Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

PF acusa delegado Protógenes de vazamento

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de São Paulo


Terça-feira, 11 de novembro de 2008


 


VAZAMENTO
Rubens Valente e Ana Flor


Corregedoria da PF diz que Protógenes vazou operação


‘Relatório produzido pelo delegado Amaro Vieira Ferreira, da Corregedoria da Polícia Federal, em Brasília, atribuiu ao delegado Protógenes Queiroz, que chefiou a Operação Satiagraha, a responsabilidade por vazamentos ocorridos ao longo da investigação.


O delegado, que preside o inquérito aberto por determinação da direção geral do órgão, tomou depoimentos de funcionários e diretores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), de policiais da Satiagraha e de jornalistas. Os depoimentos relevam que pelo menos 62 funcionários lotados nos escritórios da Abin em 12 Estados diferentes participaram da investigação.


Amaro também descreveu que o pessoal da Abin fez fotos e vídeos de investigados, teve acesso ao sistema Guardião da PF, que armazena gravações feitas com ordem judicial, para transcrever e analisar ligações telefônicas, e utilizou material da PF, como pelo menos 13 telefones Nextel.


Com base nesse relatório, o juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo, autorizou, na semana passada, buscas e apreensões nas casas de dois funcionários da Abin, de um terceiro sargento da Aeronáutica, de um terceiro sargento da Polícia Militar do Distrito Federal, além de um escrivão da PF que atuou na Satiagraha e de três endereços relacionados a Protógenes.


O procurador da República Roberto Dassié Diana foi contrário às buscas e apreensões.


O relatório do delegado Amaro, de 47 páginas, é preliminar e não representa a condenação de Protógenes. No documento final, entretanto, ele deverá indiciar Protógenes e outros investigados por supostos crimes de violação de sigilo funcional, previsto no Código Penal, e infração à lei que regula as interceptações telefônicas.


A violação de sigilo funcional, segundo o artigo 325 do Código Penal, prevê pena de reclusão de seis meses a seis anos. Já o artigo 10 da Lei 9.296/96 prevê de dois a quatro anos para quem, entre outros atos, quebrar segredo de Justiça de interceptação telefônica.


Apresentado o documento conclusivo, caberá ao Ministério Público Federal se manifestar. O caso será então julgado pelo juiz Mazloum.


No relatório, o delegado afirma que há indícios de que equipe da TV Globo foi avisada por Protógenes horas antes de as prisões ocorrerem, em 8 de julho. Na operação, foram presos, entre outros, o banqueiro Daniel Dantas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o investidor Naji Nahas.


Como indício, Amaro diz que a equipe da emissora realizou outras reportagens em operações presididas por Protógenes. Nenhum dos três funcionários da TV Globo ouvidos por Amaro confirmou a origem da informação. Sobre o depoimento de um produtor, o delegado afirma que ‘ao negar resposta a algumas perguntas e ao responder outras de modo restritivo ou taxativo, contrariou a lógica natural e forneceu elementos que permitem inferir a autoria, bem como atribuí-la ao delegado Protógenes’.


Reportagem


O delegado Amaro também passou a investigar o vazamento ocorrido em abril, antes da deflagração da operação. Reportagem da Folha revelou a existência da apuração sobre Dantas. A reportagem também passou a ser alvo a partir de uma manifestação do juiz da 6ª Vara Federal Criminal, Fausto De Sanctis. Ele oficiou à PF para pedir a apuração, e a polícia enviou o documento ao inquérito de Amaro.


Na Satiagraha, Protógenes pediu a prisão da jornalista autora da reportagem, Andréa Michael, o que foi negado pelo juiz De Sanctis.


No inquérito agora tocado pela corregedoria, Protógenes passou a ser suspeito de também ter participado desse vazamento. A lógica utilizada pela corregedoria é que, ao compartilhar os dados da Satiagraha com funcionários da Abin, o delegado teria colaborado para abrir o sigilo da investigação.


No decorrer da apuração sobre o vazamento, Amaro tomou o depoimento do diretor de Inteligência Policial da PF, Daniel Lorenz. Segundo o relatório, Lorenz contou ter ouvido do delegado Paulo de Tarso a informação de que Protógenes detinha a gravação de uma conversa da jornalista Andréa feita sem o seu conhecimento, num restaurante em Brasília. Nessa gravação, segundo os comentários ouvidos por Lorenz, havia inferências de que ele estava por trás do vazamento à Folha.


Lorenz, que nega ser o autor do vazamento, disse a Amaro que gostaria que a fita fosse apreendida para que não fosse usada para ‘descredenciá-lo’. Paulo de Tarso, segundo o relatório, contou ter tomado conhecimento da fita pelo próprio Protógenes.


A Folha apurou que essa gravação foi apreendida nas buscas da semana passada. Agora deverá ser degravada e anexada ao inquérito da corregedoria.’


 


 


Protógenes afirma que não violou sigilos para a imprensa


‘O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz negou ontem, por telefone, que tenha cometido ilegalidades ou promovido o vazamento, para a imprensa, de dados da Operação Satiagraha, que investigou o banqueiro Daniel Dantas e o grupo Opportunity. O delegado disse que ‘já esperava’ as conclusões contidas no relatório preliminar do delegado da Corregedoria da PF em Brasília Amaro Vieira Ferreira, divulgadas ontem pelos jornais ‘O Globo’ e ‘O Estado de S. Paulo’.


‘Eu sabia desde o início, quando abriram a investigação, que iriam me acusar. Coincidentemente, a investigação foi aberta depois que eu representei contra a cúpula da Polícia Federal, na Justiça Federal e na Procuradoria da República, as denúncias sobre as condições de trabalho que enfrentei durante a Satiagraha’, afirmou o delegado.


Protógenes estava ontem em Zurique, na Suíça, onde participará, até o dia 14, como convidado da Fifa e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de evento promovido para discutir a segurança em estádios de futebol no mundo. Protógenes presidiu inquéritos da PF que investigaram a parceria do Corinthians com a MSI e a chamada ‘máfia do apito’, em que um juiz de futebol foi acusado de vender resultados.


Protógenes rebateu a alegação, contida no relatório de Amaro, de que tenha cometido violações legais. ‘Tudo picaretagem. Não houve violação de sigilo. Eles é que violaram o sigilo. Tudo que eu fiz tinha autorização’, disse o delegado.


Na semana passada, a Folha divulgou que o delegado Amaro, ao investigar os procedimentos de Protógenes, quebrou sigilo telefônico de policiais e jornalistas supostamente sem ordem judicial. Em nota oficial, a direção geral da PF negou quaisquer irregularidades e defendeu Amaro.


‘Pelo que já sei, houve abusos’, disse Protógenes, que constituiu advogado para tentar obter cópias do inquérito policial. ‘Estou coletando dados para ver que medida tomar’, disse. Na semana passada, em entrevista num hotel em São Paulo, o delegado havia dito que os policiais que fizeram buscas e apreensões no quarto em que estava hospedado não lhe apresentaram a cópia da ordem expedida pelo juiz federal Ali Mazloum.


O delegado também questionou as dúvidas manifestadas pela Corregedoria da PF sobre os gastos realizados ao longo da Satiagraha. Para ele, as despesas -que incluíram o pagamento de informantes ou colaboradores da PF, prática, segundo ele, prevista em lei- comprovarão que a PF não lhe deu a estrutura adequada para as investigações, fazendo com que ele buscasse apoio em outras fontes.


