Em meio a uma Vila Belmiro lotada, torcedores, debaixo de um calor infernal de verão, aguardam ansiosos. Eis que se aproxima um helicóptero que, sob confetes e hinos de amor ao clube, pousa bem no meio do solo sagrado da modalidade mais praticada, sonhada e debatida no país do penta: o campo de futebol.
Ao melhor estilo ‘showbizz esportivo’, e acompanhado por nada menos do que a alta realeza do esporte bretão, o rei Pelé, lá está Robinho, o bom filho que à casa torna. Após cinco anos atuando fora do futebol brasileiro, volta ao Santos Futebol Clube, time que o criou e o revelou ao mundo.
O retorno de Robinho ao futebol brasileiro tornou-se pauta obrigatória nos meios de comunicação, e não só os especializados em esporte. A volta do ‘rei da pedaladas’ deu sequência à cobertura dessa que é uma verdadeira ‘façanha esportiva’ que começou com o regresso de Ronaldo, e trouxe de volta ao país estrelas capazes de fazer brilhar a imagem do clube ao qual defendem. Sobretudo, no tocante à publicidade.
‘Por que tanta ousadia?’
Na quarta-feira (3/2), a matéria que encerrou o Globo Esporte lembrou as recentes contratações de jogadores experientes que, após longa temporada em clubes europeus, voltaram a jogar no Brasil. Adriano e Wagner Love, no Flamengo; Ronaldo e Roberto Carlos no Corinthians; Fred no Fluminense e, agora, Robinho no Santos, foram uns dos ‘repatriados’ citados.
Conforme veiculado, a presença de grandes estrelas nos maiores times brasileiros é uma ousadia que traz benefícios para a marca dos clubes, que se fortalecem com mais visibilidade e atraem mais publicidade; e para o jogador, que ganha como garoto propaganda e com a licença de produtos que usam sua imagem, assinatura e até mesmo características físicas como atrativos (uma peruca imitando as trancinhas de Wagner Love está cotada como a novidade do carnaval 2010).
Outra vantagem apresentada, essa mais questionável, é a oportunidade que o jogador terá de mostrar o seu futebol para, quem sabe, uma futura convocação para a seleção brasileira que vai à Copa do Mundo da África do Sul. Será?
(Mega)espetáculo midiático
Ganham os clubes, os jogadores e os patrocinadores. Porém faltou à matéria do Globo Esporte citar outro importante ganhador desse espetáculo: a mídia, responsável por alinhavar as relações e espetacularizar o futebol.
Se o objetivo da reportagem foi mostrar o que representa, para a indústria do futebol e para os envolvidos nesse negócio (os stakeholders) um retorno tão comemorado e igualmente veiculado, a matéria, no mínimo, pecou ao se ‘esquecer’ desse importante ator. Segundo Eugênio Bucci (1998, p. 23 apud Pires, 2002, p. 44):
‘Está na cobertura esportiva a verdadeira chave para desmontar uma das charadas do jornalismo em televisão. A charada é a seguinte: o telejornalismo promove – financia, organiza e monta, os eventos que finge cobrir com objetividade. É no esporte que esse fenômeno é mais transparente […] As técnicas jornalísticas, dentro das coberturas do esporte pela TV, são cada vez mais um representação. Aquele espetáculo que aparece na tela não é uma notícia conseguida pela reportagem, mas uma encomenda paga.’
Assim como o esporte, também a reportagem se torna mais uma ferramenta de marketing, em que quase todos ganham. E muito. Mas, e o torcedor-telespectador, será que ganha também?
******
Jornalista, publicitária e acadêmica de Educação Física, integrante do Observatório da Mídia Esportiva da UFSC; Florianópolis, SC