Em parte, após o Observatório da Imprensa começar, em suas análises, a mostrar que a realidade do Rio não era compatível com a da mídia, o comportamento desta mudou. Escândalos de todos os tipos são noticiados pelos mais diversos canais. O único veículo que ainda não aderiu totalmente, pois continua apresentando matérias tendenciosas, como uma pseudo-diminuição da violência em contraste com matérias sobre pessoas desaparecidas em ações policiais ou do tráfico, está dando a impressão que subiu no muro, tanto que os articulistas que “vendiam” uma imagem chapa branca entraram em recesso. Aliás, quais são os critérios que norteiam a escolha desse pessoal, que escreve coisas lindas, mas age de forma totalmente oposta às ideias expostas no papel?
Já atravessamos meio século de incúria administrativa e a sociedade do Rio ainda não percebeu por que elege seus representantes, ano após ano, e a situação não muda. E nem vai mudar porque as “maracutaias” estão tão enraizadas que “parecem” que são legais. Por exemplo, no episódio da operação Castelo de Areia da polícia federal, em que os “interlocutores” gravados só falavam na divisão de uma fortuna, os policiais quebravam a cabeça e não descobriam de onde ela vinha. Até que alguém se lembrou de olhar os preços sugeridos pelo governo nas licitações e descobriram que eles estavam inflados em até 500%. O descalabro foi descoberto, mas, e as planilhas, já foram elas corrigidas? Silêncio total. Só para comparar, na China foi inaugurada no dia 30/6/11 uma ponte construída no mar da Baía de Jiaozhou, com mais de cinco mil pilares oceânicos e 36,48 quilômetros de extensão, a maior do mundo, após quatro anos de trabalho e que custou 14,8 bilhões de yuans (cerca de R$ 3,6 bilhões). O Maracanã até a Copa terá gasto mais da metade disso só em reformas consecutivas nos últimos quinze anos…
Uma caixa de ressonância calada
Incrível isso, não? Estamos às vésperas de investir bilhões em infraestrutura, que logicamente terão que ser pagos pelos contribuintes (nós) e, por exemplo, um estádio em SP que ia exigir um gasto de R$ 1 bilhão, será construído por R$ 700 milhões, com o detalhe de que a empresa que vai executar a obra trabalhará associada à outra mais careira e não se fala mais no assunto. Que tal? Existe conchavo mais descarado?
A obra-prima de Maquiavel, O Príncipe, ensinava que para governar é necessário dividir. Mas, isto é um conceito de 1513, criado para perpetuar uma administração corrupta onde “os fins justificavam os meios”, denotando que não importa o que o governante faça em seus domínios, desde que seja para manter-se como autoridade. Transparência então nem pensar! E o Rio está dividido como nunca esteve, porque “aonde falta o pão ninguém tem razão”, como diz o ditado. Não é a toa que mesmo situado no Sul Maravilha ostentam-se índices localizados de qualidade de vida pior dos que os do Nordeste mais miserável. Os salários são os mais baixos e as perspectivas de mudanças são nulas porque a arrecadação não aumenta, porque não há qualidade de vida para atrair novos negócios e isto estimula um quadro no qual se investe cada vez mais em segurança inviabilizando um futuro digno e com qualidade de vida.
Só que após a crise mundial de 2007/9 ficou claro a importância de uma política pública de resultados e que aqui no Rio só será implantada por pressão da sociedade unida por uma vontade de aproveitar a chance única que está aí e que estamos fazendo de tudo para desperdiçar. Sociedade, onde está você? Nem Maquiavel criaria um cenário de tão perfeita desunião que fundamentasse o que hoje ocorre no Rio.
Por que o Rio sempre foi a caixa de ressonância do Brasil e agora está estranhamente calado? Quer perder uma oportunidade única de se reinventar como outras regiões que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos e que deram a volta por cima e hoje ostentam uma qualidade de vida espetacular? O que você, cidadão, acha disso?
Turismo como instrumento de transformação
Por que a chance é única? Parodiando um ex-presidente, nunca houve em lugar nenhum do mundo a oportunidade de se fazer simultaneamente Copa e Olimpíada, que são indutores da modernização da mobilidade urbana visando o desenvolvimento da indústria, que traz o maior retorno que é exatamente o turismo, ao mesmo tempo em que se fará a revitalização da área portuária do RJ, razão da existência da cidade e que historicamente, em todos os lugares onde isso foi feito, a motivação sempre procedida de sucesso foi também incrementar esta atividade. E o que você está vendo nesse sentido? Nada. Vamos ficar olhando idiotamente a perda desta oportunidade ou vamos reagir e fazer valer a nossa vontade?