Em outras oportunidades, como no depoimento que prestou à CPI do Grampo, em Brasília, Protógenes disse que a participação de funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na Satiagraha é respaldada em lei federal que criou o Sisbin (Sistema Brasileira de Inteligência).’


 


 


CRISE
Clóvis Rossi


Os bancos e o boi no pasto


‘SÃO PAULO – Fabio Barbosa, presidente do Grupo Santander no Brasil e presidente também da Federação Brasileira de Bancos, é um dos raros líderes (empresariais ou políticos) que se sente compelido a prestar contas quando cobrado.


Foi cobrado pelo presidente Lula na semana passada (de brincadeira, segundo Barbosa), cobrança que reproduzi neste espaço. Prestou contas, que repasso ao leitor, como é devido, em resumo: ‘Os governantes, analistas, banqueiros, industriais e jornalistas ainda estão tentando entender o que se passa nessa inédita crise.


Não espere que eu, ou alguém isoladamente, tenha a resposta’. ‘A realidade é que o crédito não circula no mercado internacional e, portanto, as empresas e os bancos brasileiros não têm mais acesso a vários mecanismos que vinham sendo utilizados. (…) Com a impossibilidade de se financiarem no mercado internacional, as empresas buscaram financiamento em reais, e -claro- não há como atender a essa nova demanda, além da já existente. Algumas empresas não encontram o crédito que desejam, e daí vem a sensação de paralisação.


A notar, que muitos bancos também se financiavam no mercado internacional e, portanto, não podem fazer seus repasses aqui’.


‘Vale notar que o crédito para pessoa física, com a exceção de financiamento de automóveis, continua normal. Baseado em levantamento (informal) feito junto a grandes bancos, entendo que a carteira de crédito total de outubro fechará acima dos volumes recordes de setembro, o que é muito diferente do que acontece mundo afora’.


‘Como indiquei acima, o processo que estamos vivendo é ímpar. De nada adianta simplificarmos o problema, sugerindo que se trata de má vontade deste ou daquele setor.


Não caiamos na armadilha de voltarmos à época da busca do ‘boi no pasto’, que, a propósito, não demonstrou maior efetividade.’’


 


 


GRAMPOS
Eliane Cantanhêde


Quem não brinca em serviço


‘BRASÍLIA – Parte da Polícia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investiga banqueiros e ricos em geral, à revelia de seus comandos diretos. Outra parte se rebela e… passa a investigar quem investiga. No final, todo mundo grampeia todo mundo.


Mais ou menos como na ditadura militar em Goiás, quando só havia três categorias de políticos: os que cassaram, os que foram cassados e os que cassaram e foram cassados.


Depois de 40 anos, o mesmo ocorre com o delegado Protógenes, que perseguiu e agora está sendo perseguido; invadiu casas num dia e teve a sua casa invadida no outro.


Ele grampeava uns jornalistas, seus inimigos na PF grampeiam outros -aliás, sem autorização judicial.


Se a PF está em pé de guerra, a Polícia Civil de São Paulo é capaz de tentar sitiar o Palácio dos Bandeirantes, e as várias polícias do Rio, de Pernambuco, de Rondônia… parecem tão fora de controle quanto a própria violência urbana.


Enquanto isso, o governo federal infla os gastos com o funcionalismo (a segunda maior despesa da União, só atrás da Previdência Social, conforme a Folha), e os órgãos de elite fazem concursos para multiplicar suas vagas (no Senado, no Ipea, no TCU…). Mas as polícias nem recebem aumento nem têm juízo, confrontam-se umas com as outras e aprendem a fazer greves sem deixar as armas em casa.


Os bandidos fazem a festa. Exemplo: uma quadrilha assaltou a delegacia de entorpecentes em Botucatu (SP), arrombou o cofre, levou armas e drogas apreendidas e botou fogo na papelada sobre criminosos.


Para completar o serviço com chave de ouro, explodiu a sede da delegacia, que voou pelos ares, levando o que resta de orgulho e de amor-próprio nas nossas polícias. Coisa de mestre, uma operação para bandido nenhum botar defeito, e confirma aquela nossa velha sensação: alguém está ganhando essa guerra. E não é o Estado.’


 


 


STF
Marcos Nobre


O cidadão e o magistrado


‘É NO MÍNIMO intrigante encontrar declarações do presidente do STF todos os dias nos meios de comunicação. Ele se pronuncia sobre os temas mais variados da pauta da discussão pública, desde a edição de medidas provisórias até o uso de algemas.


Segundo a Lei Orgânica da Magistratura, em seu artigo 36, inciso III, é vedado ao magistrado ‘manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistrado’.


Ao expor seus argumentos na esfera pública, o magistrado deixa o campo do direito e passa ao campo da disputa política. Como cidadão, deve ter o direito, sob determinadas condições, de expressar suas opiniões. As declarações de Gilmar Mendes não devem ser interpretadas como elaborações técnicas no campo do direito, mas como legítimos posicionamentos políticos.


Interpretados assim, tem-se a impressão de que seus pronunciamentos são críticas a órgãos ou políticas de governo. Ou condenações de movimentos como a greve de policiais civis em São Paulo. Às vezes parecem confrontos com declarações de integrantes do governo Lula, como foi o caso de seu pronunciamento sobre o ‘terrorismo’ durante a ditadura militar.


O que intriga é justamente por que suas declarações dão essa impressão neste momento. E a resposta talvez esteja no fato de que a oposição se encontra amarrada em pelo menos dois sentidos.


Com crise econômica e tudo, a popularidade de Lula continua nas alturas. Qualquer postulante à candidatura presidencial pela oposição pode perder posições preciosas se criticar o governo Lula neste momento.


Além disso, os dois principais nomes da oposição são governadores de Estado. Tanto José Serra (mais que provável candidato oficial do PSDB) como Aécio Neves dependem do repasse regular de verbas federais para fazerem deslanchar a série de obras dos dois últimos anos de governo. Só para 2009, o investimento de Minas e de São Paulo estimado pela Folha é de R$ 30 bilhões.


Se a crise pegar forte por aqui, se a popularidade de Lula sofrer com isso, é possível que os líderes da oposição venham a assumir mais cedo o seu papel de críticos diuturnos do governo. Do contrário, só irão assumir essa posição no ano eleitoral de 2010, quando o ministro Gilmar Mendes deixará a presidência do STF. De um jeito ou de outro, o timing não poderia ser mais perfeito para a oposição.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


China salva o mundo?


‘O dia abriu no Oriente com alta nas Bolsas, por conta do pacote da China. O site do ‘Financial Times’ até postou fórum, sob a pergunta geral ‘a China pode salvar o mundo?’. E assim foi, nas manchetes on-line também do Brasil, até o meio da tarde, quando a Bovespa passou a ‘oscilar’, a ‘operar instável’. No mesmo ‘FT’, fim da tarde, ‘alta inspirada por gastos do plano de Pequim se esvai’. No ‘Wall Street Journal’, ‘plano de estímulo anima os mercados, mas as dúvidas permanecem’, sobre a China ser capaz, ‘sozinha, de reverter as tendências globais’.


As mesma reportagens, de todo modo, se estendiam mais nas análises que previam impacto positivo global. Na própria China, o primeiro-ministro Wen Jiabao descreveu o pacote como ‘a nossa maior contribuição para o mundo’. O plano saiu, sublinhou a Associated Press, ‘antes de o presidente chinês, Hu Jintao, comparecer à reunião de líderes mundiais para discutir uma resposta à crise global’.


