Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Presidente do Equador promete aumentar controle sobre a imprensa


Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 11 de agosto de 2009 


 


EQUADOR


Reuters e AP


Na posse, Correa prega controle da imprensa


‘O presidente equatoriano, Rafael Correa, assumiu ontem seu segundo mandato de quatro anos prometendo aumentar o controle sobre a imprensa e levar adiante sua ‘revolução socialista cidadã’.


A cerimônia teve a presença de dez presidentes sul-americanos, que, além de assistir à posse de Correa, estiveram em Quito para participar, no mesmo dia, da 3ª Reunião de Cúpula da União Sul-americana de Nações (Unasul).


‘Temos de perder o medo de pensar em formas de controlar os excessos da imprensa’, disse Correa aos líderes presentes na cerimônia. ‘Temos de dar as cartas neste assunto. Fomos nós que ganhamos as eleições, não os gerentes desses negócios lucrativos chamados meios de comunicação.’


O presidente equatoriano condenou a militância política que, segundo ele, contamina a linha editorial dos meios de comunicação de seu país. ‘O maior adversário que tivemos nestes 31 meses de governo foi a imprensa, que exerceu um claro papel político, mesmo não tendo nenhuma legitimidade democrática’, disse.


A proposta do presidente equatoriano coincide com o cerco que o presidente venezuelano, Hugo Chávez – principal aliado político de Correa -, também promove contra os meios de comunicação da Venezuela.


Na semana passada, Chávez fechou 34 emissoras de rádio e ameaçou outras 250. A principal emissora de TV venezuelana, a Globovisión – acusada de participação no golpe contra Chávez em 2002 -, chegou a ser atacada por militantes chavistas com bombas de gás lacrimogêneo uma semana atrás. Duas pessoas ficaram feridas.


INSTABILIDADE


Dos quatro presidentes que governaram o Equador nos últimos 12 anos, Correa foi o único a não ser deposto por revoltas populares. Seu primeiro governo teve início em janeiro de 2007, mas foi encurtado pela convocação de uma Assembleia Constituinte e de eleições antecipadas. Em 2009, ele venceu novamente a disputa para presidente e poderá, segundo a nova Constituição, concorrer à reeleição em 2013.


No mês passado, Correa foi acusado de ter recebido doações da guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para sua campanha eleitoral à presidência.’


 


 


CASO SARNEY


Roberto Almeida


Associação Mundial de Jornais cobra Lula por censura ao ‘Estado’


‘A Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF), entidades que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil empresas em mais de 120 países, enviaram ontem carta conjunta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal. O texto expressa ‘profunda preocupação’ com a censura ao Estado e pede ‘ação’ de Lula e Mendes para que a decisão seja revertida.


Subscrita por Gavin O?Reilly, presidente da WAN, e Xavier Vidal-Folch, presidente da WEF, a carta afirma que a liminar concedida pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, configura ‘censura prévia’ e, dessa forma, o Brasil permite a violação do direito de livre expressão, que ratificou em convenções internacionais e na Declaração Mundial dos Direitos Humanos.


‘Respeitosamente pedimos a vossa excelência que faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que essa decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobre todos os assuntos de interesse público’, anotam WAN e WEF. ‘Contamos com o compromisso do senhor para que no futuro seu país respeite todos os acordos.’


O pedido das principais entidades da imprensa mundial vem no momento em que Lula e Mendes têm evitado comentar o caso. Lula ainda não se pronunciou e Mendes, por sua vez, não quis dizer se considera a medida correta ou equivocada. Preferiu tratá-la como ‘apenas uma decisão judicial’ que pode ser revista pelo Judiciário. ‘Não é censura. É decisão judicial que precisa ser revista. Um juiz avaliou e entendeu que era de se proibir’, afirmou o ministro na semana passada..


LIMINAR


No dia 30 de julho, Dácio Vieira proibiu o Estado de divulgar informações a respeito da Operação Faktor, conhecida como Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O site estadao.com.br teve de retirar do ar os áudios envolvendo o clã Sarney. Os diálogos mostram a distribuição de cargos por meio atos secretos no Senado.


