Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Plínio Bortolotti

‘As recentes mudanças editoriais do O Povo levaram-no a dedicar mais páginas e seções ao chamado ‘jornalismo de serviço’, que se caracteriza por oferecer ao leitor informações úteis ao seu dia-a-dia. A tendência do jornalismo de serviço floresceu na década de 80 do século passado e parece ter voltado a ganhar impulso com a concorrência que os jornais vêm sofrendo da internet. Como essas informações têm influência direta na vida de muitos leitores, os erros nelas cometidos provocam conseqüências imediatas e muitas vezes graves. A informação errada sobre o horário de um filme pode causar apenas irritação em quem confiou no jornal, mas o erro em uma data para a inscrição de um concurso, por exemplo, pode levar a prejuízos maiores. (Ressalve-se que o jornalismo de serviço não se dedica apenas a noticiar horários de filmes e datas de concursos, ele orienta sobre aplicações financeiras, emprego, compra de produtos, entre vários outros assuntos).

Populares

Com o lançamento do Populares-Caderno de Empregos, um desdobramento do tradicional Populares do POVO (classificados), os anúncios sobre empregos, cursos, concursos e estágios passaram a ser publicados separadamente, com a novidade de, no mesmo espaço, serem também editadas notícias relativas a esses temas, sob a responsabilidade da editoria de Economia. Semanal, publicado aos domingos, lançado na edição de 25/9, o caderno parece ter alcançado rapidamente boa aceitação, o que faz aumentar a responsabilidade sobre o que divulga.

O fato concreto que leva a esses comentários é o seguinte: na edição de 16/10 do Populares-Caderno de Empregos foi publicada notícia (pág. 16) sob o seguinte título: ‘Sebrae seleciona estagiários’. O texto informava que as inscrições seriam ‘a partir do dia 3 de novembro’, para a seleção de estudantes de diversas áreas. Na segunda-feira recebo um e-mail de Daniel Kaúla, coordenador de Comunicação e Marketing do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), reclamando que a notícia saíra com erro, pois as inscrições haviam ocorrido entre os dias 3 e 11 de outubro, já encerradas, portanto. Ele afirmou que as informações corretas foram publicadas no próprio caderno, em 2/10, como anúncio pago pelo Sebrae, como de fato se pode ver na pág. 2 da edição desse dia. Kaúla disse ter falado com os setores envolvidos na seleção, verificando que nenhum repórter do jornal consultara o Sebrae antes de publicar a informação, fato confirmado pelo editor de Economia do O Povo, Marcos Tardin. Este disse que o repórter responsável pelo texto havia pinçado a data de um jornal especializado em concursos.

Credibilidade

Mas os problemas não tinham acabado. Na edição de 18/10, na seção ‘Erramos’ (pág. 6) foi feita uma ‘correção’ da notícia, nos seguintes termos: ‘A reportagem publicada no domingo informou que o Sebrae estaria selecionando estagiários a partir de 3 de novembro quando, na verdade, a seleção já ocorreu de 3 a 11 de outubro’. Acontece que o ‘erramos’ estava errado. Entre 3 e 11 de outubro, foram realizadas as inscrições, a seleção será no dia 24/10 (amanhã). Kaúla disse ter a confusão provocado uma chuva telefonemas ao Sebrae: tanto de pessoas querendo fazer inscrição, como de inscritos perguntando se a seleção fora cancelada. Segundo ele, o mais difícil foi convencer os que queriam se inscrever e não aceitavam que houvesse erro do O Povo. ‘Um deles chegou a dizer que preferia acreditar que o jornal estava certo e nós errados’, disse Kaúla. Para O Povo isso é ótimo e péssimo. É bom, pois demonstra a credibilidade do jornal, e é ruim ao mostrar que tais falhas prejudicam um patrimônio construído ao longo de décadas. O acontecimento também mostra como um erro aparentemente menor, possivelmente inócuo para a maioria dos leitores, pode ter conseqüências danosas para outros.

É utopia fazer um jornal sem erros e não se pode sacrificar o jornalista que os comete eventualmente, pois nem sempre é possível controlar – o tempo todo – todas as variáveis envolvidas na produção das notícias. No caso do jornalismo de serviço, um dos fatores pode ser a falta de pessoal na redação para fazer a conferência criteriosa exigida nesses assuntos: datas, horários, percentuais, preços, números de telefone, endereços e outras minúcias. De qualquer modo, o leitor quer a informação correta, e esses problemas têm de ser resolvidos internamente, com o que concorda o editor Marcos Tardin: ‘Vamos aumentar a verificação’, diz ele. Tardin informa que a edição de hoje do Populares-Caderno de Empregos trará a retificação da notícia sobre a seleção de estagiários para o Sebrae.

Erramos

Como um assunto puxa outro, aproveito para falar da seção ‘Erramos’. O Povo é o único jornal no Ceará a mantê-la, um inequívoco sinal de respeito ao leitor. Se os erros são inevitáveis, o correto é assumi-los e corrigi-los, como forma de reduzir os prejuízos para o leitor e para quem for vítima deles. No entanto, parece que a seção é tratada como o ‘primo pobre’ por algumas editorias, que só fazem as correções depois de seguidas cobranças do ombudsman e da direção da Redação. Mesmo assim, na maioria das vezes, as correções são incompletas, quando não incompreensíveis, deixando de cumprir o importante papel esclarecedor e educativo que deve ter para os leitores e também para o jornalista. Assumir os erros não é mera questão formal. É um dado revelador da importância que se dá ao leitor, à profissão e ao jornalismo. Sugiro aos leitores, depois da primordial leitura da Primeira Página e do E-Mais, passar diretamente à seção da página 6, ajudando a cobrar a correção de eventuais erros dos jornal.