A LÍDER


Enunciado no estatal ‘China Daily’, com a repercussão do pacote: ‘Banco Mundial, EUA e Brasil saúdam plano de estímulo econômico chinês’. Pelo Brasil, falou o ministro Guido Mantega, que comanda interinamente o G20 e para quem a China ‘tomou a liderança’ com o plano.


AOS POUCOS


O Radar On-line, no meio da tarde, postou uma ‘constatação: a liqüidez começa a voltar ao sistema financeiro brasileiro’, ainda que ‘aos poucos’. E o site de ‘O Estado de S. Paulo’ postou à noite, em manchete, ‘Henrique Meirelles diz que o crédito está voltando aos poucos’.


TEMPOS EXTRAORDINÁRIOS


Em longas reportagens enviadas do Brasil, ‘New York Times’ e ‘Washington Post’ retrataram a reunião preparatória para o G20. Para o primeiro, ela ‘revelou um desejo profundo entre os países em desenvolvimento, inclusive o anfitrião Brasil, para alcançar maior voz no esforço do mundo para escapar da crise’.


Citando o secretário britânico do tesouro, o ‘WP’ destacou que ‘tempos extraordinários, com choques sem precedentes na economia mundial’, exigem ‘nova estratégia’, com pronta resposta internacional.


DISCORDÂNCIA


Não falta pessimismo sobre a reunião do dia 15 em Washington. No ‘FT’, o colunista Gideon Rachman escreve que não se deve esperar Bretton Woods 2, sobre a conferência que ‘deu à luz’ FMI e Banco Mundial, em parte porque a primeira foi preparada em dois anos e a segunda em duas semanas. Mais importante, ‘os países discordam’, com os EUA ‘cautelosos’.


De outro lado, ‘falta liderança’ aos 20 países, com Barack Obama fora.


BABEL


‘Líderes de 20 nações vão se reunir sexta, supostamente para falar em uma só voz sobre como lidar com a crise que engole o mundo’, publica o ‘WSJ’, de sua parte. ‘Mas não conte com uma união. Uma Torre de Babel nacionalista é o mais provável.’


A França quer uma nova ordem regulatória, os EUA, não. O Reino Unido quer um FMI mais forte, a Rússia, não. A China quer influência no FMI ‘e todo o resto quer que a China financie o FMI’.


‘SOCIEDADE GLOBAL’


Na manchete on-line de ‘Guardian’ e outros, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ‘contempla uma sociedade global’. A expressão é dele, em discurso que não se conteve na retórica, falando de um ‘novo multilateralismo progressista’ para ‘um mundo que ainda é diminuído pelo conflito e pela injustiça’. Seu novo multilateralismo, que já estaria em construção, seria ‘mais justo, mais estável e próspero, pois baseado na cooperação e na justiça’. Citou Winston Churchill e Barack Obama para falar em ‘amanhecer da esperança’.


LULA TAMBÉM


Também o presidente brasileiro gastou o verbo, com eco até na agência Xinhua, por ‘uma nova ordem mundial em que os seres humanos, trabalhadores’ etc. comandem a economia no lugar da ‘especulação’.


De Roma, a BBC Brasil registrou que ‘assessores de Lula e de Obama já teriam manifestado a intenção de promover um encontro entre os dois’.


SALMÃO ON-LINE


O ‘WSJ’ estreou site novo no auge da crise. O ‘FT’ deixou para hoje, noticiou o ‘Guardian’. Com fundo salmão, troca seu logo de FT.com para ‘Financial Times’, porque ‘é a marca’ do jornal no mundo. Em suma, o novo desenho busca ‘simplificar’ e abrir o site para interação’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record começa a fazer reality de famosos


‘A Record iniciou ontem o processo de produção de um novo reality show, a ser disputado por celebridades confinadas em uma fazenda no interior de São Paulo. Será algo como uma ‘Casa dos Artistas’ rural.


O programa será dirigido por Rodrigo Carelli, que comandou as duas primeiras edições de ‘Casa dos Artistas’, no SBT, e que, ultimamente, tem atuado como produtor independente de programas musicais para o canal pago Multishow.


Alexandre Frota, que atuou na primeira ‘Casa dos Artistas’ e em ‘Quinta das Celebridades’, em Portugal, será consultor da atração. O ator já selecionou três fazendas para possível ambientação do programa.


O reality show estreará em junho de 2009, após ‘O Aprendiz’, com exibições às terças e quintas, por volta das 23h. Ainda não está certo se terá edições ao vivo (as das eliminações). Isso vai depender da locação em que será gravado.


O programa terá 12 participantes. A Record nega que já esteja montando elenco. Nos bastidores, especula-se sobre alguns nomes, como Guilherme Arruda, ex-Band.


A Record trabalha com o nome ‘Quinta das Celebridades’, mas não será esse o título. Em junho, a emissora pediu ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) o registro de nove marcas com variações entre ‘fazenda’ e ‘rancho’ das ‘estrelas’, dos ‘famosos’ e das ‘celebridades’.


REVIRAVOLTA 1


A Record voltou atrás e desistiu de inaugurar a parceria com a Televisa com uma versão brasileira de ‘Rebelde’. Vai mesmo de ‘Betty, a Feia’, como pretendia originalmente.


REVIRAVOLTA 2


A emissora avalia que ‘Rebelde’, por envolver a criação de uma banda, teria produção muito complexa (e arriscada) para o momento. ‘Betty, a Feia’ deve começar a ser produzida, no Rio, após o Carnaval. A estréia foi transferida de março para maio.


AGORA VAI


Inicialmente prevista para maio, a novela ‘Revelação’, de Íris Abravanel, finalmente vai entrar no ar. O SBT começou a exibir no final de semana chamadas prometendo a estréia para 8 de dezembro.


PLANEJAMENTO


Silvio de Abreu e Benedito Ruy Barbosa estão disputando a autoria da novela das oito que sucederá à de Manoel Carlos, na Globo, em meados de 2010. Abreu começou a pensar numa trama. Barbosa já tem uma. A trama de Manoel Carlos substituirá ‘Caminho das Índias’, de Glória Perez, no ar em janeiro.


CACHORRADA


O SBT abriu inscrições para o ‘1º Campeonato Brasileiro de Cachorros’. Aceita fotos de ‘qualquer cachorro’. Promete R$ 100 mil. Em 2009, transformará isso em um programa.


RONCO


A Stock Car mudou do sábado para o domingo, mas continua com ibope baixo. Anteontem, rendeu 4,8 pontos à Globo, contra 7,4 da Record, que exibia o desenho ‘Pica-Pau’.’


 


 


Cristina Luckner


‘Law & Order’ traz nova personagem


‘Um menino foge desesperadamente dos pais adotivos dirigindo uma van pelas ruas de Nova York. Ele será a primeira pista da rede de coincidências que levará os detetives Elliot Stabler (Chris Meloni) e Olivia Benson (Mariska Hargitay) a resolver o caso do primeiro episódio da décima temporada de ‘Law & Order: Special Victims Unit’, com estréia hoje, às 23h, no Universal Channel.


Com participação de Luke Perry, ex-’Barrados no Baile’, o episódio apresenta a entrada de uma nova personagem.


Michaela McManus interpreta a jovem assistente de promotoria ‘durona’ Kim Greylek. Ela atuava em Washington D.C. e gosta de relembrar seus feitos na terra da Casa Branca.


Porém, não será tarefa fácil enfrentar a hostilidade e o ceticismo de seus colegas, em especial do azedo detetive John Munch (Richard Belzer).


