Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Perspectivas sombrias no mercado de trabalho jornalístico

Até o final deste 2015, deverão ser demitidos mais de 1.200 jornalistas brasileiros, superando o número recorde de 2014, por causa da crise de mercado. Esta expectativa, mais realista do que pessimista, é da Federação Nacional de Jornalistas-Fenaj, apreensiva com os “passaralhos” que atacam as redações do país como pássaros pretos vorazes em plantações de arroz, devastadores.

Agora, é o agravamento da crise econômica que está provocando a retração dos anunciantes e derrubada da receita publicitária dos jornais. Queda de receita causa demissões. Pelos dados oficiais da Fenaj, somente de janeiro a junho deste ano, já foram demitidos 405 jornalistas das seguintes empresas: O Globo, Estado de Minas, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, TV Capixaba, Estadão, Jornal do Commercio, Rede Bahia, Rede Bandeirantes, Diário de Pernambuco, Aqui-Pe, SBT, Valor, Editora Abril, Veja Brasília.

Março foi o mês de maior numero de demissões, com 116 demitidos, em sua maioria no Diário de Pernambuco, como consequência da venda do jornal e enxugamento promovido pelos novos donos. Mas esse número – 405 demitidos – já deve ser muito maior, talvez o dobro, porque a Fenaj ainda não recebeu todas as informações relativas ao semestre dos sindicatos nos estados nem do Ministério do Trabalho. Depois, porque o noticiário está cheio de alarmantes demissões massa.

Embora a Fenaj não possa impedir a crise econômica, que é um problema do governo, perguntei ao seu diretor institucional, José Carlos Torves, o que a entidade está fazendo, pelo menos, para aliviar a situação: “Estamos num esforço de articulação entre governo e empresários de comunicação para ver se é possível o estabelecimento de subsídios às empresas que possam estancar essas demissões em massa.”

A cobertura às malfeitorias do governo do PT

Lamentavelmente, essas demissões dão felicidade ao ex-presidente Lula, dirigentes e militantes do PT, assumidamente inimigos da imprensa. Como foi noticiado, em discurso no recente V Congresso do PT, em Salvador, Lula destilou seu veneno contra jornais e jornalistas, seu esporte preferido, proclamando com indisfarçável sarcasmo o desemprego crescente na mídia: “Só neste ano, tivemos 50 demissões de jornalistas na Folha de S.Paulo. Foram 120 demissões no Globo, 100 demissões no Estadão, 50 na Band e 120 na Editora Abril”, disse Lula. Cada número desses citados por Lula ganhou da plateia de militantes do PT aplausos e gritos de comemoração como se fosse gol.

Empolgado com essa reação, Lula aprofundou seu discurso raivoso, insuflando a massa petista: “A Editora Abril, que publica a revista mais sórdida deste país, teve de entregar metade do seu edifício-sede, teve de vender ou fechar 20 títulos de revistas. E temos grupos jornalísticos inteiros à venda. Parece que as pessoas não querem continuar lendo as mentiras que eles publicam.”

Infelizmente, Lula não tem visão abrangente das coisas porque só tem um olho, o esquerdo; o outro não serve pra nada. Ora, a imprensa brasileira tem feito o que é seu papel: buscar a verdade e denunciar as malfeitorias; separar o jogo do trigo e mostrar o joio. Mas Lula está cada vez mais perturbado com a queda livre da presidente Dilma Rousseff, agora, segundo o último Ibope, com apenas 9% de aprovação dos brasileiros. É o sonho de Lula de voltar em 2018 virando pesadelo.

Finalmente, o clímax do seu ódio aos jornais e jornalistas: “Essas empresas, que atacam tanto o nosso governo, não são capazes de administrar a própria crise sem jogar o peso nas costas dos trabalhadores. E acham que podem nos ensinar como se governa um país com mais de 200 milhões de habitantes!” Todo esse tripúdio porque a imprensa deu e tem dado ampla cobertura às malfeitorias do governo do PT, desde a corrupção do Mensalão, no governo Lula, à corrupção do Petrolão, no governo Dilma.

Lula é marxista

Certamente, para Lula seria melhor até não haver imprensa ou então existir apenas imprensa sindical ligada ao PT. Parece que Lula está esquecido de que ele é produto da mídia. No começo dos anos 1970, era apenas um metalúrgico no ABC paulista. Muito esperto, descobriu que podia ganhar a vida sem trabalhar, apenas fazendo política sindical.Entrou de cabeça, tornou-se líder e comandou greves e manifestações contra a ditadura militar.

Ganhou ampla divulgação da mídia, que também queria o fim da ditadura e ficar livre da censura. Cresceu como novo líder de massas com visibilidade nacional. Virou mito. Como mito, chegou à Presidência da República. Se não fosse a imprensa, provavelmente a história seria outra e ele continuaria sendo apenas um metalúrgico sem projeção no ABC paulista.

Entretanto, desde que chegou à Presidência e principalmente depois do vergonhoso escândalo do Mensalão, tornou-se inimigo dos jornais e jornalistas. É democrata só da boca pra fora. Na verdade, tem espírito ditatorial, não suporta imprensa livre. Com certeza, gostaria que a imprensa no Brasil fosse completamente dominada pelo PT, como é em Cuba, como é na China, absolutamente dominada pelo Partido Comunista. Daí sua obsessão para que o governo controle e censure a imprensa brasileira.

De qualquer forma, é deplorável que Lula, fundador e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, tripudie da crise dos jornais e das demissões de jornalistas, que são também trabalhadores como milhões de outros dos demais segmentos da economia. Na verdade, o lulômetro está quebrado e expondo o ódio de Lula contra a imprensa. Mas como Lula é marxista, vale lembrar-lhe essa sabia sentença de Marx: “A imprensa livre é o olhar onipotente do povo.”

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Jota Alcides é jornalista e escritor