Vieira, porém, é do círculo íntimo da família Sarney. O desembargador foi fotografado ao lado de José Sarney no casamento de Mayanna Maia, filha do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Na foto, os três – Vieira, Sarney e Agaciel – estão juntos. A imagem levou o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, do Grupo Estado, a pedir na última quarta-feira que o desembargador se afaste do caso.


O prazo para análise do recurso é de 10 dias, ou seja, o tribunal tem até domingo, para emitir um parecer. O encarregado pela decisão inicial será o próprio Vieira. Caso não seja aceito, o recurso poderá ser submetido a outros desembargadores do tribunal para análise.


ÍNTEGRA


Vossa excelência,


Em nome da Associação Mundial de Jornais e do Fórum Mundial de Editores, representando 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil companhias em mais de 120 países, expressamos nossa profunda preocupação com a medida judicial que proibiu a mídia de publicar informações sobre uma investigação policial acerca de um servidor público envolvido em corrupção.


No último dia 30 de julho, o juiz Dácio Vieira da Corte Federal de Brasília, ordenou que o jornal O Estado de S. Paulo e seu site parassem de publicar reportagens sobre alegados casos de corrupção de Fernando Sarney, filho do senador e presidente do Senado, José Sarney. O Estado de S. Paulo publicou transcrições de gravações da polícia, que incriminavam Fernando Sarney em casos de corrupção. A medida proíbe que qualquer meio reproduza as reportagens do jornal. O não cumprimento da medida acarreta uma multa de R$ 150 mil.


Gostaríamos de lembrar respeitosamente que a medida judicial de proibir as reportagens se constitui em um caso de censura prévia e é uma clara violação do direito de livre expressão, que é garantido por inúmeras convenções internacionais, incluindo a Declaração Mundial dos Direitos Humanos. O artigo 19 da Declaração diz: ‘Todos têm o direito de livre expressão e opinião, incluso o direito de ter opiniões sem interferência e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.’


Respeitosamente pedimos a vossa excelência que faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que essa decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobre todos os assuntos de interesse público. Contamos com o compromisso do senhor Para que no futuro seu país respeite todos os acordos.


Atenciosamente,


Gavin O’Reilly


Presidente da Associação Mundial de Jornais


Xavier Vidal-Folch


Presidente do Fórum Mundial de Editores


REPERCUSSÃO SOBRE A CENSURA


Organização dos Estados Americanos (OEA)


‘É incompreensível que, enquanto os mais altos tribunais do Brasil tenham tomado decisões exemplares em matéria de liberdade de expressão, ainda exista a possibilidade de que alguns juízes locais


possam usar seu poder para censurar e impedir a divulgação livre da informação a qual o público tem o direito de receber’


Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP)


‘Lamentamos que a Justiça brasileira se caracterize por proteger excessivamente os direitos das pessoas quando elas estão imiscuídas em temas de interesse público, como nesse caso, e deixe em segundo plano o direito de liberdade de expressão, condenando assim os cidadãos ao ostracismo’


International Federation of Journalists (IFJ)


‘A IFJ exige pronta retificação dessa medida, que pretende impedir a imprensa brasileira de informar sobre as irregularidades detectadas pela Justiça Federal, e manifesta sua preocupação porque a decisão obedeceu a conhecidos laços de amizade entre o juiz Vieira e a família Sarney’


Repórteres Sem Fronteiras


‘O fato de um familiar de um político eleito conseguir que seu nome não seja citado impede a imprensa de o mencionar como personalidade pública. Trata-se de um abuso de poder, que esperamos que seja corrigido pela decisão em recurso’


Artigo 19


‘Há violação da liberdade de expressão. Quando é de interesse público que a informação seja divulgada, mais do que de interesse privado, ela deve ser divulgada. Está claro que foi desrespeitado direito fundamental’’


 


 


TELECOMUNICAÇÕES


Renato Cruz


TV paga e celulares brigam por frequências


‘As empresas de TV paga e as operadoras celulares estão brigando por frequências. No centro da disputa, está uma proposta da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que reduz o espectro disponível para o MMDS (televisão por assinatura por micro-ondas). A agência propõe diminuir, até 2015, de 190 MHz para 50 MHz o espaço ocupado pelo MMDS na faixa de 2,5 GHz, destinando a diferença para o celular.