A trilha sonora continua a mesma, inconfundível, e pode-se acompanhar o ‘amadurecimento’ dos personagens nesses dez anos em que ‘Law & Order: SVU’ está no ar. No mais, nesse primeiro episódio, outras pequenas histórias começam a ser reveladas, e os fãs devem prestar atenção a essas pistas, que podem ajudá-los a resolver os casos dos episódios que virão.


LAW & ORDER: SPECIAL 00 VICTIMS UNIT


Quando: estréia da décima temporada hoje, às 23h


Onde: no Universal Channel


Classificação indicativa: não informada’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
João Pereira Coutinho


Quem roubou o meu Obama?


‘EXMOS. SENHORES da Folha: Recebam os meus melhores cumprimentos.


Três semanas atrás, ao ler a minha coluna na Ilustrada, tive a desagradável surpresa de encontrar um tal de João Pereira Coutinho que, assumindo o meu nome e até o meu estilo literário, proclamava arrogantemente que John McCain seria o próximo presidente americano. O texto, ‘John McCain, Presidente’, despertou, como seria inevitável, reações violentas nos leitores. Dois deles tiveram apoplexia hilária, uma forma rara de gargalhada demencial que requer internação e cuidados intensivos.


O objetivo do farsante era, naturalmente, desqualificar-me em público e mostrar minha ingenuidade em política. Não pretendo levantar suspeições, embora três nomes me aflorem imediatamente: Nelson Ascher, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Sim, três terríveis direitistas que, impedidos de derrubar o presidente Lula, decidiram derrubar o presidente Obama por escrito, usando meu pobre nome como proteção para seus golpes.


Pretendo processar os três e enviar o responsável para Cuba, para a Coréia do Norte ou para a USP, dependendo do orçamento. Mas, para repor a verdade conspurcada pelo farsante, republico aqui o texto original (e inédito) que deveria ter sido publicado no fatídico dia 21/10. Intitula-se, apropriadamente, ‘Barack Obama, Presidente’: ‘Colunistas têm de ser responsáveis: uma coisa são as suas preferências; outra, a dura e cruel realidade. Gostaria que John McCain vencesse. Em setembro, antes da crise econômica e financeira estourar, acreditei que sim. Mas é Barack Obama quem vai ganhar no próximo dia 4. As pesquisas não mentem, apesar de tradicionalmente serem bondosas para os democratas. E existe ainda o ‘efeito Bradley’, ou seja, votantes que, na hora H, permitem que o preconceito racial tenha a palavra decisiva.


Esqueçam. Dessa vez, não haverá ‘efeito Bradley’ para ninguém.


Mas comecemos por McCain.


Por que motivo a minha bola de cristal desautoriza qualquer confiança no bicho? Porque o bicho é velho. Numa cultura dominada pelo mito da juventude, isso é mortal.


A juntar à velhice do bicho, temos Bush e a crise. McCain está demasiado colado ao primeiro. E McCain não é a pessoa certa, aos olhos dos americanos, para lidar com a segunda.


A pessoa certa é Obama. Negro?


Verdade. Mas a raça não será um fator decisivo, como foi no passado. Pelo contrário: os americanos vão premiar Obama precisamente por ele ser negro. Americano é idealista. Americano acredita que a república dos ‘founding fathers’ continua a ser ‘a cidade no cimo da colina’. Um presidente negro é a suprema consagração da excepcionalidade americana. Quem resiste ao lado sentimental do filme?


Nem poderia ser de outra forma.


A campanha de Obama foi profissional e eficaz. E rica: mais de US$ 600 milhões para gastar em propaganda e captação de eleitores. A retórica e a juventude do candidato fizeram o resto. Não ter Sarah Palin como vice, também.


Por isso, olho minha bola de cristal e prevejo: mais de 90% dos negros votarão em Obama; mais de 60% dos latinos, também; idem para os asiáticos; os jovens estarão com ele, sobretudo os que votam pela primeira vez; e as mulheres; e os mais pobres; e os mais ricos; e até uma fatia generosa de brancos, algo como 42%. Melhor: 43%.


E nos Estados em disputa? Bem, vocês estão pedindo muito de um simples colunista. Mas prevejo, sem dificuldades, que Obama vencerá em redutos tradicionalmente republicanos (como Virginia ou Indiana, Estados republicanos desde 1964). E roubará os Estados de Iowa, Novo México, Nevada, Colorado e a fatal Flórida.


Moral da história? A minha bola de cristal só tem um nome: Obama.


E uma vitória com 52% dos votos, ou seja, uns 63 milhões de americanos obamistas, recorde total.


McCain não passará dos 56 milhões de votantes. Não acreditam?


Confiram no dia 4.


E agora, se os leitores me permitem, vou descansar um pouco a minha genial cabeça e preparar-me para assistir ao Corinthians x Ceará no próximo dia 25. Não confundo alhos com bugalhos. Mas se o Corinthians não vencer por 2 a 0 o Ceará, com gols de Douglas (primeiro tempo) e Chicão (segundo tempo), eu não passo de um farsante.’


Reposta a verdade dos fatos, renovo os meus melhores cumprimentos.


João Pereira Coutinho, o próprio.’


 


 


 


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O Estado de São Paulo


Terça-feira, 11 de novembro de 2008


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Marjorie Connelly, The New York Times


Pesquisa revela perfil do voto em Obama


‘Uma pesquisa realizada pela Edison Media Research e pela Mitofsky International com 17.836 eleitores em 300 zonas eleitorais dos EUA, além de 2.378 entrevistas com eleitores que votaram pelo correio ou antecipadamente, traçou o perfil do eleitorado americano na disputa pela Casa Branca. O levantamento ajuda a explicar a vitória do candidato democrata Barack Obama sobre o republicano John McCain.


O presidente eleito obteve vitória incontestável entre os eleitores negros, hispânicos e aqueles com menos de 30 anos. Ele fez progresso dentro de importantes grupos de indecisos, incluindo os católicos, suburbanos, independentes políticos e até mesmo entre os veteranos de guerra. Ele venceu no Meio-Oeste, onde o candidato democrata John Kerry havia sido derrotado em 2004, e conseguiu avançar entre grupos que tradicionalmente pertencem ao eleitorado republicano – brancos, conservadores, sulistas e freqüentadores da igreja.


Foi revelado um profundo abismo entre as gerações. Os eleitores com menos de 45 anos apoiaram Obama; aqueles acima dos 60 anos apoiaram McCain. O resto deles estava dividido.


A disparidade de números entre eleitores que se identificam como democratas (39%) e os que se dizem republicanos (32%) aumentou em 7 pontos porcentuais, dando aos democratas a sua maior vantagem desde 1980.


Entre os eleitores com menos de 30 anos Obama teve ampla vantagem (66% a 32%). Apenas Ronald Reagan em 1984 e Bill Clinton em 1992, cada qual com vantagem de 19% sobre o adversário, chegaram minimamente perto. Os eleitores mais velhos foram o único grupo etário que votou na sua maioria em McCain (51% a 47%). Eles apoiaram Reagan em 1984, mas passaram para o lado democrata durante a era Clinton. Em 2004, eles foram o grupo etário em meio ao qual Bush se mostrou mais forte.


Obama conquistou a maioria dos independentes (52% a 44%). Foi a primeira vez que um democrata conseguiu este resultado desde 1972. Obama obteve o apoio de 60% do eleitorado cuja renda familiar anual fica abaixo dos US$ 50 mil e da maioria dos eleitores cuja renda supera os US$ 200 mil – uma reviravolta notável para um democrata. Em 2004, o eleitorado rico era o que apoiava Bush com mais energia.


Obama obteve maioria no nordeste, Meio-Oeste e oeste. McCain ganhou no sul, onde os republicanos têm vencido desde 2000.’


