Parabéns à revista Época que traz na capa de sua edição nº 464 (4/4/2007) chamada para uma excelente reportagem sobre enxaqueca, essa doença crônica tão incompreendida. A matéria demonstra, através de entrevistas, as dificuldades dos portadores de enxaqueca em mostrar que sua doença não é frescura. Mais que isso: uma série de médicos líderes na área, do Brasil e exterior, mostram que a doença é legítima, sim. E possui tratamento eficaz.
Parabéns, em especial, à jornalista Suzane Frutuoso, que assina a matéria. Ela presta um excelente serviço de informação ao resumir os variados mecanismos e tratamentos da enxaqueca, embasando-se em estudos científicos de diversas fontes. Em nenhum momento ela cai na tentação de dar explicações simplistas, ao mesmo tempo em que expõe fiel e imparcialmente as última tendências numa linguagem extremamente acessível. Um exemplo a ser seguido, de pesquisa e comprometimento jornalístico. Como médico militante na área de enxaqueca, em nome de todos os pacientes que têm sua qualidade de vida devastada por esta doença e pela desinformação que a acompanha, meu muito obrigado por esta matéria de rara qualidade.
***
Sabemos que Educação (de Verdade) é um assunto complexo, principalmente quando situada em um contexto desfavorável, como é o caso do Brasil. Falo aqui especificamente da educação pública, embora também saibamos que exista uma educação privada em iguais condições, mas que se esconde sob o manto de ‘escola particular’. Ou seja, suas fragilidades são encobertas ou não-percebidas em função da ideologia presente no senso comum de que o adjetivo ‘particular’ seja suficiente por si mesmo.
Sou professor da rede pública e venho presenciando há anos o esfacelamento do ensino em nosso país. São crianças com problemas familiares absurdos, que superlotam as salas de aula, como se estivessem brincando no meio da rua, sem o mínimo de noção do que venha a ser uma escola. Não as culpo. Não eximo os profissionais da educação (professores, gestores escolares etc.). A análise vai muito além do que 1400 toques permitem. A análise vai muito além das opiniões de um professor. Ela perpassa por um universo analítico que nasce no social-financeiro, deságua no psicológico-cultural, desemboca no educacional e se alastra sociedade afora. Todos sabemos disso! Inclusive a imprensa. Contudo, quando se reserva um espaço para se falar sobre educação, a ladainha é sempre a mesma: a culpa é do professor. A imprensa está a serviço de quem? Isso vocês sabem melhor que qualquer um. E aí? (Gentil Tadeu Gomes, professor, São Paulo, SP)
***
Em entrevista concedida ao caderno ‘Prosa e Verso’ de O Globo (07/04/2007), o general e ministro do STM Valdésio Guilherme, numa linguagem simplória, garante que o Exército não tinha como uma de suas funções precípuas, na ditadura, torturar e matar os presos políticos e os ‘subversivos’, atribuindo tais atos a alguns militares incluídos em uma ‘meia dúzia de malucos’.
Revela desfaçatez quando, ao defender o coronel Brilhante Ustra, afirma que este ‘apenas’ torturou e não matou ninguém, ao contrário de alguns ministros de Lula ou dos tribunais superiores (que são as únicas pessoas que têm este título), que, ao dizer que fizeram coisa pior, o general os acusa de assassinos. (Se verdadeiro for, devia ter tido a coragem de nomeá-los ao jornalista, durante a entrevista, a fim de que a informação servisse de notitia criminis para o Ministério Público, e, caso exista necessidade, denunciar os indivíduos).
Ao ser perguntado sobre a possibilidade de o processo contra o coronel Ustra abrir um precedente, responde evasivamente a fim de inverter e menosprezar o cerne da questão, quando diz ser mais importante se preocupar com outros assuntos, tais como a economia, o desemprego etc. A pergunta era sobre X, ele responde sobre Y. Tanto X quanto Y devem ser levados a sério, e assim tratados por seus responsáveis.
