que vem.
O que diz dizer que alguém disse? Suponha-se que João estivesse se referindo a si mesmo. Assim, (a) não confirma o fato futuro, algo difícil de qualquer forma. O operário utiliza a autoridade de João como fonte ou referência de conhecimento acerca do João. A escolha se revela muito bem-sucedida, ou pelo menos, prudente. Geralmente, qualquer que seja o X, X é considerado a melhor fonte de conhecimento acerca de X. No caso de X ser humano, nem sempre o dito por X corresponde à melhor expressão do conhecimento acerca de X. Mas será, sem dúvida, adicionado ao contexto, um indício.
Se João se referira ao serrote, o mesmo não faz diretamente o operário. Ao evocar a autoridade de João, o operário exime-se do revés de a previsão não se confirmar. ‘Acreditai que o serrote virá, porque eu vos digo que João assim disse.’ Mas, se o serrote não vier, culpe-se a leviandade do João, que se expressou como se fora possível prever, com precisão, a posição futura da ferramenta.
Comunicação perversa
No contexto da ciranda simbólica, a principal função da linguagem não é permitir falar acerca das coisas, mas do que se fala. O sentido comportamentalista da árvore não é a árvore platônica, ou o conceito que emerge das características comuns aos integrantes do conjunto de todas as árvores. O sentido comportamentalista da árvore é o somatório dos empregos, até então, desta palavra e das suas ancestrais.
A fala (a) afirma João ter empenhado um futuro, devendo ser responsabilizado caso a previsão não se realize. O serrote virá ou não virá e a tautologia é o máximo de conhecimento acessível acerca das coisas. Mas atribuir publicamente ao João, ausente, responsabilidade sobre um cenário futuro, apenas provável, é o resultado contingente da perversa comunicação do operário.
Imagine-se, então, o estrago capaz de fazer um jornalista.
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Filósofo, linguista computacional e programador pleno