 


 


JORNALISMO
Ubiratan Brasil


O que aconteceu no Brasil virou Manchete


‘Saiu na imprensa, virou livro. Esse filão do mercado editorial, que bebe na fonte da mídia impressa e perpetua grandes reportagens, está mais forte do que nunca, com lançamentos de fôlego neste fim de ano. Aconteceu na Manchete, livro organizado por José Esmeraldo Gonçalves e J. A. Barros, com artigos de 16 jornalistas que participaram da revista, se vale da memória seletiva desses veteranos repórteres para a criação de um perfil curioso da publicação, cuja história, em muitos momentos, se confundiu com a do próprio País. A família que comandou esse império jornalístico também é tema de outro livro, Os Irmãos Karamabloch, em que Arnaldo Bloch, sobrinho-neto do patriarca Adolpho, narra a ascensão e a queda de seu clã. O livro acompanha os Blochs desde sua origem, na Ucrânia, há 200 anos, até a forçosa imigração para o Rio, em 1922, conseqüência do pesado período entre-guerras. ‘Decidi que não faria a biografia de um magnata da imprensa, mas retrataria o espírito de uma família de imigrantes’, conta o autor. Em Deu no New York Times, portentoso volume que traz o explicativo subtítulo de ?O Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo?, o polêmico Larry Rohter analisa o País de maneira franca e corajosa, falando de corrupção endêmica, racismo camuflado, mas também das experiências boas que teve em solo brasileiro. ‘É difícil extirpar a corrupção; é uma falha humana e existe em todas as partes do mundo, mas acho que a transparência é o primeiro passo para acabar com ela’, diz ele, em entrevista ao Estado. Outro título em lançamento é O Olho da Rua – Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real, que reúne as melhores reportagens de Eliane Brum, em 20 anos de profissão (11 deles no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e quase 9 na Revista Época). ‘Quando o entrevistado pára de falar, ele não pára de dizer – e é essa a melhor escuta do nosso trabalho’, ensina a tarimbada repórter. Nesta edição do Caderno 2, conheça um pouco mais sobre cada um desses grandes livros, feitos com a adrenalina de quem vive ‘na mira da notícia’.


Tornou-se uma tradição: às quartas-feiras, bancas do Rio e São Paulo eram religiosamente abarrotadas pela nova edição da revista Manchete, a mais bem editada em sua época. O público sabia o que ia encontrar: ao longo das páginas, matérias ditas mais sérias, como a eterna ameaça à floresta amazônica, conviviam tranqüilamente com assuntos mais amenos, como o casamento de alguma princesa. Entre 1952 e 2000, a revista criada por Adolpho Bloch tornou-se, em seu auge, referência por criar o mais ousado projeto gráfico da imprensa nacional. E por trazer, em cores vibrantes, o que nenhuma outra publicação editara.


É essa fase dourada (e também a mais pedregosa) o assunto de Aconteceu na Manchete (Desiderata, 448 págs. R$ 60), livro organizado por José Esmeraldo Gonçalves e J. A. Barros e com artigos de 16 jornalistas que participaram da revista. O título brinca com o famoso slogan da revista (‘Aconteceu, virou manchete’). Como se trata de uma seleção de textos, o livro não pode ser classificado como uma biografia tradicional, em que todos os fatos relevantes são narrados cronologicamente. Mas a memória seletiva dos repórteres permitiu a criação de um perfil pitoresco da revista, cuja história, em muitos momentos, se confundiu com a do próprio País.


Bloch era descendente de uma família de judeus-ucranianos que chegou ao Brasil em 1922 sem nenhum tostão no bolso. Mas Joseph, o patriarca, logo se envolveu com o ramo de artes gráficas e construiu um império, como é bem relatado por Arnaldo Bloch, sobrinho-neto de Adolpho, em Os Irmãos Karamabloch.


Quando assumiu o controle da gráfica, Adolpho não escondia seu desconforto com a ociosidade das máquinas no fim de semana. Assim, para que elas trabalhassem, ele decidiu, em 1952, criar uma revista, interessado no sucesso da então campeã de vendas, O Cruzeiro, editada por Assis Chateaubriand, que conseguia na época a invejável marca de 400 mil exemplares. ‘A Manchete, portanto, foi uma conseqüência industrial, não causa pensada ou planejada’, observam José Esmeraldo Gonçalves e Roberto Muggiati, no texto histórico da revista.


O primeiro número chegou às bancas no dia 23 de abril. Inspirada na francesa Paris Match, cuja marca principal eram as grandes fotos, Manchete recebeu esse nome por sugestão de um primo de Adolpho, o escritor e dramaturgo Pedro Bloch. Na primeira edição, trazia crônica de Carlos Drummond de Andrade (‘O jornal está cheio de assuntos; aliás, o mal dos jornais é justamente esse: assunto demais’) e uma curiosa polêmica envolvendo Pietro Maria Bardi, diretor do Masp, que considerava um quadro pintado pelo poeta Menotti Del Picchia como o melhor que já vira entre os brasileiros, superior a Portinari e Di Cavalcanti.


Até a dissolução do grupo Bloch, em 2000, a Manchete ganhou fama pela espaçosa cobertura fotográfica, especialmente do carnaval, quando sua edição especial se esgotava rapidamente. Ou por seus números extras, que também vendiam em poucas horas graças ao forte apelo – foi o caso da cobertura da primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980, garantindo tiragem recorde da revista.


Adolpho Bloch costumava dizer que o primeiro número não o agradara. ‘Só comecei a entender um pouco de jornalismo quando Getúlio Vargas se suicidou, em 1954’, afirmava ele que, com o tempo, alimentou superstições curiosas. Como o de sustentar que foto com mulher de chapéu na capa não estimulava vendas. Ou de acreditar piamente na opinião dos donos de banca de jornais que, aliás, eram muitas vezes convidados a dar ‘aula de jornalismo’ para a redação.


Amigos próximos também participavam da construção da revista. Bloch dedicava especial devoção a alguns, como Juscelino Kubitschek, Ivo Pitanguy, Oscar Niemeyer. Em seu texto para o livro, aliás, o arquiteto revela que Bloch contribuía para o Partido Comunista Brasileiro: ‘Ah, velho Adolpho, como lembro com satisfação o tempo em que o nosso amigo Marcos ia todo mês à sua tipografia receber a ajuda para o PCB, que a solidariedade política justificava!’


A fidelidade, para Adolpho, era essencial. Sua amizade com Kubitschek, por exemplo, rendeu um momento emotivo. Proibido pelo regime militar de conhecer Brasília, Juscelino Kubitschek foi obrigado a ficar no Rio de Janeiro, depois de voltar do exílio. Bloch, no entanto, contornou a situação. Dias antes, enviou o fotógrafo Walter Firmo à Capital Federal, onde nenhum momento deixou de ser registrado. Quando o ex-presidente já estava instalado em Copacabana, foi montada uma exibição de fotos por um projetor. E, à medida que descobria construções que não vira concluída, JK chorava copiosamente.


Aconteceu na Manchete traz ainda outras revelações saborosas. Em seus 33 anos empregado no grupo Bloch, o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony exerceu diversas funções, nas diversas revistas da editora e também na TV Manchete, que entrou no ar em 1983. Algumas, porém, apesar de divertidas, contrariam as regras do bom jornalismo. No livro, ele revela que era o verdadeiro autor das previsões do ‘vidente indiano’ Allan Richard Way que a Manchete publicava anualmente. Cony conta que, nos tempos da ditadura, Way era fruto da imaginação dos redatores da Manchete para facilitar o fechamento da edição da virada do ano. Em uma delas, ele previu o desmoronamento de uma das pilastras da Ponte Rio-Niterói. Por conta disso, o Ministério dos Transportes interditou a ponte por dois dias enquanto equipes de manutenção inspecionavam todos os pilotis.


