Mais uma vez nossos políticos são salvos dos comentários e da opinião pública sobre a legitimidade de seus atos. Acho até que muitos deles, principalmente os envolvidos, pedem às suas entidades espirituais para colocar algum novo fato na mira da imprensa. E a mídia, como de costume, não sabe fazer duas coisas ao mesmo tempo – a falta de jogo de cintura na cobertura de fatos importantes é desastrosa. Isso porque todos os holofotes são direcionados para uma mesma direção.
Antes de entrar em cena o caso de Isabella Nardoni, não se falava em outra coisa senão a CPI dos cartões corporativos. E, por falar em CPI: será que alguém sabe dizer como anda a situação das autoridades que usaram os cartões do governo como se fossem particulares? Nossos colegas precisam aprender a dar continuidade aos fatos, sem se desvirtuarem em virtude de novos acontecimentos.
Outra CPI voltou a fazer parte da pauta de reuniões dos parlamentares – a CPI dos sistema carcerário. Podem ficar tranqüilos, não vou perguntar como anda o assunto, até porque já foi citada a unilateralidade da cobertura jornalística.
Jogar a isca
A falta de continuidade de assuntos como o das CPIs pode muito bem ser um problema relacionado com a produção dos veículos de comunicação, que têm a tendência de abordar temas mais recentes e relevantes. E se esquecem de dar continuidade aos fatos que iniciaram. É preciso que os colegas pauteiros fiquem atentos.
Precisamos informar a população sobre fatos importantes que surgem na sociedade. É preciso dar subsídios aos leitores, telespectadores e ouvintes para que tirem suas conclusões, para que cobrem soluções, seja do poder público, seja pelos seus direitos. Não podemos jogar a isca e depois cobrar da população uma posição crítica.
Assassinatos e roubos
A falta de foco da nossa mídia foi muito proveitosa para nossos deputados federais. Mais uma vez, aproveitando-se do esquecimento da nossa imprensa, os deputados votaram mais que depressa o aumento da verba de gabinete. Alguns têm a cara-de-pau de dizer que é um direito da Casa. Pode até ser, mas deveriam ter mais responsabilidades. Outros são contra a aprovação, como é o caso da líder do PSOL na Casa, deputada Luciana Genro (RS), que classificou como ‘inaceitável’ a atitude. ‘É inaceitável que a Câmara, que já tem gastos elevados, promova um ato dessa natureza.’
O fato é que a imprensa não pode eleger um fato como sendo o mais importante e deixar de evidenciar o que acontece em volta. A competência não está em ser o veículo que aborda um fato por diversos ângulos, mas que também se lembra de que não vivemos apenas de assassinatos e roubos.
******
Jornalista, Brasília, DF