‘Entre as mudanças que o jornal fez recentemente está a junção dos cadernos Buchicho e Guia Vida & Arte, surgindo um novo suplemento o Buchicho + Guia, publicado às sextas-feiras (nos outros dias o Buchicho continua circulando normalmente). As outras modificações – o novo dia de circulação do Jornal do Leitor (aos sábados em vez de domingo) e a unificação da edição dos Populares de quinta-feira com o caderno Veículos -, nascendo o Populares + Veículos, já foram comentado nesta coluna. O caderno Veículos seguiu a mesma tendência de Empregos que, há bem mais tempo, está unificada aos Populares, edição de domingo.
O surgimento de vários suplementos devido à ‘revistização’ dos jornais, com o objetivo de alcançar público em diversos segmentos de leitores, é uma tendência que se acentuou com o surgimento da internet. Se essa política se revelará correta para que os jornais mantenham ou ampliem o seu público ledor é uma questão ainda em aberto. Mas o fato é que existem suplementos que devem interessar muito a alguns leitores, enquanto outros podem considerá-los desinteressantes. O Buchicho e o Guia Vida & Arte, a meu ver, era um desses casos – sem desmerecer ou considerar melhor um ou outro público: são apenas diferentes, ainda que, eventualmente, seus interesses pudessem confluir.
O Buchicho é um caderno mais ocupado com colunas sociais, ‘fofocas’ temas adolescentes, entrevistas com ‘famosos’; em poucas palavras, com o que se chama de ‘variedades’ ou ‘assuntos leves’. O antigo Guia Vida & Arte, ao tempo em que oferecia ‘serviço’ sobre as atividades culturais e de lazer do fim de semana, também continha resenhas, críticas e textos mais sóbrios. No comentário interno, analisei a unificação como equivocada, pois, além das diferenças, avaliei que o Guia Vida & Arte perdera a identidade e até o nome, pois o novo caderno incorporara apenas o ‘Guia’ na nova marca. Considerei que o Buchicho simplesmente absorvera Guia V&A, tendo seus assuntos típicos ficado meio ‘perdidos’ na primeira edição (26/10).
Sobre o assunto, consultei, via e-mail, todos os integrantes do Conselho de Leitores: três responderam. Dois conselheiros viram como negativa a unificação. Joaquim de Melo Neto Segundo diz que lia ‘toda sexta-feira’ o Guia Vida & Arte, sem nunca ter lido o Buchicho: ‘Gostava muito do Guia Vida & Arte como era antes; acho que o jornal perdeu’. Para Hiran Nogueira, seria ‘mais cômodo ter um caderno delimitado’, sem que ele precisasse ‘folhear’ o Buchicho ‘para encontrar as dicas e a programação do fim de semana’. Diferentemente, Francisco Campelo considerou ‘interessante’ a junção dos cadernos, ‘até mesmo porque propiciará ao leitor que, por preconceito ou por falta de interesse, antes nem mesmo abria o outro caderno [Buchicho], agora o folheará, obtendo alguma informação que não teria’.
O editor-chefe Erick Guimarães defende o Buchicho + Guia dizendo que, embora tenha incorporado os temas dos dois suplementos, é ‘um produto novo’, por isso, ainda estaria em fase de ‘ajustes’. Para ele, já houve evolução entre a primeira e a segunda edição (publicada nesta sexta-feira), com os assuntos próprios dos dois cadernos anteriores alcançando um bom equilíbrio, mantendo-se a ‘lógica’ do guia de arte e cultura do fim de semana, os temas próprios do Buchicho e, ainda, evitando-se a sobreposição de matérias, comum quando havia os dois cadernos. Como novidade agregada, ele cita a seção ‘Em Casa’, que oferece sugestões de filmes, restaurantes e outros serviços com entrega em domicílio, para atender aqueles que gostam de se divertir sem sair de casa, uma tendência que estaria crescendo. De fato, existia duplicidade de notícias com os dois cadernos, mas era problema de fácil de resolver, a partir de um entendimento mínimo entre os editores.
A meu ver, diferentemente do que aconteceu com Empregos e Veículos com os Populares, a junção do Guia Vida & Arte com o Buchicho me pareceu um casamento um pouco forçado.
TV BRASIL
O debate que se dá em torno da constituição da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que terá a responsabilidade de implantar uma rede pública de televisão no país – de nome provisório TV Brasil – deveria mobilizar a população tanto quanto uma final de campeonato de futebol ou a torcida para que a Copa do Mundo aqui se realizasse. Uma rede pública de televisão é essencial à democracia, à ampliação do debate e à formação cidadã. Existe um aparelho de televisão em praticamente cada lar brasileiro e não é saudável que TV aberta comercial continue a falando sozinha para tão amplo público. A pluralidade de vozes só fará bem à democracia.
A ‘guerra’ que se dá atualmente entre a Rede Record e a Rede Globo ilustra bem os limites da televisão comercial: a desafiante emula a desafiada no seu ‘padrão de qualidade’, lutando no terreno delimitado pelos níveis de audiência e pelos interesse comerciais – e outros por enquanto obscurecidos.
A mobilização e o esclarecimento são necessários, pois interesses poderosos se levantam contra a TV pública. O senador Tasso Jereissati (PSDB), cujo grupo empresarial inclui a TV Jangadeiro, chegou a pôr como condição para que o seu partido aprovasse a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) que o governo desistisse da TV Brasil, segundo o ‘Blog do Josias’ (29/10), do jornal Folha de S. Paulo. O partido Democratas (DEM, ex-PFL) afirma que entrará com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin), no Supremo Tribunal Federal (STF), contra a medida provisória que criou a EBC. Por outro flanco, os proprietários da TVs comerciais atacam a TV Brasil, pelo direito que ela terá de captar publicidade, a título de apoio cultural, temendo a concorrência na divisão dos recursos que as empresas destinam ao segmento.
Acima de interesses partidários e comerciais, tem de estar o direito da sociedade à diversidade de informação, com o que, se espera, a TV pública contribuirá.’