Qual foi o segredo do sucesso em outros lugares? A união de toda a sociedade para conquistar aumento da renda per capita através de uma política pública de resultados. Claro que essa união também acompanhará de perto o que está sendo feito para fazer as correções de rota necessárias. Por muito menos, o Rio produziu manifestações públicas que se encerravam por falta de conteúdo. E agora, vamos perder o ensejo de reinventarmos o Rio de forma exemplar?
Acorda, Rio, porque há um master plan que une toda a sociedade com propostas claras para o curto, médio e longo prazos, ancoradas na sua vocação natural, que levará desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental a todo o Rio, subúrbios, periferia, arredores e interior do estado, onde as pessoas enxergarão um futuro no qual elas estarão inseridas com qualidade de vida, numa situação que desde que vigiada democraticamente se eternizará.
Esses movimentos grevistas que estamos testemunhando, estão reivindicando com toda razão aumentos salariais e serão contestados por planilhas mostrando que não há de onde tirar esses aumentos. Acontecerá o de sempre com greves prolongadas e todos os lados perdendo. Chegou a hora de aplicar o velho ditado que prega que só a união faz a força e esses movimentos se unirem com a sociedade para aprovarem um master plan crível que desenvolva uma política pública de resultados, que beneficie a todos aproveitando o momento em que estamos vivendo e que, se for bem conduzido, levará o Rio à vanguarda mundial em todos os sentidos em curto e médio prazos. Como aconteceu em todos os lugares onde o turismo foi utilizado como instrumento de transformação, com total sucesso.
A realidade é completamente diferente
Democracia não é só votar, até porque aqui isto é obrigatório. Os candidatos não apresentam propostas plausíveis, o que é injustificável já que a situação está complicadíssima por causa da falência total dos serviços públicos e privados. É da maior importância que os candidatos apresentem ideias críveis. Senão vamos eleger alguém e ele fará o que? Mais do mesmo?
Até quando a população terá que se submeter à teoria de um alcaide que se reelegeu consecutivamente para a nossa vergonha dizendo que o eleitor tem memória curta, baseando suas propostas eleitoreiras em pesquisas de opinião pública onde prometia e não cumpria, mas, se reelegia? Com uma sociedade participativa isto não acontece; como vemos nas economias mais desenvolvidas pelo mundo. E por que lá é assim e aqui não?
Já que os candidatos não têm plataforma, cabe à sociedade se unir e apresentá-la. Senão os descalabros irão se perpetuar, como as isenções fiscais que são aplicadas por uma lei “sem noção”, que tem de ser revista, pois só nos últimos quatro anos desfalcaram o erário em R$ 50 bilhões (mais da metade do que foi arrecadado). Suas aplicações são suspeitíssimas e envolvem empresas diversas como “saunas” (na verdade “supostos” prostíbulos), cabeleireiros e até empresas bilionárias que mantém vínculos inadmissíveis com o poder público. Sem falar das obras públicas emergenciais feitas pela mesma empresa tanto no estado quanto no município que ainda tem tentáculos na Cedae.
A Light, por exemplo, obteve isenções e diferimentos (prazo ampliado para o pagamento de impostos) que, somados, chegam a mais de R$ 522 milhões e, agradecida, lançou a moda dos bueiros explosivos. Não é espetacular? Por mera coincidência é ela que financia um instituto e um mecanismo de pesquisa que insiste em dizer ou que a situação melhorou ou que o Rio “agora vai”. Será que esta promiscuidade não impede que outros projetos de relevância sejam mais bem avaliados, já que pela ótica que é divulgada para a opinião pública a situação do Rio está mudando, quando a realidade é outra completamente diferente?
Como reverter o abismo social?
Isso me lembra que há pouco tempo o ex-ministro Palocci foi almoçar num restaurante e as pessoas se indignaram e ele teve que se retirar. Será que vale a pena passar por constrangimentos como esse?
Se pararmos para pensar que o brasileiro trabalha incríveis quatro meses e 29 dias (IBPT) só para pagar seus impostos, por que essas isenções e facilidades com critérios ambíguos para ricos empresários amigos do poder e que ainda por cima se voltam contra a coletividade? A participação da sociedade é fundamental para reverter democraticamente situações como estas que prejudicam a todos e outras “maracutaias” que a mídia ainda não expôs.
