Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por que Rupert Murdoch quer o Wall Street Journal

Vêm circulando rumores, nos últimos meses, de que Rupert Murdoch começa a mostrar a idade que tem – acabou de completar 76 anos –, o que nada tem de surpreendente. Mas seus amigos garantem que o magnata das comunicações sempre teve a tendência a pronunciar frases compridas e desconectadas, assim como a se repetir. Se ocorre uma eventual falta de clareza em sua explicação sobre a estratégia de sua News Corporation – em especial no que se refere à sua aproximação de novas mídias, através de aquisições como a do website MySpace –, quando tal estratégia é posta em prática sua excelência é inquestionável.

E se ações falam mais alto do que palavras, o recente comportamento de Murdoch berra que ele continua sendo o esbanjador ousado e inovador, voltado para o domínio da mídia global, que sempre foi. No dia 1º de maio, vazou que a News Corporation tinha oferecido 5 bilhões de dólares pela Dow Jones, uma empresa de comunicações que inclui o Wall Street Journal e uma rede respeitável. Embora a Dow Jones venha sofrendo, há muito, de dificuldades administrativas na área publicitária, considerava-se líquido e certo que a família Bancroft – que detém o controle acionário através de ações especiais com direito a voto – não venderia de maneira alguma para qualquer arrivista do tipo de Murdoch, embora talvez o fizesse para os donos do New York Times ou do Washington Post.

De início, a resposta da família a Murdoch foi ‘Não’. Por seu lado, os acionistas também não pareceram impressionados: após a oferta, o preço das ações da News Corporation caiu, carregando 3 bilhões de dólares de seu valor no mercado. Mas a audaciosa oferta de Murdoch ainda podia dar certo. Pelo menos, a Dow Jones ainda está ‘na roda’ – e Murdoch está numa posição em que assusta seus rivais mais plausíveis.

Em primeiro lugar, porque sua oferta é extremamente generosa. A 60 dólares por ação ordinária, está 65% acima do preço de fechamento em 30 de abril, antes que vazasse a notícia da oferta. Valoriza a Dow Jones em mais de 16 vezes de sua expectativa de lucros pré-fixados para 2007, um número muito superior ao de outras editoras de jornais. E isso deve ser tentador para alguns dos descendentes mais jovens de Clarence Barron, o ‘pai do jornalismo financeiro’. Em breve, eles serão maioria na família e consta que estão fazendo um lobby junto aos mais idosos para trocar suas ações pelo dinheiro vivo de Murdoch. (Cerca de 80% dos votos da família são contrários à oferta, mas eles representam apenas 52% do total de votos e, portanto, um pequeno número de deserções poderia alterar o peso da balança.)

Por outro lado, o mercado editorial para jornais não vai particularmente bem. Na verdade, com a rápida migração da publicidade para a internet, já foram feitas previsões, inclusive na Economist [veja o artigo, em inglês], de que a indústria de papel de jornal está destinada a sofrer severos cortes. Os integrantes mais jovens da família Bancroft estão de olho no fracasso da família Chandler em conseguir um bom preço pela venda do grupo Tribune Company – que detém os jornais Los Angeles Times e Chicago Tribune –, o qual acabou sendo vendido barato, no mês passado, a Sam Zell, um magnata do comércio imobiliário, e à cooperativa de empregados acionistas da empresa. E concluem que deveriam passar a mão no dinheiro de Murdoch antes que ele mude de idéia.

O que leva à pergunta dos 5 bilhões de dólares: por que Murdoch quer a Dow Jones? Há duas correntes de opinião e nenhuma delas sugere que a oferta deva ser vista como um recado sobre valores de outras editoras de jornais – embora as ações destas últimas tenham subido bastante com a notícia da oferta pela Dow.