‘Com 50 MHz não se vai a lugar nenhum’, afirmou o presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg. O executivo argumentou que, com 50 MHz, as empresas conseguiriam oferecer somente 50 canais de TV digital, sem alta definição, o que não seria competitivo nem com outras tecnologias de TV paga, como o cabo e o satélite. ‘Quem não oferece pacotes de vídeo, banda larga e telefonia está fora do mercado.’ O assunto será discutido durante o evento ABTA 2009, que começa hoje em São Paulo.


Por trás dessa briga, também existe uma competição entre tecnologias. As celulares planejam comprar essas frequências na faixa de 2,5 GHz para instalar a tecnologia Long Term Evolution (LTE), sucessora da terceira geração (3G). Na Europa, a faixa de 2,5 GHz foi destinada para o LTE e, seguindo essa decisão, o Brasil pode se beneficiar da diversidade de equipamentos, da economia de escala e, consequentemente, dos preços menores.


As empresas de MMDS, por outro lado, querem instalar nessa faixa a tecnologia WiMax, de banda larga sem fio, que permitiria a elas oferecer internet rápida e telefonia, juntamente com os pacotes de TV. Ao contrário do LTE, que ainda se encontra em testes fora do Brasil, o WiMax já é uma tecnologia comercial, apesar dos preços relativamente altos. Há três anos as empresas aguardam que a Anatel homologue os equipamentos de WiMax em 2,5 GHz, mas até agora isso não aconteceu.


Antes do início da consulta pública, no fim do mês passado, as empresas de TV paga já sabiam que acabariam com menos espectro, mas elas achavam que não haveria tanta redução. ‘A nossa grande surpresa foi como saiu’, afirmou Carlos André Lins de Albuquerque, presidente da Neotec, associação que reúne as empresas de MMDS. Segundo Albuquerque, a expectativa era de que a proposta da Anatel preservasse 110 MHz do MMDS. ‘Dessa forma, conseguiríamos continuar competitivos. Mas houve uma mudança radical de última hora.’


As empresas de telefonia móvel, por outro lado, ficaram satisfeitas com o texto colocado em consulta pública pela Anatel. ‘O setor achou que foi um início de decisão boa’, disse Fernando Lopes, presidente da Associação Nacional das Operadoras Celulares (Acel).


Existem alternativas à ocupação da faixa de 2,5 GHz para o LTE, mas nenhuma delas deve oferecer a mesma escala de equipamentos. Uma seria a faixa de 700 MHz, que será usada nos Estados Unidos. No Brasil, no entanto, ela está ocupada pela TV aberta, e não deve ter frequências disponíveis antes de 2016, para quando está marcado o fim da transição para a TV digital, com a devolução dos canais analógicos.


Lopes acredita que pesou na decisão da Anatel o total de clientes dos serviços. Existem cerca de 340 mil assinantes de MMDS e 159 milhões de celulares. O MMDS opera em 320 municípios, e a telefonia móvel em todo o País. Entre as empresas do MMDS estão a Telefônica e a Sky.’


 


 


ARGENTINA


Ariel Palacios


Argentina quer estatizar transmissão do futebol


‘Após reestatizar os Correios, a Aerolíneas Argentinas e outras empresas, a presidente Cristina Kirchner e seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner estão atrás do suculento business esportivo. Os Kirchners mobilizam-se para implementar a ousada jogada de estatizar a transmissão do futebol. Desde 1991, os direitos sobre os jogos pertencem à empresa Torneos y Competencias (TyC), em sociedade com o Grupo Clarín.


Kirchner ofereceu a Julio Grondona, presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA), o dobro do dinheiro que recebe anualmente da TyC – de US$ 69,7 milhões – pelos direitos de transmissão dos jogos de futebol. No total, Kirchner propôs a Grondona US$ 156 milhões por ano, quantia que, segundo analistas esportivos, os presidentes dos clubes argentinos, à beira de falências, acolheriam com entusiasmo. O plano do governo é de que o estatal Canal 7 transmita as partidas.