No caso do Rio, que é absurdamente necessário aumentar a renda per capita, desenvolver qualidade de vida numa economia arrasada, recuperar esses impostos é fundamental. Temos de restaurar também a livre concorrência, pois se houver um pacto pelo crescimento econômico todos só têm a ganhar e a velocidade das transformações será absurdamente maior, porque passará a haver mercado para todos. Como na Espanha, que através do Pacto de Moncloa, passou de 25ª economia do mundo para oitava em pouco mais de uma década. O preço da nossa liberdade é a eterna vigilância para que os problemas como esses sejam resolvidos e não maquiados. Uma mídia isenta tem fundamental importância para que isso aconteça. Não é à toa que graças à letargia que envolve a opinião pública o Brasil ostente o maior crescimento mundial de milionários, em dólar, evidentemente, com 5,9% em 2010.
Estudo mostrou que no Reino Unido o 0,1% mais bem pago da população recebia, em 1979, 1,3% dos salários. Hoje, recebe 5% e, em 2030, deve receber 14%. A este fenômeno se deu o nome de concentração de renda. Se este estudo fosse aplicado aqui qual seria o resultado? Como reverter o abismo social que levou o Rio ao epíteto de “Cidade Partida”?
Porto Maravilha está ficando surreal
Esta prefeitura está há dois anos e meio no comando e até agora não definiu o que fará, mesmo tendo uma oportunidade única de se reinventar. Agora promoveu um seminário “Rio – Londres; um legado olímpico” para discutir um intercâmbio entre as duas cidades sedes. É aterrador que até agora ela não tenha entendido ou aceitado a triste realidade do RJ, que só nas últimas semanas vivenciou um entrevero entre policiais e traficantes que culminou com granadas artesanais que amputaram a perna de um PM, que está correndo risco de vida. Onde bueiros explodem e bairros ficam sem luz, sem falar dos outros problemas decorrentes da falência total dos serviços públicos e privados. Os guetos de miséria em Londres, além de serem completamente diferentes (imagine se um traficante jogasse uma granada num Bob (policial inglês) que anda desarmado), até pelas condições climáticas, sobrevivem em outra realidade socioeconômica em que o desempregado inglês ganha um salário desemprego em libras, sem prazo, até arrumar uma ocupação. Sendo que em função disso os bares londrinos são obrigados a fechar às 23 horas, porque senão ele beberá até o outro dia e nada de procurar emprego. Situação esta que estão tentando mudar por causa da crise, mas são os tais direitos adquiridos que o FMI quer cortar, como está fazendo na Grécia. Se fazem isto lá, imagine o que não farão aqui no cenário pós-2016?
A realidade do Rio é bem conhecida por seus nativos, que são muito mais gabaritados para equacionar uma solução do que estrangeiros que daqui nada sabem. A realidade do Rio é que nem jabuticaba, só dá no Brasil. Por que pessoas que tem ideias interessantes, mas que brigam por elas solitariamente, não se unem a outras que querem mudanças, formando um grupo potente, para termos força e superarmos mais de 50 anos de problemas? Dessa forma, através de idéias irrefutáveis, poderemos convencer os poderes constituídos, que sempre endossam posições defendidas pela opinião pública.
O tal do Porto Maravilha agora está ficando acintosamente surreal. “Queremos que o Rio passe por uma transformação ainda maior do que a de Barcelona”, disse o prefeito Eduardo Paes. Gostaria que o alcaide explicasse como se concretizará este delírio. Por exemplo, em Barcelona todas as favelas foram demolidas e extirpadas. Aqui, depois de mais de uma década de programas como o Favela Bairro, os próprios moradores são contra o esforço sem nexo da prefeitura para alterar a denominação de favela para bairro porque mesmo com toda a maquiagem o lugar continua uma “favela” na acepção exata da palavra.
Qual o retorno do legado olímpico?
Não dá nem para iniciar um processo de comparação, porque em Barcelona há um plano diretor para toda a cidade, há mais de vinte anos, com um conceito aprovado por toda a sociedade e, principalmente, com uma atividade âncora definida de forma clara para desenvolver as atividades socioeconômicas, culturais e ambientais como realmente aconteceu. O autor do projeto de lá, o urbanista e arquiteto catalão Jordi Borjas, que veio aqui a convite várias vezes, vaticinou que aqui a revitalização da Cidade não acontecerá e na última visita foi embora aborrecido porque não enxergava possibilidades de mudanças por conta de como o processo estava sendo conduzido.
O Rio tem seriíssimos problemas socioeconômicos e esses “formuladores de políticas públicas” querem fazer uma transformação arquitetônica icônica? Baseado no que isso poderá dar certo? E nós, sabendo disso, vamos deixar?
