Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Papel de jornalista está distorcido

Notícia do portal Globo.com, de quarta-feira (12/4): ‘Gisele Bündchen e Naomi Campbell choram morte de amigo’ [coluna Ego]. Como assim? Isso é jornalismo? Para quem?

Às vezes fico estática com o que leio na mídia, pessoas tripudiando em cima da vida pessoal das outras, de suas frustrações amorosas, de seus sentimentos. Que coisa mais boçal, mais antiética…

Como uma pessoa estuda quatro anos e, depois de tanto esforço, se submete a falar da vida alheia, a cobrir enterros para mostrar ao ‘público’ que famosos também choram? Para mostrar que eles se emocionam quando um amigo fatalmente morre? Que espetacular! Realmente essa é uma notícia de extrema importância. A pessoa que escreveu essa reportagem deveria ser premiada com a ‘Reportagem de Maior Relevância Social’.

Informar, mostrar a realidade

O pior de tudo é que isso só acontece porque esse tipo de notícia tem milhares de acessos todos os dias, o que faz esses pobres alienados acreditarem, eles próprios, que estão com tudo, que realmente fazem um bom trabalho. Fofocar virou trabalho?

O papel do jornalista na sociedade está muito distorcido e – o pior – até pela própria categoria. Jornalista não se forma jornalista para falar da vida alheia, até porque isso qualquer um pode fazer. A pessoal estuda tudo que estuda para ter um papel na sociedade: informar, mostrar a realidade, saber ver os dois lados. Enfim, o jornalista pode ser um grande aliado da opinião pública, pois pode, com ética, abrir os olhos da população para diversos acontecimentos que, às vezes, não são vistos como deveriam.

A roupa brega da fulana

Mas, não. Enquanto meia dúzia ainda tem sua base sustentada na ética e respeito à profissão, milhares de outros ficam atentos a quem começa ou termina o namoro, a quem engravida ou tira o bebê, a quem viaja ou cai em depressão.

Jornalistas? Não! Ótimos fofoqueiros, daqueles que poderiam ficar na rua mesmo, na porta de casa, olhando a filha do vizinho que está com uma barriguinha mais saliente, ou aquele rapazinho que ultimamente está estranho – drogado, será?

Não sei nada, ou talvez quase nada. O que sei é que vou me formar numa profissão digna, que tem um papel de extrema importância na sociedade e que vem com o passar dos anos tendo seu nome jogado na lama.

Mas não importa: serei ética, serei honesta com milhares de pessoas que vão ler meus textos, ouvir minha voz, ou me ver na tela da televisão. Não importa o meio – farei a minha parte. Não estou estudando de graça, nem que estivesse; o tempo é muito valioso para ser jogado numa nota sobre a roupa brega da fulana na festinha de estréia da novela das oito.

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Estudante do segundo ano de Jornalismo, São Paulo, SP