Apesar de ser um ministro de um Tribunal Superior (deveria conhecer o regime legal em vigor), acrescenta ainda que desconhece se atualmente estamos ou não numa ditadura. E, para fechar com chave de ouro a seqüência de absurdos proferidos, afirma serem os guerrilheiros responsáveis pelo sepultamento dos desaparecidos políticos mortos pelo regime e que já se gastou muito dinheiro à procura de ‘ossos’.
Os guerrilheiros não podem ser responsáveis por enterrar os ‘subversivos’ porque o regime foi hábil em sumir com seus rastros, e, só para humanizar o general, as famílias das vítimas da monstruosidade que foi o regime militar não estão ‘atrás de ossos’, mas, sim, de resgatar a dignidade e a memória de seus entes queridos.
Por estarmos num Estado democrático e de direito – e a liberdade de expressão e de imprensa ser garantia constitucional –, manifesto minha indignação com a declaração dada pelo general. (Cristiane Bezerra, estudante de Direito, Niterói, RJ)
***
O Globo segunda-feira (2/4) traz matéria intitulada ‘De simples areais…’, uma reportagem mostrando a evolução da urbanização na Barra da Tijuca, no Rio. Ao chamar restingas, ecossistemas costeiros ameaçados de extinção, de ‘simples areais’ o jornalista reforça a crença da pouca importância que o meio ambiente representa. Ou seja, presta um desserviço à questão ambiental, do próprio local onde a reportagem é assunto, pois é uma área de ocupação descontrolada. Como também é equivocado o lead da matéria ‘Permissão para desmatar’ (O Globo, 22/3/2007), totalmente contraditório para uma reportagem que apresenta o decreto que regulamenta o uso sustentável de recursos naturais. Afinal, é desmatamento ou regulamentação? Pegou mal! (Ana Paraense, professor, Rio de Janeiro, RJ)
***
Matéria da Folha de S.Paulo de terça-feira (3/4) comete um equívoco imperdoável: com o pretexto de criticar a esquerda e os chamados bichos-grilos (hippies), passa por cima, com impiedosa grosseria, de um estilo musical dos mais belos e artísticos do planeta. ‘Quando subirem juntas, amanhã, ao palco do Credicard Hall, em São Paulo, a brasileira Maria Rita, 30, e a argentina Mercedes Sosa, 71, estarão relembrando um raro capítulo em comum entre a música popular brasileira e a hispano-americana: o da folclórica, engajada – e hoje totalmente kitsch – canção de protesto. (…) Para o jornalista Marcelo Tas, que encarnou o repórter Ernesto Varela no fim do regime militar, aos olhos de hoje, todo o cenário da música engajada parece fazer parte de `um programa de humor´. (…) Quem gostava desse tipo de música nos anos 70/80 era o pessoal de `barba e bolsa´. (…) `A música brasileira de protesto sempre foi muito superior artisticamente do que a desses outros países. É por isso que a brasileira resistiu e a latino-americana parece hoje uma caricatura.´ (Fagner)’.
A indignação não vem somente pelo fato de a matéria ser preconceituosa, mas pela absoluta ignorância demonstrada pelo editor e pelos entrevistados. A musicalidade não é de esquerda nem de direita. (Hélio Amaral, músico, São Paulo, SP)
***
A torcida da imprensa para ver o circo pegar fogo chega a ser escancarada! Hoje (quinta, 5/4), leio em uma manchete: Um vôo da Gol atrasou. Mas podem ocorrer mais atrasos! (o grifo é meu). Desde que me conheço como gente, e em 30 anos como piloto, sempre ocorreram eventuais atrasos. Mas, nesses dias, se um avião não decolar ou pousar rigorosamente no horário já é motivo de manchete em jornais,TVs e internet. Parem com isso, gente. Já encheu. (Carlos Cassaro, aposentado, Curitiba, PR)
******
Médico, membro da American Headache Society, autor de Enxaqueca, finalmente uma saída e A dor de cabeça morre pela boca; www.enxaqueca.com.br; São Paulo, SP