A primeira página da Folha de S.Paulo de quinta-feira (27/11) contém o dilema filosófico que dominava as redações há algumas décadas: o que seria mais tocante – a morte de um ser humano na esquina ou 10 mortes no outro lado do mundo?
Isso foi antes da globalização, hoje estamos todos no mesmo barco. Talvez por isso, a Folha tenha destacado as 86 vítimas do terrorismo islâmico na longínqua Índia e deixado em segundo plano o novo total de mortos pelo dilúvio em Santa Catarina: eram 97, agora são 99, com 19 desaparecidos e quase 30 mil desabrigados. É o nosso Katrina, com a diferença que a calamidade abateu-se sobre uma das regiões mais ricas do país.
Não é fato novo, ao contrário da série de atentados na Índia onde se evidencia que o terrorismo islâmico não acabou, está mudando de tática: virou guerrilha, sem homens-bomba suicidas, mais feroz do que nunca. Deixou Nova York, Londres e Madri, agora ataca um país emergente do mesmo grupo dos Bric ao qual pertencemos.
O que deve valer e não apenas para os jornalistas, mas principalmente para os leitores é o axioma humanista de John Donne. No início do século 17, Donne proclamou que nenhum homem é uma ilha, todo homem é uma porção do continente, todas as mortes nos afetam. Por isso não devemos perguntar por quem os sinos dobram, eles dobram por todos nós.