Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Sotero


‘Bob Woodward, o repórter do Washington Post que cobriu o escândalo do Watergate, em 1974, entrou inesperadamente no processo sobre a revelação da identidade da agente da CIA Valerie Plame. E tudo indica que, desta vez, desempenhará papel oposto ao que lhe deu fama e fortuna três décadas atrás.


Woodward pode acabar ajudando a salvar a administração do presidente George W. Bush de uma acusação que já levou ao indiciamento e à demissão de I. Lewis Scooter Libby, chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney.


O jornalista do Post teria recebido a informação sobre Valerie antes – em meados de junho de 2003 – de uma conversa de Libby com outros jornalistas, em 23 de junho.


Isso esvazia algumas das acusações pelas quais Libby foi indiciado – por obstrução da Justiça, perjúrio e falso testemunho.


‘(O promotor Patrick) Fitzgerald agora sabe que estava errado quando disse que Scooter Libby foi o primeiro a dar essa informação aos repórteres’, disse o advogado de Libby, William Jeffress Jr.. Woodward não identificou o funcionário que lhe passou a informação no depoimento que deu a Fitzgerald.


Woodward confirmou que em meados de junho de 2003 ouviu de um funcionário que Valerie era agente da CIA e casada com o ex-embaixador Joseph Wilson, um ex-diplomata crítico da guerra do Iraque. Segundo o Post, só no mês passado Woodward informou o editor executivo do Post ,Leonard Downie Jr., sobre a conversa.


Os advogados de Karl Rove, o todo-poderoso estrategista político de Bush, também alvo do inquérito conduzido por Fitzgerald, apressou-se a esclarecer que seu cliente não foi a fonte de Woodward.’



Folha de S. Paulo / The New York Times


‘Woodward soube antes sobre espiã da CIA’, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 17/11/2005


‘O ‘Washington Post’ revelou ontem que seu conhecido repórter Bob Woodward soube por um assessor da Casa Branca que Valerie Plame era agente da CIA, um mês antes que a identidade dela fosse tornada pública, em junho de 2003.


Woodward, que pediu desculpas à direção de seu jornal por não tê-la informado sobre o episódio, foi interrogado segunda-feira pelo promotor que há dois anos investiga o caso, Patrick Fitzgerald.


O ‘Post’ informou na sua edição de ontem que Woodward contou a Fitzgerald sobre conversa que teve, em 2003, com um membro de alto escalão do governo acerca do cargo da agente Plame na CIA, praticamente um mês antes de sua identidade ser revelada. Assim, Bob Woodward, que investigou o caso Watergate, o qual acabou na renúncia do presidente Richard Nixon, nos anos 70, foi o primeiro repórter a saber da identidade de Valerie Plame por meio de alguém de dentro da Casa Branca.


A revelação feita por Bob Woodward acrescenta um novo elemento e pode complicar um caso que já provocou a renúncia de Lewis Libby, ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney.


O testemunho do jornalista do ‘Post’ também constitui uma nova fonte para as investigações do procurador Patrick Fitzgerald, e aparentemente reordena a cronologia que até agora se conhecia sobre as conversas entre jornalistas e membros do governo Bush acerca da identidade da agente Plame.


O ‘Washington Post’ e Woodward não identificaram o funcionário do governo que contou ao jornalista sobre a agente da CIA, afirmando que o funcionário permitiu a Woodward, num acordo, que ele revelasse tudo no depoimento, mas que não comentasse publicamente as conversas que tiveram. O suspeito seria Karl Rove, principal assessor político de Bush, que negou ter falado com ele sobre o assunto.


Represália


Plame é mulher do ex-embaixador Joseph Wilson, que se tornou um adversário de Bush ao provar que não tinha fundamentos o plano atribuído a Saddam Hussein de fabricar artefatos nucleares.


A revelação de que a mulher de Wilson era agente secreta da CIA teria sido uma represália, por parte de membros do governo Bush, à atitude de Wilson, dado que o presidente dos EUA utilizou o argumento de que Saddam Hussein estava tentando fabricar armas nucleares para justificar a invasão do Iraque.’