Por trás da proposta, além dos ‘desejos estatizantes’ do casal – e do golpe de efeito na opinião pública de levar o futebol aos gratuitos canais de TV aberta -, está a intensa briga que os Kirchners mantêm há um ano e meio com o Grupo Clarín, sócio da TyC na transmissão dos jogos. No ano passado, durante o conflito do governo com produtores agropecuários, a presidente acusou o jornal Clarín de preparar um ‘golpe de Estado’.


Ontem, os presidentes dos times preparavam-se para um encontro com Grondona. Hoje, o comitê executivo da AFA deve se reunir, no município de Ezeiza, para decidir se encerra o acordo com a TyC – previsto para vencer somente em 2014 – e aceita a proposta do governo.


Ontem à tarde, em declarações à edição online do jornal Crítica, Grondona deu a entender, com ironia, que já tomou a decisão de aceitar a proposta de Kirchner: ‘Se você tem um marido que te bate e te dá 200 pesos para viver ao longo de todo o ano e, por outro lado, vem um cara que te ama com loucura e propõe te dar tudo o que você quer, com qual ficaria?’


CRISE


A virada inesperada no cenário do futebol argentino começou semanas atrás, quando o Sindicato de Futebolistas Argentinos exigiu dos clubes o pagamento de dívidas com os jogadores. Os times da Primeira Divisão, em grave crise financeira, afirmaram que não têm condição de pagar as dívidas de US$ 182 milhões com os jogadores e a AFA, que determinou a suspensão dos jogos e o adiamento dos torneios até dia 14.


A saída encontrada para a crise do futebol foi pedir à TyC mais dinheiro pelos direitos de transmissão. Contudo, a empresa recusou-se a pagar mais, já que isso violaria o contrato. Em meio ao impasse, surgiu o ex-presidente Kirchner, que farejou a chance de aplicar um golpe de efeito na opinião pública.


A TyC, que há 18 anos detém os direitos de transmissão, está preparando-se para retaliar com advogados, que exigiriam substancial indenização em caso de quebra de contrato. Segundo o presidente da TyC, Marcelo Bombau, há um pacto ‘Kirchner-Grondona’. O decreto do governo que estipularia a transferência anual de US$ 156 milhões para a AFA pelos direitos de transmissão está sendo elaborado pelo secretário técnico e legal da presidência, Carlos Zanini, braço direito dos Kirchners na área jurídica há 20 anos.’


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Medo da bilheteria


‘A turma do Casseta & Planeta desistiu de uma nova empreitada no cinema. Pelo menos com apoio e patrocínio da Globo Filmes. Motivo: medo de uma bilheteria abaixo do esperado.


Após A Taça do Mundo É Nossa (2003) e Seus Problemas Acabaram (2006), os humoristas resolveram deixar de lado produções cinematográficas que envolvam a Globo, ou qualquer outra grande empresa.


Segundo o diretor dos cassetas, José Lavigne, a pressão pelo resultado pesa demais, e eles não querem passar por isso novamente.


‘Queremos fazer um terceiro filme, sim, mas será uma produção independente, bancada com o nosso cascalho’, conta Lavigne. ‘É que se você faz com uma grande produtora, a história é outra. Eles preveem público de 1,5 milhão. Se dá 1,4999…, o filme foi um fracasso.’


A Taça do Mundo É Nossa chegou perto da marca de 1 milhão de espectadores em 2003. O segundo longa ficou bem abaixo disso.


‘O bom é que poderemos fazer o que nos der na telha. Algo como Os Cassetas na Ilha das Funkeiras Ninfomaníacas. Seria ótimo, não?’, brinca Lavigne.’


 


 


O Estado de S. Paulo


Especial lembra os 100 anos de Euclides


‘O programa Observatório da Imprensa exibe hoje, às 22h40 pela Net (canal 4), Sky DirecTV (116) e TVA Digital (181), um especial sobre os 100 anos da morte do escritor Euclides da Cunha. O programa, apresentado por Alberto Dines, contará como foi a outra saga do autor que acompanhou o conflito de Canudos como enviado de O Estado de S. Paulo, pelo interior do País, desta vez na Amazônia, além do episódio de sua morte. O especial, de aproximadamente 50 minutos, traz entrevistas com o editor executivo do Estado, Daniel Piza, a professora Walnice Nogueira Galvão e o jornalista Roberto Pompeu de Toledo.’