Outras artimanhas, porém, eram bem-vindas. Como uma fotonovela sobre a vida de Pelé, publicada em setembro de 1959. No elenco, os personagens reais: além do próprio jogador, o pai Dondinho, a mãe Celeste, amigos como Coutinho. Nos créditos, Benedito Ruy Barbosa surge como autor da história.


Problemas no gerenciamento comercial culminaram com o colapso do grupo Bloch que resistiu até a Justiça lacrar o prédio onde funcionavam as redações, na Rua do Russel, no Rio. A última edição, de número 2.519, circulou em 26 de julho de 2000 e trouxe o ator Reynaldo Gianecchini na capa. O número seguinte chegou a ser preparado pela redação mas, com a agonia da empresa, não passou de uma edição virtual, figurando apenas nos computadores dos jornalistas. E são as imagens dessa derrocada de um grande império que ilustram os últimos capítulos do livro.’


 


 


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A saga de um homem de família


‘Escritor de olhar arguto, Otto Lara Resende gostava de trabalhar na revista Manchete, mas não suportava presenciar as brigas constantes de Adolpho Bloch com os irmãos. Passou, então, a chamá-los de ‘Irmãos Karamabloch’, genial trocadilho com a principal obra de Dostoievski, Os Irmãos Karamazov, que narra relacionamentos tortuosos. A brincadeira inspirou o escritor Arnaldo Bloch a não apenas escolher o título Os Irmãos Karamabloch (Companhia das Letras, 344 páginas, R$ 48) para o livro em que narra a ascensão e a queda de sua família como também a adotar o estilo da narrativa. ‘Fui testemunha privilegiada de vários momentos mas, ao escrever, procurei manter a ponderação necessária’, conta ele, jornalista, escritor e sobrinho-neto de Adolpho.


O livro acompanha a família Bloch desde sua permanência na Ucrânia, há 200 anos, até a forçosa imigração para o Rio, em 1922, conseqüência do pesado período entreguerras. No Brasil, enveredam para o ramo gráfico, que logo culminaria com a criação de um império jornalístico e editorial.


O projeto de contar a história da família começou em 2001, quando Arnaldo visitou a Ucrânia e conheceu onde viveram seus antepassados. Logo percebeu que não poderia apenas reproduzir uma trajetória familiar. ‘Decidi que não faria a biografia de um ?tycoon? (magnata) da imprensa, mas retrataria o espírito de uma família de imigrantes.’


Ciente de que a obra, de alguma forma, vinha sendo escrita desde sua infância, quando já freqüentava a redação da Manchete e convivia com o tio-avô em sua casa em Teresópolis, Arnaldo aproveitou o espírito dos Bloch, sempre dispostos a recriar a própria trajetória, para tecer um texto polifônico, operístico, formado por narrativas impessoais e depoimentos de tios, pais e primos.


É inegável, no entanto, a supremacia, no texto, da figura de Adolpho Bloch. Caçula, pequeno, tímido, com a vida por um fio, ele parecia uma pessoa fadada a não existir, especialmente por carregar o trauma de ter nascido porque sua mãe não conseguira abortar. ‘Fui uma criança muito pequena. Metade da altura dos meus colegas’, afirma, em depoimento do livro. Na escola, era zombado por eles, que o chamavam de ‘pulga’. E, em vez de ser consolado pelos irmãos, recebia duras críticas. ‘Dá graças a Deus de estar aqui. Era para você nem ter nascido’, disse-lhe, uma vez, Bóris.


Por conta disso, observa Arnaldo, seu tio-avô Adolpho desenvolveu uma determinação descomunal, vital para a consolidação do império Bloch. ‘Ele tinha o gosto pela competição, maior ainda pela superação’, conta. ‘Daí sua disposição em construir (com projeto do Niemeyer) o grande prédio da Rua do Russel, forrado de material de primeira linha.’


Foi movido por tamanha determinação que Adolpho enfrentou grandes barões da imprensa, como Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados que compreendiam, entre outros, a TV Tupi e a revista O Cruzeiro. ‘O que os diferenciava era o fato de Chatô ser um homem mais lógico e político, enquanto Adolpho era mais intuitivo.’


A intensidade da fidelidade também os diferenciava. Adolpho dedicava-se sobremaneira aos melhores amigos, mesmo que, para isso, tivesse de enfrentar governos. Foi assim, por exemplo, com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, amigo que acompanhou até seu misterioso acidente, em 1977. ‘Mesmo com os militares no poder, Adolpho arriscava a pele por JK’, conta Arnaldo.


Tamanha paixão nos relacionamentos provocava também momentos curiosos. Arnaldo conta que as atitudes do tio-avô surpreendiam. ‘Ele deixava de ser imperador e virava mendigo em poucos minutos’, afirma. ‘Se se sentia injustiçado, chegava a ser cruel. Mas, se notava ter sido injusto, derramava-se em desculpas a ponto de se humilhar.’


As ligações políticas trouxeram também dissabores. Como quando encampou o governo de Leonel Brizola no Rio, desagradando ao amigo Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo. Com Brizola governador, Bloch conseguiu os direitos exclusivos de transmissão do carnaval e, quando Marinho sugeriu a formação de um pool, ele não aceitou. ‘Foi uma dura decisão, que o levou às lágrimas, mas ali sentiu que precisava agir como empresário.’


O faro, porém, nem sempre funcionou. Adolpho Bloch acreditava muito na força da venda da Manchete nas bancas, desprezando o sistema de assinaturas que os concorrentes já adotavam. Quando, enfim, reconsiderou, entrou tarde no jogo. ‘Também depois da abertura política, a revista não deu um passo decisivo como as outras, que se tornaram mais combativas’, lembra Arnaldo.


Adolpho Bloch viveu para ver a desmontagem de seu império, provocada, entre outros motivos, por rumos financeiros equivocados. Morreu em 1995, atraindo uma multidão ao seu enterro. Entre os anônimos, a apresentadora Angélica, que fora lançada pela TV Manchete. E Roberto Marinho, que permaneceu junto do caixão por meia hora, sozinho, quieto, mãos juntas na altura do vinco do terno.’


 


 


Livia Deodato


Ela dá sentido à sua vida ouvindo a de outras


‘A jornalista Eliane Brum tem um jeito muito peculiar de lidar com a profissão que escolheu para toda vida e com os personagens que dia após dia cruzam o seu caminho. Enquanto muitos repórteres se gabam por, vez ou outra, terem conseguido ‘arrancar’ respostas de seus entrevistados, ela se compromete apenas em ouvir. Ela aprendeu que, como na música, o silêncio é indissociável a tudo o que está sendo dito. Em sua opinião, cada pausa, suspiro, inspiração ou expiração mais prolongada mais revelam do que escondem. ‘Procuro entender o ritmo de cada pessoa, o porquê de seus silêncios. Quando a pessoa pára de falar, ela não pára de dizer. É essa a escuta do nosso trabalho’, afirma em seu tom sereno. ‘Sempre fui mais de observar. Sou uma pessoa ?de canto?’, e gargalha.