O arquiteto ganhador veio com esta perola de declaração: “Barcelona é uma cidade totalmente pensada para os seus moradores”, defende Backheuser. “O Rio não precisa só de edifícios de qualidade, mas também de espaços públicos de qualidade.” E com os conhecidos problemas socioeconômicos, culturais e ambientais que circundam estes espaços, o que será feita com eles? Faremos como nos filmes produzidos para ganhar o direito de sediar os Jogos, quando foram discretamente excluídas quaisquer imagens que mostrassem as favelas? Num filme dá para usar este artifício e na realidade, que truque será usado?
Como esses espaços públicos revitalizarão a economia do RJ, arrasada por mais de 50 anos de delírios como esse? Qual o retorno que se espera do legado olímpico, um centro de convenções que apresenta um conceito completamente errado, tal a defasagem das ideias propostas para enfrentar uma acirrada concorrência internacional por um turista de negócios que tem o gasto mais elevado e que, por isso mesmo, exige um padrão de qualidade que jamais será encontrado na proposta atual?
Mais empregos e atividade cultural
Será que os cariocas enlouqueceram e vão ficar calados e deixar uma oportunidade como essa ser jogada no lixo por um bando de inconsequentes? É o nosso futuro que está em jogo.
Vamos aos dados. Barcelona foi pensada em curto, médio e longo prazos. A mobilidade urbana foi priorizada para induzir a atividade âncora escolhida que foi o turismo. De 90 a 95 o turismo cresceu 85%. Mas, de 95 a 2000 houve uma clara estagnação. Em 2000, com a inauguração de um Centro de Convenções Internacional (CCI), começou a haver um incremento anual de cerca de 10% ao ano até 2004. Em 2004, foi inaugurado um CCI no porto renovado, que até 2007 aumentou o número de turistas em 75% (cerca de 3,3 milhões) e a rede hoteleira se desenvolveu em quase 50%. Com o detalhe que para as Olimpíadas foram feitos somente cinco hotéis e com os CCIs mais de duzentos. Segundo o órgão econômico deles em 2007, o turismo proporcionava à economia uma injeção diária de cerca de vinte milhões de euros. Tenho que explicar que Barcelona teve no período mais de vinte milhões de visitantes, mas só 7,1 milhões foram considerados turistas, porque pagaram diárias em hotéis. Se formos contar as despesas dos visitantes este número mais do que dobraria e suas implicações responderiam por mais de 50% da economia da economia local movimentando os mais diversos setores e ainda impactando a economia de todo o país. Ela se preparou para receber um turista que tem um gasto médio muito elevado e que exige que a área ao redor da CCI se transforme em um pólo cultural, com shoppings, cinemas, boates e restaurantes. Deu para sentir a diferença?
Ou seja, se implantarmos aqui uma CCI dentro de um conceito melhor do que o de lá, e temos condições para isso, passaremos a ser vanguarda mundial do setor, em curto e médio prazos, tamanho a potencialidade do Rio. Com o nosso potencial dá para multiplicar o atual número de visitantes por trinta vezes, segundo estudo publicado, só que envolvendo toda a sociedade de forma única, atendendo ao sonho da Organização Mundial do Turismo (OMC) de customizar a atividade para atender os desejos individuais dos visitantes e ainda proporcionando a eles se enriquecerem culturalmente, ao conseguiram entender perfeitamente tudo o que farão, podendo, inclusive, se misturar em completa harmonia com a população local, o que é, aliás, o sonho de qualquer turista. Lembrem-se de que uma cidade só é boa para o visitante quando também o é para os seus moradores, que passarão a usufruir os mais elevados padrões internacionais de qualidade de vida. Se isto for democraticamente trabalhado e acompanhado pela sociedade de forma ativa, será eternizado.
O que o morador de Barcelona acha da transformação de sua cidade? Segundo pesquisa de 2007, do Ayuntamento de Barcelona, 90,2% de seus habitantes concordam que a atividade turística é a que traz melhores benefícios para a cidade porque aporta muito dinheiro para a economia (80,5%), porque cria empregos (76,6%) e porque beneficia e incrementa a atividade cultural (75,8%). Que tal?
Uma prioridade de forma transparente
Aqui, além do setor não estar interessado em mudanças, conforme o próprio Paes já declarou (em Barcelona também não estava, mas a sociedade agiu e todos aderiram), os idealizadores do Riocentro não explicaram por que até hoje esse investimento público não dá retorno. O centro de convenções da Cidade Nova é acintoso: projeto errado do IPP, o espaço destinado a um hotel foi cedido irregularmente para uma empresa estabelecer seus escritórios particulares, enfim, desperdício total.