A primeira dessas correntes vê a oferta como a prova mais recente de que Murdoch é um dos poucos patrões da ‘velha mídia’ que ‘vai atrás’ da ‘nova mídia’. Esqueça a edição impressa do Wall Street Journal e focalize sua atenção na lucrativa edição online. O conteúdo é tudo e a chave para o sucesso está em fornecê-lo através de muitos canais – tanto da ‘velha’ quanto da ‘nova’ mídia. Observe como a News Corporation utiliza seus websites para gerar um aumento de audiência para seu programa de televisão American Idol. Murdoch está lançando um canal de televisão de negócios no outono. Exatamente onde se encaixa à perfeição o conteúdo da Dow Jones.

News he can use, perhaps

Entretanto, o canal de negócios é um lançamento arriscado e não teve um apoio entusiástico na News Corporation, onde é visto por alguns dos principais executivos como o projeto de vaidade pessoal de Murdoch. Aparentemente, ele teria localizado um lugar adequado e lucrativo para um canal de negócios – na mesma linha em que seu canal Fox News conta com muitos espectadores que preferem uma cobertura política ‘moderada e equilibrada’ ao fuzuê dos liberais emotivos da CNN. Mas a CNBC, o principal canal de negócios dos Estados Unidos, dificilmente pode ser chamado de anti-negócios e está muito mais afinado com o que os espectadores querem (a saber, informação correta sobre o que pode prejudicar seus investimentos) do que estava a CNN quando Murdoch lançou a Fox. Além do mais, a Dow Jones tem obrigação contratual de fornecer o conteúdo à CNBC até 2012 – prazo durante o qual o destino do canal rival do de Murdoch com certeza já terá sido decidido.

E é por isso que a segunda corrente tende a desconsiderar os argumentos da ‘nova’ mídia utilizados pela News Corporation para justificar a compra da Dow Jones como uma concessão aos acionistas que acham que a empresa de Murdoch tem uma confiança exagerada em jornais, alguns dos quais vão mal. No mês passado, ele conseguiu finalmente livrar-se de um dos mais truculentos desses acionistas, adquirindo as ações da Liberty Media, um conglomerado dirigido por um velho amigo seu – agora, bastante irritado –, John Malone. Isso o liberou para ir atrás de seu velho sonho de possuir um jornal global de negócios.

Há muito tempo Murdoch vem cobiçando o Wall Street Journal e o Financial Times. Em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, ocorreram conversas com empresas ligadas ao mercado de capitais visando à possibilidade de fazerem uma oferta conjunta a Pearson, dono do Financial Times (e co-proprietário da Economist), mas aparentemente faltou fôlego. Então, ele voltou sua atenção para a Dow Jones.

É inevitável que, com a reputação de centralizador de Murdoch, existam temores de que ele possa sabotar a independência editorial da cobertura do Wall Street Journal. Porém, com certeza ele compreende que uma interferência excessiva mancharia a reputação do jornal, cujo valor reside em ter leitores ricos que valorizam um jornalismo honesto. Entretanto, caso ele queira nomear um homem de confiança para o cargo de editor, tem um na Inglaterra: Robert Thomson, editor do Times, de propriedade da News Corporation, desde 2001, quando deixou o cargo de editor do Financial Times.

Alguns acionistas da News Corporation estão sigilosamente furiosos com a disposição de Murdoch de pagar um preço tão alto por aquilo que consideram a mulher jovem de um homem velho. No entanto, se o negócio se materializar, poderá ser melhor do que temem. Existem algumas sinergias entre a News Corporation e a Dow Jones, assim como culturas bastante semelhantes. A Dow Jones foi desastrada em sua expansão internacional e, paralelamente, não conseguiu cortar as despesas domésticas. Murdoch pode, realmente, ‘ir atrás’ da ‘nova mídia’ e pode ter descoberto oportunidades lucrativas dentro da Dow Jones. Se assim for, e se sua oferta tiver êxito, não seria a primeira vez que ele demonstra que seus críticos estão errados.

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The Economist