É impossível ficar indiferente ao símbolo. O papa simboliza. Seja ele feio ou bonito, magro ou gordo, carismático ou ‘fechadão’, sua presença fanatiza os fanáticos e incomoda quem dele discorda. O papa, antes e depois de sua visita ao Brasil, ocupou capas de revista, primeiras páginas, foi manchete, tema, notícia, alvo.
Motivo de piadas – alguns disseram que a forte gripe que andou massacrando na capital de São Paulo chamava-se ‘Gripe Bento 16’ porque não faz concessões… –, assunto para colunistas e editorialistas, o papa foi bajulado, desprezado, amado, odiado, aplaudido e xingado.
Leonardo Boff recontou a história do silêncio que Ratzinger lhe impôs. Clóvis Rossi perguntou o que o papa quer que façamos, se capitalismo e marxismo estão condenados. Contardo Calligaris considerou a visita um desperdício, uma vez que o papa não demonstrou carregar a inquietação fundamental dos que estão em busca.
Na periferia de São Paulo, ouvi pessoas brincando com o nome do papa. Quem esteve aí? Cento e dezesseis? Vento 16? Ex-católicos, hoje evangélicos, ficaram perplexos consigo mesmos, lembrando o quanto fazia parte de seu antigo ideário amar um homem definido como sucessor do apóstolo Pedro.
Indignação, hipocrisia e tietagem
O papa impressionou pelo domínio da língua portuguesa. Seu sotaque é quase imperceptível. Talvez tenha superado João Paulo II neste aspecto lingüístico.
Ainda por alguns dias a imagem do papa vai ressurgir. Está ‘rolando’ pela internet uma foto em que a primeira-dama Dona Marisa Letícia parece beijar a própria mão em vez de beijar o anel do pontífice. Sites dos movimentos católicos mais proselitistas recolhem frases e discursos do papa, tentando abafar a ‘condenação’ de Bento XVI à procura insidiosa de membros, como ocorre com o Opus Dei e entidades similares dentro da Igreja.
Fico imaginando se os traficantes entenderam a ameaça do papa. Terão eles que prestar contas a Deus? É possível que alguns pensem que essa advertência deveria ser dirigida a mais gente – políticos, por exemplo.
O papa simboliza o dogma. Mesmo que não se saiba exatamente que dogma é esse, vemos adesões pela fé e repúdios categóricos. Tudo muito simplista, como simplista acabará sendo este meu comentário.
E o papa vai em frente. Sabe que o símbolo se impõe. A indignação de uns, a hipocrisia de outros, a tietagem de grupos católicos, a admiração velada de alguém, tudo isso reforça o símbolo. O papa saiu fortalecido.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br