Nós deixarmos o legado olímpico ser outro erro é demais. Em função de uma CCI planejada a Cidade pode se reinventar em curto prazo e nas Olimpíadas já viria a ser a vanguarda mundial do setor. Entrementes, a ausência de um plano diretor poderá nos custar o futuro. Hoje o grande fator gerador de empregos é a construção civil voltada para os eventos midiáticos, a especulação imobiliária que na Barra fará “30 anos em cinco” e a revitalização portuária. Só que após os jogos tudo isto cessará e aí? Haverá uma oferta maior do que a demanda. O que acontecerá com os empregos e a arrecadação? Barcelona reinventada atraiu o setor internacional de serviços, provocando a evolução contínua do setor imobiliário e da construção civil, que são os dois eixos sobre os quais se sustenta sua atual situação econômica. Apesar da redução em 42% do número de habitações iniciadas por causa da crise atual, o ajuste do setor está sendo menos traumático do que em outras partes da Espanha por três razões: as prestações das hipotecas continuam sendo pagas pelo turismo, as obras de reforma cresceram 37,2% de m² a mais que em 2007 e ainda existem numerosos projetos de infraestrutura em execução (plano diretor de longo prazo).
Aqui, com um plano diretor, poderemos fazer como Barcelona e ainda explorar a indústria criativa, que tem potencial para definir produtos com marca Made in Brasil, desenvolver um mercado interno forte com uma industrialização que a China não nos tomará. É um mercado com potencial para dezenas de bilhões de dólares e milhões de empregos de qualidade nos mais diversos setores.
Já que a prefeitura está carente de um rumo que satisfaça a opinião pública que quer mudanças com resultados claros, vamos nos unir e democraticamente exigir que a revitalização socioeconômica, cultural e ambiental do Rio seja priorizada de forma transparente, permitindo que toda a sociedade se sinta inserida num futuro com qualidade de vida, e acompanhar tal transformação para que ela se eternize.
Vamos reinventar com qualidade de vida
O que queremos é um master plan que priorize nossa vocação natural, com o desenvolvimento de uma política pública com metas de curto, médio e longo prazos voltadas para um desenvolvimento da atividade turística que irá movimentar toda a sociedade simultaneamente, gerando inicial e comprovadamente dois milhões de novos empregos, um aumento da arrecadação de bilhões de dólares, o que permitirá a renovação total da infraestrutura para permitir o incremento cada vez maior da atividade, orientado para que a qualidade de vida chegue a todos os bairros, reinstalando toda uma indústria periférica à atividade, levando o Rio à vanguarda mundial do setor nos mais variados aspectos, aumentando a permanência e o gasto médio, permitindo que todos possam retirar direta ou indiretamente da atividade o seu sustento.
Paralelamente, será iniciado um programa de conscientização cidadã, mostrando aos jovens nas escolas e universidades, nas diferentes faixas etárias, as suas possibilidades atuais e futuras dentro da indústria do turismo, que são inúmeras, porque ela é a única indústria do mundo que movimenta todos os setores da sociedade simultaneamente. Desta forma, ele entenderá e repassará o que aprendeu a seus familiares, acelerando espantosamente as transformações. Explicando e mostrando na prática que quanto maior for a sua participação, maior será a transformação, porque uma cidade só é boa para o turista quando é boa também para o morador.
Hoje, a prefeitura recupera um bem cultural e horas depois ele já está quebrado e pichado, porque o cidadão enxerga a cidade como agressiva para ele. Se gasta muito dinheiro em manutenção quando se pode fazer uma vez só e a comunidade cuidar simplesmente porque se orgulha da sua história, além de ser consciente de que isto lhe traz todo o tipo de retorno. É importante destacar aos jovens o poder de transformação que o turismo trará com obras infraestruturais que melhorarão a qualidade de vida no dia a dia e a capacidade de trabalho com salários dignos.
Unidos poderemos cobrar do governo o que queremos e ver as transformações exigidas acontecendo rapidamente. Acabar com a atual conjuntura que permite descalabros administrativos. Isto é democracia, pois teremos uma sociedade atuante e participativa, cobrando resultados claros e velozes, o que trará consequências intensas e rápidas. Ensinando aos jovens e à população em geral que uma pessoa poder fazer o que quer, dentro das inúmeras possibilidades existentes, e exercer o seu trabalho com satisfação, tendo reconhecimento de suas ações e ganhando bem, para poder consumir e definir o seu futuro com qualidade de vida eternizando essa situação de dignidade pessoal. Essas coisas não têm preço. Portanto, o que estamos esperando para nos unirmos? Acorda, Rio e vamos nos reinventar com qualidade de vida.
***
[José Paulo Grasso é engenheiro e coordenador do Acorda Rio]