EUA / GUERRAS NA MÍDIA


Luiz Peazê


‘Os Jornais Fazem História, E A Distorcem Também’, copyright Direto da Redação (www.diretodaredacao.com), 13/11/2005


‘A política exterior dos Estados Unidos e o quanto o New York Times a distorce, são os dois enfoques do livro ‘The Record of the Paper’, de Howard Friel e Richard Falk. Através de um meticuloso estudo de pesquisa, os dois autores demonstram como ‘o jornal da história americana’ tem, de modo consistente por pelo menos 50 anos, distorcido os fatos sobre as guerras travadas pelos Estados Unidos. Desde 1960, no Vietnam, na Nicarágua em 1980, passando pelo Afeganistão até o Iraque de hoje, isso estaria acontecendo e esse péssimo jornalismo, segundo o livro, tem contribuído para o enfraquecimento da democracia na América, favorecendo atentados terroristas, como o 11 de setembro, e avalizando a política exterior equivocada dos Estados Unidos.


Howard Friel é formado em literatura e dirige uma empresa de informação e especializou-se em direito internacional. É autor de outro livro de sucesso, ‘Cães de Guerra: O Jornal Wall Street e a Campanha de Direita Contra o Direito Internacional’ (tradução livre de Dogs of War: The Wall Street Journal and the Right-Wing Campaign Against International Law). Richard Falk é professor de Direito Internacional na Universidade de Princeton e autor de vários livros, entre eles os mais recentes ‘Desvendando o Oriente Médio’ e ‘A Guerra do Grande Terror’ (tradução livre para Unlocking the Middle East e The Great Terror War).


A editora do ‘The Record of the Paper’ é a Verso e tem um apelido curioso, a ‘página da esquerda’, parte por seu nome e grande parte por seu catálogo de autores europeus entre eles Noam Chomsky, Che Guevara, Sartre, entre outros marrons. Portanto, um ninho de especialistas no assunto ‘guerra fria seria melhor do que guerra de verdade’. Mas estão sendo perseguidos pelo ‘establishment’ por estarem tocando nos pomos de adão dos donos do dinheiro, dos donos do poder e dos donos da informação. Como se no Brasil, por exemplo, um professor de universidade e um escritor com a aparência do Larry, aquele desgrenhado dos Três Patetas, e uma editora da liga das nanicas resolvessem estudar, e publicar, as razões dos nossos presidentes mudarem o discurso depois de eleitos, sempre com alguma empresa de comunicação lhes dando a retaguarda necessária.


Mais de 40 editoriais do ‘The Times’, como é chamado com intimidade o famoso jornal de Nova Iorque, são dissecados com a intenção de provar que na maioria das vezes o jornal apóia o governo, e, quando não apóia, as decisões já foram tomadas e a opinião pública já não pode mais interferir. No caso da invasão do Afeganistão e do Iraque, por serem momentosas, os autores atribuem a morte de milhares de inocentes em terras estrangeiras, à política exterior equivocada de Bush de ignorar o Direito Internacional. E, por serem americanos, os autores ainda fazem uma autocrítica, afirmando que, justamente por terem o maior poder bélico do mundo, os Estados Unidos põem em perigo a vida dos seus próprios cidadãos, pois somente o terrorismo suicida é a saída lógica parar combater tal supremacia. Sem falar da superioridade econômica. Tese interessante para um debate. Aliás, debate sobre o livro pode ser encontrado online na BookTv, visto por este articulista e depois discutido com um dos autores do livro em pauta.


No Brasil não podemos dizer que temos uma política exterior de longo curso. Navegamos sempre pelas beirinhas, de governo em governo, e historicamente o tom do Itamarati sempre foi a simpatia e a amenidade. Desde que as nossas Forças Armadas foram desmanteladas e não somos capazes nem de evitar boi pesteado de passar pela fronteira, é impossível uma análise intelectualizada, profunda, sobre a nossa inserção nas resoluções de Direito Internacional, mas a vontade do governo Lula em marcar um assento no Conselho Mundial de Segurança deveria merecer mais destaque, e discussão pública, pelo menos para ficar registrado na história, ‘for the records’, que o assunto transpirou no meio do povão.


Daí, talvez, no futuro, possamos olhar para trás e analisarmos o que os clãs que dirigem a comunicação no Brasil estiveram tramando, e escolhendo publicar, enquanto as oligarquias nordestinas, mineiras, paulistas e gaúchas estiveram deliberando em nossas vidas hoje e sempre.’