 


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 11 de agosto de 2009 


 


MÍDIA E POLÍTICA


Carlos Heitor Cony


Caras & bocas


‘RIO DE JANEIRO – Apesar dos esforços da mídia, pelo menos até agora não houve a mobilização popular, tampouco apareceram os caras-pintadas para exigir moralidade e compostura no Senado Federal. Grupos esparsos e irrisórios aparecem nos jornais e nas TVs, mas nada que faça lembrar a onda que acabou provocando o impedimento de Collor -por sinal, novamente na berlinda, por conta de um olhar que assustou o Pedro Simon e mostrou que o ex-presidente veio para ficar.


Os entendidos, que também sempre aparecem nessas horas, explicam que no caso anterior houve a militância do PT, com decantada eficiência em lances de rua. Desta vez, o partido do governo, além de rachado, tem interesse direto na questão. Tanto Sarney como Renan e Collor, os icebergs da crise, são agora aliados de Lula e pretensos aliados, no futuro, da candidatura de Dilma Rousseff.


Nota-se, nas poucas fotos dos novos e minguados caras-pintadas, o esforço de uma produção para fotos que a mídia escassamente divulga, tentando animar o movimento, provando que ela, a mídia, é o poder supremo que norteia a sociedade e estabelece a pauta da vida nacional.


A verdade, pelo menos até esta metade de agosto, é que todos lamentam e se entristecem com o que houve e está havendo no Senado, mas nem mesmo o Cristovam Buarque levou adiante a ideia do plebiscito sobre o fechamento daquela casa legislativa. Mas a plebe rude, vale dizer, o povo em sua maioria, não embarcou ainda no tsunami moralista que basicamente é de setores da classe média, a mais influenciada pela mídia.


Bem ou mal, de uma forma ou de outra, as coisas se arrumarão no Senado e na opinião pública, mostrando que a classe política é hábil em fazer pizzas. E as demais classes entram com a boca para devorá-las.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Lula quer Obama


‘Na manchete da Reuters Brasil e na submanchete da Folha Online, Lula ‘propõe’ ou ‘sugere’ diálogo direto com Barack Obama, sobre bases na Colômbia. Na manchete da BBC Brasil, por fim, ‘Unasul quer reunião com EUA’ e ‘adia debate’.


Foi também o enunciado da cobertura on-line da reunião no ‘Wall Street Journal’ e no ‘Washington Post’, além de principal destaque de Brasil no Google News, com agências diversas.


DEPOIS, DEPOIS


Em agosto de baixa nos EUA, Obama viaja ao México e, na manchete on-line do ‘New York Times’, ‘afirma que mudanças na imigração precisam esperar 2010’, depois de ‘prioridades’, mencionando a reforma no sistema de saúde. Imigração é prioridade mexicana.


Obama abordou paralelamente Honduras e Colômbia, rejeitando a ‘hipocrisia’ dos que cobram que interfira mais num e menos noutro.


PÉ DE GUERRA


Em jornais europeus como ‘El País’, ‘Le Monde’ e o ‘Financial Times’, a cobertura do encontro da Unasul, ontem, se concentrou nas ameaças do venezuelano Hugo Chávez, não no meio de campo de Lula. No espanhol, acima, foi a manchete on-line ao longo do dia todo, ‘América do Sul se põe em estado de alerta’. No francês, ‘Colômbia cada vez mais isolada na região’. No britânico, ‘Chávez eleva a retórica’.


Com esforço, o jornal financeiro abordou economia, registrando as propostas monetárias de Rafael Correa, presidente reeleito do Equador.


