Saturday, 07 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1304

Para lamentar e para aplaudir

Sempre fui um crítico, um tanto ácido, da Igreja Católica Apostólica Romana. Escrevi sobre a comercialização dos ensinamentos de Deus, sobre o trabalho do padre Marcelo Rossi em anunciar mais ágape do que Jesus no seu programa de rádio, sobre as Cruzadas sanguinárias, a guerra-nada-santa de hoje contra a camisinha, a omissão do Vaticano ante os crimes dos padres pedófilos e o cinismo em não admitir a homossexualidade dos seus cânones. Contudo, existem exemplos fantásticos saídos das sacristias, e meu amigo Tadeu Menezes me mandou um maravilhoso.

Não vou falar de Santo Agostinho, São Francisco de Assis, ‘Padim Pade Ciço’, Irmã Dulce ou Madre Tereza de Calcutá. Falarei de Dom Manuel Edmilson da Cruz, bispo de Limoeiro do Norte, no Ceará. O cidadão de Fortaleza mostrou-se um ‘cabra macho’ e recusou a ‘Comenda de Direitos Humanos Dom Helder Câmara’, outorgada a ele pelo Senado Federal. A recusa foi feita como um ato de protesto ao aumento de 60% dos salários dos parlamentares, votado no final de 2010. O discurso do bispo derrubou do cavalo os ‘nobres’ senadores.

Dom Manuel mostrou-se surpreso com a indicação, agradeceu a todos pela lembrança e disse estar ali porque o Congresso Nacional merece respeito. Depois começou a protestar. Falou do desrespeito aos aposentados. Lembrou que o salário mínimo cresce como lesma e alfinetou o aumento dos salários dos parlamentares: ‘Quem assim procedeu, não é parlamentar, é para lamentar.’ Não contente, ainda disparou: ‘A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior, que foi Dom Helder Câmara.’ E depois sacramentou: ‘Só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, ao contribuinte, para o bem de todos com o suor no seu rosto e a dignidade no seu trabalho.’

Aplausos de pé e que Deus o abençoe

A atitude desse senhor de 86 anos ganhou rapidamente a internet e revigorou a minha fé nos homens. Ainda existem pessoas éticas o suficiente para se expor e enfrentar a canalhice desses ‘pralamentares’ que fazem de Brasília um ilha que fabrica a sua própria lei, como dizia o Herbert Viana.

O senador Papaléo Paes, do PSDB do Amapá, achou grosseira a atitude de Dom Manuel. Contudo, confesso que a última vez que vibrei com um vídeo com político, foi em Tropa de Elite 2. A cena do coronel Nascimento tirando o vereador corrupto do carro e dando-lhe uma boa surra foi fenomenal e a plateia, no cinema em Aracaju, vibrou como se estivesse num jogo de futebol.

Enfim, surgiu uma voz enfática na mídia, em plena TV Senado, para criticar o ‘maucaratismo’ dos nossos ‘nobres’ políticos, no final de 2010. Parabéns a Dom Manuel Edmilson da Cruz. Ganhou a admiração dos brasileiros por ser um humano direito e não aceitar a comenda de direitos humanos, advinda dos lamentáveis parlamentares brasileiros. Para ele, aplausos de pé e que Deus o abençoe.

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Analista de marketing, Salvador, BA