Em 20 anos de jornalismo (11 deles no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e quase 9 na Revista Época), Eliane sempre preferiu ouvir e contar histórias aparentemente comuns, de pessoas aparentemente anônimas. No livro que lança hoje, com prefácio de Caco Barcellos, O Olho da Rua – Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real -, estão lá dez histórias de engolir o choro a seco, reportadas desde o ano 2000. Por mais que pareçam terem sido retiradas de contos ficcionais de terror, romances ou suspenses, elas não mentem. E muitos de seus protagonistas continuam vivos para confirmá-las.


Um deles, Hustene Alves Pereira, o Pankinha, foi intitulado O Homem-Estatística de um Brasil sem emprego em 2002. Envergonhava-se de sair de dia pelo bairro onde mora, na periferia de Osasco, com medo de que alguém o visse e pensasse que era vagabundo. Durante três anos, foi sustentado por parcos meses pelos R$ 336 do seguro-desemprego, pelo filho Diego, que ganhava R$ 15 por semana para descarregar galões de 20 litros d?água de porta em porta, e pelos bordados da mulher, Estela.


A matéria que Eliane escrevia sobre ele chegou ao fim muito antes de ele conseguir sair do sufoco. Mas a relação entre Pankinha e a repórter continua até hoje. ‘A gente não entra na vida dos outros impunemente’, garante Eliane. Desde que se conheceram, mantêm contato – Pankinha, que foi empregado como porteiro em 2005 e, no ano seguinte, sofreu um derrame que paralisou o lado esquerdo de seu corpo (em abril deste ano andou pela primeira vez sem bengala), liga e envia e-mails para Eliane regularmente. E todo fim de ano, desde 2003, entrega a ela um diário onde escreve a sua reportagem sobre Eliane.


‘Lá em Ijuí (sua cidade natal, no Rio Grande do Sul), quando eu passava em frente das casas, a pé, de carro ou de ônibus, ficava imaginando como era a vida daquelas pessoas, sobre o que conversavam, sobre o que sonhavam. O jornalismo me deu esse privilégio, o de sempre ter uma desculpa para entrar na casa dessas pessoas’, diz, aos risos.


Para Eliane, não existe linha tênue entre o jornalismo e sua vida pessoal: ela está inteira em todas as relações de sua vida. E sofre por acreditar ser muitas vezes incapaz de transmitir em palavras o que viu, ouviu, viveu. ‘Sou a mesma no garimpo, na favela, no asilo, na Amazônia. O mais fascinante para mim é desligar-me do meu mundo e mergulhar no mundo do outro. E é necessária muita energia para fazer esse despatriamento, se despir da minha visão sobre as coisas. Tento sempre alcançar o outro sem preconceitos, não presumir nada. Não parto do princípio de que a vida é feita de bandidos e mocinhos.’


Uma das provas cruciais é a última reportagem contida no livro, Vida Até o Fim, sobre histórias de vida no leito de morte. Especialmente o perfil de Ailce de Oliveira Souza, A Mulher Que Alimentava. A repórter acompanhou os 115 dias que restavam de vida a Ailce, vítima de câncer. Eliane sofreu por não ter tido a noção do tamanho do compromisso ao qual estava se entregando, no início da reportagem. A matéria só chegaria ao fim quando Ailce morresse. Em mais de três meses de convivência, ela passou receitas culinárias a Eliane e a ensinou a ser mais vaidosa. A jornalista ajudou a dar banho em seu corpo frágil e segurou em sua mão. Ainda hoje, Eliane se detém alcançando o telefone para ligar para Ailce.


Serviço


O Olho da Rua – Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real. De Eliane Brum. Editora Globo. 424 pág. R$ 48. Livraria da Vila. R. Fradique Coutinho, 915, 3814 5811. Hoje, 18h30′


 


 


Antonio Gonçalves Filho


O americano que desafiou o governo


‘Correspondente do jornal The New York Times no Brasil, entre 1999 e 2007, o jornalista norte-americano Larry Rohter, de 58 anos, ficou famoso por protagonizar um constrangedor episódio envolvendo sua tentativa de expulsão do País pelo governo Lula, logo após a publicação pelo jornal americano de uma reportagem, em 9 de maio de 2004, que dizia ser o presidente chegado num copo de cerveja, uísque e cachaça. Seu livro Deu no New York Times, lançado agora pela Editora Objetiva(tradução de Otacílio Nunes, Daniel Estill, Salo Adriano e Antonio Machado, 416 págs., R$ 39,90) conta tudo sobre o episódio e reúne textos inéditos nos quais Rohter analisa o Brasil de maneira franca e corajosa, falando da corrupção endêmica, do racismo camuflado, mas também das experiências boas que teve no País. Por telefone, Rohter falou com o Estado, destacando o papel do jornal na cobertura de casos polêmicos como o do assassinato do prefeito Celso Daniel, que o fez investigar as ligações do crime com a política. Segundo o repórter, foi essa investigação, e não o comentário sobre o suposto hábito de beber de Lula, o estopim que fez o governo tentar expulsá-lo do Brasil.


Você diz em seu livro que Lula e seu partido representam um modo retrógrado de conduzir a política e que, em termos morais e éticos, o Brasil não avançou, graças à convicção do PT de que o fim justifica os meios. Você, que conhece o País há mais de 30 anos e acompanhou vários presidentes, qual modelo de dirigente escolheria para o Brasil?


Acho que o Brasil, desde o fim da ditadura, tem buscado um caminho para avançar no campo da ética. Com Fernando Henrique Cardoso houve avanços importantes, mas o PT reclamava, na época, que faltava transparência por conta das privatizações promovidas durante seu governo. Acho mesmo que um dos modelos democráticos é a política aberta e a transparência, mas considero que houve um avanço enorme no governo Fernando Henrique se comparado ao governo Collor.


Quando você escreveu a polêmica reportagem sobre Lula, em 2004, dizendo que o presidente nunca escondeu seu gosto por bebida, José Dirceu, Frei Betto e Mantega, entre outros, disseram que a matéria era encomendada, presumivelmente pela CIA. Outros disseram que você era um agente infiltrado. Como isso lhe atingiu?


Francamente, achei absurdo, ridículo, mas é difícil rebater esse tipo de acusação. É mais ou menos como tentar se defender da acusação de que você bateu em sua mulher. Como provar que eu não era um agente da CIA? A lógica, claro, levaria qualquer pessoa sensata a ver que isso era impossível: a linha editorial do New York Times e as reportagens que fiz no Brasil fazem essa acusação cair por terra. O argumento que os petistas usaram era de que se tratava de uma matéria encomendada pela CIA ou de que eu tentava minar a agenda do Lula no campo do comércio internacional. No entanto, basta ler a cobertura das conversações comerciais em Doha e de questões como o dumping, simpática às aspirações do Brasil, para atestar que sempre apoiei o País.


Você cita no livro o telefonema que o embaixador Roberto Abdenur fez de Washington, acusando-o de causar um enorme dano ao Brasil e de fazer os mercados enlouquecerem com a difamação do presidente. Você acha que o embaixador estava mais preocupado com Wall Street do que com a imagem de Lula?


Não sei dizer. Considero o embaixador Abdenur um funcionário competente, profissional, dos melhores quadros do Itamaraty, mas ele tinha de representar a posição do governo. De qualquer modo, não é verdade que os mercados enlouqueceram por minha causa. Pelo menos, acho que não, mas precisaria voltar no tempo e ver o que aconteceu com as bolsas…


Você diz que as semelhanças de Lula com George W. Bush começam na falta de curiosidade intelectual dos dois e prossegue pelo desinteresse de ambos em ler relatórios. Como você vê o futuro de ambos e, particularmente, de Lula?


