‘As críticas à editoria Gol, responsável pela cobertura esportiva, são cíclicas, com o humor variando de acordo com a situação em que se encontram os dois principais times de futebol do Estado, o Ceará Sporting Club e o Fortaleza Esporte Clube. (Como alguns torcedores podem se queixar de um clube estar na frente do outro, ressalvo que utilizei o critério da ordem alfabética.) Quando acontece uma final de campeonato ou o confronto direto entre os dois times, aumenta o número de manifestações recebidas pelo ombudsman. As críticas são idênticas: os torcedores do Fortaleza dizem que o jornal favorece o adversário; os torcedores do Ceará argumentam a mesma coisa.
Fortaleza
Depois de questionar O Povo, perguntando se o jornal quer ficar igual a alguns outros meios de comunicação ‘totalmente tendenciosos’, o leitor afirma que o editor Paulo Rogério vem ‘induzindo’ os leitores a ver ‘sempre aspectos negativos do Fortaleza’ ao tempo em que ‘busca encontrar’ o que poderia ser considerado pontos positivos no Ceará para dar divulgação. Professor universitário e colaborador do jornal, com artigos publicados nas editorias de Economia e Opinião, o leitor afirma que ‘basta uma análise isenta’ do período em que Paulo Rogério redigiu a coluna Confidencial, nas férias do titular, Alan Neto, para se notar a ‘tendenciosidade’.
Para o professor, a suposta falta de isenção vai além da coluna: ‘Foi uma constante durante 2007, mas na semana que antecedeu a decisão do campeonato cearense, a parcialidade foi absurda’. Ele cita ‘duas ou três matérias’ sobre a ‘onda verde’, sendo que ‘uma delas chegou ao absurdo de colocar a foto de um ex-torcedor do Fortaleza com a camisa do Icasa e, ao fundo, a logomarca da [loja] Rabelo’. Verde e branco são as cores do Icasa, time de Juazeiro do Norte que disputou, e perdeu, a final do campeonato estadual para o Fortaleza; a loja citada é do empresário Eugênio Rabelo, presidente do Ceará. O professor faz ainda outros comentários a respeito de vários fatos que, segundo ele, são publicados de modo a favorecer o Ceará em detrimento do Fortaleza.
Ceará
Nesta mesma semana, recebi também e-mail de outro leitor, que voltou a ser assinante do O Povo depois de 12 anos afastado, segundo escreveu. Ele fez questão de se apresentar e à sua família. O leitor trabalha na área de marketing, gosta de música popular brasileira, anda ‘meio decepcionado’ com a política, mas gosta de ler notícias sobre o assunto; a mulher dele é contabilista; o casal tem dois filhos universitários – toda a família é torcedora do Ceará. Ao receber o primeiro exemplar do jornal na sua nova fase de assinante (edição de 5/5), o que ele chamou de ‘reencontro’, declarou-se ‘decepcionado’, e escreveu: ‘Não acreditei. Revistei novamente, com cuidado, as quatro páginas esportivas do jornal e deparei novamente, depois de muitos anos, com a realidade de outrora [a suposição de que o jornal torcia pelo Fortaleza]. Ocorreu uma indignação completa da turma aqui de casa’. Ele cita, pelo título, todas as matérias da editoria, nenhuma delas a respeito do Ceará, e pergunta: ‘O Ceará inexiste? Não está em evidência? Não estreará daqui a seis dias no [campeonato] brasileiro? Não tem espaço nem para notícias breves neste jornal?’ O leitor conclui dizendo que a ‘paixão clubística’ dos jornalistas não pode justificar a ‘exclusão’ do Ceará do noticiário.
Os leitores
Fiz questão de reproduzir essas duas cartas por estes motivos: 1) é de se reconhecer que os autores desenvolvem a argumentação de maneira coerente, pela lógica do torcedor, com a vantagem de fazê-lo de forma respeitosa; 2) normalmente se forma a idéia do torcedor tomando-se a pior parte do segmento, aquele que costuma depredar o que vê pela frente em dia do jogo; por isso apresentei uma espécie de perfil dos dois leitores referidos; 3) por fim, quis pôr em confronto a opinião de dois leitores qualificados, um torcedor do Fortaleza Esporte Clube, outro do Ceará Sporting Club, de modo a ilustrar as principais críticas que o ombudsman recebe sobre a cobertura de futebol, mostrando como elas se equivalem, bastando trocar o sinal.
O editor
Já estaria de bom tamanho, mas o editor Paulo Rogério foi citado diretamente, e pedi que se manifestasse. O editor lembra que, durante a substituição do titular da coluna Confidencial, criticou várias vezes o Ceará, como nas edições de 20/12/2006, 2/1 e 4/1/2007, a respeito da desorganização com impostos trabalhistas, falta de planejamento e de transparência, alertando para a falta de prestação de contas do clube. Paulo Rogério diz ainda que a ‘ética jornalística’ o move como profissional, não a possível simpatia por qualquer clube. Da minha parte, eu costumo sugerir aos leitores – reconhecendo que os eventuais erros e as possíveis avaliações equivocadas – a verificação de uma seqüência de exemplares, de modo a permitir a visada mais ampla do assunto em análise.
Torcedores
As correspondências que recebi de torcedores durante certo tempo eram bastante agressivas. Mesmo a essas cartas, sempre respondi de modo equilibrado, propondo o debate em termos razoáveis. Hoje, vejo uma mudança: continuo a receber queixas de torcedores assumidos, mas o tom mudou positivamente. Ainda existe a inevitável paixão clubística, mas a maioria das manifestações levanta questões muito interessantes. Creio que torcedor sempre será torcedor (se assim não fosse, o futebol perderia muito de seu encanto), mas observando a evolução da polêmica, estimo ser possível fazer um debate produtivo com um segmento importante deles.
Abraji
Entre os dias 16 (quarta-feira) e 21/5 estarei em atividade fora do jornal. No período participarei, em São Paulo, do congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da qual sou diretor. Nesses dias, as ligações dos leitores serão atendidas pelos secretários da Redação. Os e-mails, responderei na medida do possível, encaminhando os mais urgentes aos editores. No próximo domingo (20/5) a coluna do ombudsman não será publicada.’