Quarta-feira da semana passada, o craque Robinho viveu um dia de cão. Não, não teve relação alguma com a forte marcação dos adversários – situação que se repete a cada jogo do Santos Futebol Clube. Nos gramados, até que o atacante santista tem conseguido driblar qualquer tentativa dos zagueiros de atingi-lo por trás, covardemente. Mas, fora dele, o craque tem sido atacado, sistematicamente, por alguns integrantes da Rádio Jovem Pan, de São Paulo.
As ofensas feitas na semana passada ao jogador por Flávio Prado, Nilson César e Rogério Assis mobilizaram vários sítios na internet ligados à torcida do Santos. Houve uma revolta geral. Milhares de mensagens foram enviadas à redação da JP. No sábado (7), na partida contra o Atlético-PR, na Vila Belmiro, foram estampados faixas e cartazes repudiando os ataques sofridos por Robinho. Antes de qualquer coisa é bom que se diga que torço pelo Santos e, como todo brasileiro, paro para ver Robinho jogar.
O Portal Santista Roxo , que tem cerca de 10 mil acessos diários, viu o número de visitas dobrar na quinta-feira (5), dia em que o assunto foi tratado pelos torcedores. A ONG Santos Vivo divulgou manifesto em sua página na internet e ainda o distribuiu a cerca de 120 mil filiados por meio de correio eletrônico. O site Fanático Santista também publicou manifesto.
Tudo começou na quarta-feira (4), no programa Jornal dos Esportes, da Pan, quando a mesa de debatedores discutia as chances do Santos no Campeonato Brasileiro-2005, caso Robinho se transferisse para a Europa no segundo semestre. Pareceu coisa combinada. Bastou surgir o nome do ídolo para que o ‘trio de comentaristas’ passasse a desancá-lo, sem motivo algum.
As críticas intoleráveis começaram com o narrador Nilson César, que simplesmente pôs Robinho no chão com sua análise rasteira. Ele não se limitou a avaliar somente a qualidade do futebol do atacante. Usou argumentos baixos e raivosos (pelo tom de voz, certamente, qualquer um percebeu o grau de ódio ali embutido) para atacar a suposta falta de cultura de Robinho. Como se Pelé, por exemplo, fosse intelectual de mão-cheia, de chuteiras nos pés. Quem conhece o craque sabe que Robinho se caracteriza por ser um atleta simpático e humilde.
Nos bancos das faculdades
César afirmou, repetidas vezes, que o jogador teria que ser vendido imediatamente para que ‘sua máscara fosse derrubada’. Meu Deus! Em tom irônico, afirmou, com todas as letras, que Robinho precisa sair logo do país para ‘tomar um banho de cultura’. Disse que o jogador está seduzido pelo sucesso, como se ao craque fosse proibido sorrir, brincar e vestir-se um pouco melhor. Os comentários ofensivos do narrador foram interrompidos por Prado, que deu seqüência ao massacre verbal.
No caso de Prado, há explicação. Robinho teria deixado de participar do programa Mesa Redonda, que ele apresenta na TV Gazeta ao lado de Chico Lang, colunista do sítio Gazeta Esportiva . O jogador já tinha sido vítima de ataques ferozes do comentarista da JP. Dessa vez, as declarações despropositadas não se limitaram somente ao suposto comportamento do jogador, como também à sua presumível ‘falta de cultura’.
As palavras ditas por Prado a respeito de Robinho mereciam ser gravadas e, posteriormente, divulgadas nos bancos das faculdades de Jornalismo. Um exemplo de que não se deve usar a profissão para vingar-se deste ou daquele desafeto, sob pena de estar praticando antijornalismo.
‘Calma de espírito’
O segundo narrador da Jovem Pan, Rogério Assis, também atacou Robinho. Declarou que o jogador tem que parar de se achar o ‘melhor jogador do mundo’. Coisa absurda. Robinho nunca deixou transparecer essa soberba. De duas, uma: ou Assis tem o dom da clarividência por conhecer o pensamento do craque ou deu essa declaração somente para não ficar fora da discussão. Como se sabe, no rádio, quem não se comunica acaba sendo demitido por ‘inanição vocabular’.
Ao mesmo tempo em que os três empregados da JP faziam declarações perversas contra Robinho, a TV Globo divulgava a terceira de uma série de reportagens sobre o atacante. Ao contrário da rádio paulista, a Globo mostrou que Robinho é um exemplo de jogador e um ser humano cujo semblante, sem máscara, exprime alegria. Um ídolo da garotada em todo o Brasil. Na reportagem exibida terça-feira (3/5), por exemplo, a emissora distinguiu o carisma de Robinho. Ele é adorado de Norte a Sul. Virou mania nacional, apontou a Globo.
Por falar na emissora carioca, o comentarista Sérgio Noronha fez rasgados elogios ao comportamento vistoso de Robinho, o que põe em dúvida qualquer juízo de que o atleta ‘anda mascarado’ e que ‘precisa ter suas atitudes freadas’. Dia desses, no programa Redação Sportv, apresentado por Luís Roberto, Noronha se disse impressionado com a ‘calma de espírito’ do santista.
Xodó da torcida
Declarou-se admirado por ver Robinho com ‘um largo sorriso no rosto’, justo ele que tinha passado por vários momentos de turbulência em sua vida, como o seqüestro da mãe, as informações e contra-informações sobre sua transferência para o exterior, além da disputa por uma vaga de titular na Seleção Brasileira. Os demais integrantes do programa concordaram com Noronha.
Diante disso, percebe-se que os insultos lançados pelo trio da JP não foram motivados por uma questão pontual – como, por exemplo, um gesto ou atitude do garoto que merecesse tamanha dose de ira. Flávio Prado, Nilson César e Rogério Assis, infelizmente, serviram-se da emissora – que paga seus salários, pelo que sei, religiosamente em dia – para ir à forra sobre fatos que ninguém consegue enxergar.
A Jovem Pan, que conquistou a audiência de milhões de ouvintes, não merecia ser usada dessa forma por seus funcionários. E justo para atacar, de forma vil, o maior xodó da torcida brasileira, cuja única máscara que molda seu rosto é a de um menino descolado, humilde e brincalhão. Nada mais que isso.
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Jornalista em Brasília