Na semana passada, aqui nos EUA, alguém perguntou a Bush o que ele iria fazer ao deixar a presidência e ele respondeu simplesmente que iria ganhar dinheiro, como o pai. Parece claro que não vamos ver o tipo de atividade cívica como a de Carter, pela qual ganhou o Nobel da Paz, até mesmo porque Bush só visa ao lucro. Pode ser que ele venha a participar da política, mas não vejo quem poderia tirar alguma vantagem tendo Bush num palanque. No caso de Lula, pode até ser que ele continue na política, mas, pelo que vi na América Latina, quando um presidente deixa o poder, é melhor não voltar.


Você acha que a eleição de Obama pode influenciar a próxima eleição presidencial brasileira, despertando a população para o fato de que somos uma nação com grande parte da população negra?


É muito cedo para avaliar o impacto da eleição de Obama, um momento histórico nos EUA, mas não vejo um equivalente seu na política brasileira. De qualquer modo, a vitória dele num país dito racista pode ter algum impacto sobre os jovens negros brasileiros, um impacto muito positivo num país que tem a maior população negra fora da África. Obama é um modelo muito melhor que Michael Jackson ou Eddie Murphy. Acho que o pesadelo finalmente acabou e, parafraseando um slogan político brasileiro, a esperança venceu o medo.


Sobre o polêmico caso do assassinato de Celso Daniel, você afirma que teriam sido dadas ordens a todos os prefeitos do PT para levantar dinheiro destinado à campanha presidencial de Lula, seja por meio das empresas de ônibus de Santo André, do superfaturamento de obras públicas em Campinas, dos contratos de coleta de lixo em Ribeirão Preto ou do programa da aids em Santos. Você acha que a perseguição que o PT teria movido contra você começou quando pediu para dirigentes do partido comentarem o assunto?


Eles ficaram estarrecidos com as minhas perguntas e senti que estava mexendo em algo muito perigoso. Não sei se a perseguição começou com essa matéria, publicada em fevereiro de 2004, três meses antes da reportagem que aparentemente levou o governo do PT a buscar minha expulsão do Brasil, mas ela foi, digamos, o estopim. Considero, aliás essa matéria mais importante do que aquela que decidiu a perseguição. O Estado fez esforços importantes para esclarecer o caso Celso Daniel e foram as reportagens publicadas no jornal que despertaram a minha curiosidade. Quando minha matéria sobre o Celso Daniel saiu publicada nos EUA, o Estado foi o único jornal brasileiro a republicá-la na íntegra.


Como, em seu modo de ver, o Brasil pode extirpar a corrupção endêmica e institucionalizada?


É difícil extirpar a corrupção. É uma falha humana e existe em todas as partes do mundo, mas acho que a transparência é o primeiro passo para acabar com ela. Houve, claro, melhorias desde a ditadura, quando não dava para mostrar ao público o que estava acontecendo. A corrupção, desde então, se espalhou, mas hoje existe a possibilidade de apontar os corruptos e aí é que está o desafio. Às vezes meus amigos e parentes brasileiros ficam sem ânimo para lutar. Dizem que tudo acaba em pizza no Brasil, mas acho que o povo não deve aceitar a corrupção como uma fatalidade histórica. Tem de reclamar, gritar, como fazem os grupos cívicos nos EUA.


Você diz que as falhas do sistema político brasileiro estimulam a corrupção, que há partidos demais e que a maioria deles não está organizada em torno de uma ideologia ou de um conjunto de princípios. O bipartidarismo seria a solução para o Brasil?


Não, decididamente não acho que seja a melhor solução. A política brasileira é mais complicada, acho que o caminho é mais europeu que americano, porque o Brasil é um país de várias tendências ideológicas. Tentar impor um modelo bipartidário não seria o caminho adequado.


Você também critica o conceito do homem cordial e o de democracia racial. Não existe isso no Brasil?


Existem, sim, pessoas cordiais no Brasil, mas esses conceitos de homem cordial e democracia racial são supervalorizados e acabam por encobrir as demais falhas. A questão racial me preocupa muito e espero, de fato, que Obama estimule o debate sobre ela e que esse tenha ressonância no Brasil, onde conheço todos os Estados e sempre fui recebido de forma cordial, embora não muito diferente da recepção dos franceses ou alemães. A miscigenação existe no Brasil, mas aí o racismo veste outra roupa. Nos EUA, ele era escancarado, apoiado em leis e estatutos. Todo brasileiro sabe que existe racismo no Brasil, mas há uma linguagem subterrânea que o disfarça.


Seu enfoque na cultura do Nordeste e da relação dessa com o racismo no Brasil surpreende. Poderia falar um pouco mais sobre ele.


Desde as primeiras páginas do livro falo da brecha entre povo e liderança política no Brasil e o Nordeste é o melhor exemplo desse abismo. É uma região onde nasceu a cultura brasileira e é ao mesmo tempo a mais atrasada com todos aqueles coronéis eletrônicos do tipo ACM. Talvez exista uma ligação entre cultura e racismo, pois foi no Nordeste que as três correntes da identidade nacional brasileira – europeus, africanos e ameríndios – se encontraram pela primeira vez . Muitos brasileiros, em vez de se orgulharem das manifestações culturais nordestinas, parecem ter vergonha delas. Eu, ao contrário, como colecionador de literatura de cordel, fico espantado com a linguagem sofisticada que seus autores usam para falar de abusos políticos.


Além dos cordéis, do que você sente falta do Brasil?


Do cheiro dos abacaxis vendidos por ambulantes, da água de côco de Ipanema, do pôr-do-sol na Amazônia e do sabonete Phebo.’


 


 


PRÊMIO
O Estado de S. Paulo


Revista premia os melhores do ano de 2008


‘Será divulgada hoje a lista dos finalistas do Prêmio O Melhor da Arquitetura, promovido pela revista Arquitetura & Construção. Entre os concorrentes estão o projeto da Ponte Estaiada do Morumbi (escritório Valente, Valente Arquitetos), a reurbanização da Rua Oscar Freire e do Complexo Heliópolis (escritório Vigliecca & Associados), os novos quiosques da Praia de Copacabana (escritório Indio da Costa), o Museu Rodin e o Museu do Pão (Brasil Arquitetura), a pizzaria Quintal do Braz (Atelier Carlos Motta), o shopping Cidade Jardim (Studio Arthur Casas). Os vencedores serão conhecidos esta noite no Teatro Abril, em São Paulo.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Record prefere a Feia


‘A feia levou a melhor. A Record mudou de idéia e resolveu trocar a produção nacional de Rebelde pela versão do sucesso Betty, a Feia. O primeiro fruto da parceria fechada entre a emissora brasileira e a mexicana Televisa foi alterado no final da semana passada.


A Record, que chegou a anunciar à imprensa a escolha de Rebelde para sua 1ª adaptação, desistiu por conta do tempo escasso para colocar a produção no ar. A direção da rede acredita que seria corrido realizar uma seleção com jovens de todo o País em menos de 5 meses.


A idéia da Record é compor o elenco de Rebelde com talentos selecionados em um grande concurso nacional.


O medo de falhar logo no primeiro produto da parceria fez a emissora optar pela adaptação de Betty, que julga ser mais simples. A ordem na rede é para a autora Margareth Boury iniciar já a adaptação do texto da novela, que terá direção de João Camargo.


A seleção do elenco ficou para o início do ano e as gravações devem começar em março. A estréia da versão de Betty, a Feia está prevista para abril, na faixa das 19 horas. Já Rebelde, ficou para o segundo semestre de 2009.’


 


 


 


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