CORRIDA


A BBC deu longa reportagem, com imagem de um soldado do Brasil, para responder se a América do Sul vive ‘corrida armamentista’ com as bases liberadas aos EUA de um lado e a formação do Conselho de Defesa de outro. Notou que o Brasil é o que mais gasta


E A CHINA AVANÇA


Na manchete on-line do ‘WSJ’, nada de Obama, Lula ou Hugo Chávez, mas a China na América do Sul. Duas das estatais de petróleo de Pequim, CNPC e Cnooc, ofereceram US$ 17 bilhões pela YPF, que já foi a Petrobras argentina e hoje é uma ‘unidade’ da espanhola Repsol. Avalia ser ‘o maior investimento internacional da China’ na história.


Em post de análise, o jornal nota que o governo chinês vem fechando acordos de fornecimento com o Brasil, a Rússia ‘e mais’. Mas estranha o negócio, pois os campos argentinos seriam ‘velhos e cansados’. Não menciona a proximidade com o pré-sal.


AÇÃO AGRESSIVA


O ‘Miami Herald’, em meio ao noticiário de Obama e América Latina, postou a reportagem ‘China faz grandes movimentos na América Latina’, produzida mais de um mês atrás pelo correspondente da rede McClatchy. O texto se concentra no Brasil e toma como exemplo da ‘ação agressiva’ até o ensino crescente de mandarim no país.


ACORDO DESCULPA


Na cobertura chinesa do encontro regional, a agência Xinhua produziu ontem a ‘análise’ de que, ‘mais de um ano após a criação da Unasul, a relação da Colômbia com o bloco ainda é acidentada’. Ouve o vice colombiano e fecha dizendo que, ‘porém, para a maioria, o acordo é desculpa para elevar a presença militar dos EUA’.


O DESCOLAMENTO


Mohamed El-Erian, que comanda o fundo Pimco, escreveu no ‘FT’ que Brasil, China e Índia estão ‘descolando’ e saindo da crise com ‘capacidade de crescer mais que os países industrializados’. A ‘BusinessWeek’ reporta longamente na mesma direção, com foto de uma fábrica de lavadoras estimulada pela redução de impostos


OS OTIMISTAS


Na manchete do Valor Online no fim do dia, ‘Bolsa se descola de Wall Street e marca máxima do ano’.


Do site do ‘FT’ à BBC Brasil e às agências, ecoou ontem uma pesquisa global KPMG mostrando que o otimismo com a economia ‘saltou’ no Brics. E que os brasileiros ‘são os mais otimistas’.’


 


 


EM GREVE


Folha de S. Paulo


Funcionários da Cultura exigem aumento maior


‘Paralisados desde ontem, os funcionários da Fundação Padre Anchieta, que administra a TV e a Rádio Cultura, reivindicam o dissídio dado aos radialistas da rede privada: 5,83% e um abono variável de cerca de 3,5%. O governo ofereceu 6,05%, correspondente ao INPC. Pela proposta, 1.003 funcionários seriam submetidos à política das empresas públicas, não mais à dos radialistas. Eles recusam.’


 


 


EQUADOR


Folha de S. Paulo


Em posse para 2º mandato, Correa mira imprensa


‘O presidente equatoriano disse na cerimônia que os governos da região devem ‘estabelecer formas de controlar os excessos da imprensa’. ‘Temos que dar as cartas no assunto, somos nós que ganhamos as eleições, e não os gerentes desses negócios lucrativos que se chamam meios de comunicação.’ Ao lado de Hugo Chávez, Correa queria que a crítica à imprensa fosse incluída na declaração da Unasul, mas a ideia não vingou.’


 


 


PUBLICIDADE


Cristiane Barbieri


Petrópolis e Schin são multadas por propaganda


‘A Schincariol e a Petrópolis foram multadas em R$ 611 mil cada uma pelo Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor). De acordo com a entidade, as cervejarias, que diferenciam algumas de suas marcas pelo uso de selo de alumínio, induziram o consumidor ao erro ‘quanto a qualidade característica e segurança do produto anunciado, infringindo o artigo […] que veda publicidade de índole enganosa.’ A Petrópolis informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que irá recorrer da multa.


A denúncia contra as cervejarias foi feita pelo Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), ao qual são afiliadas a AmBev e a Femsa, que não usam o selo de alumínio em seus produtos. O Sindicerv apresentou ao Procon laudos do Cetea/Ital (Centro de Tecnologia da Embalagem do Instituto de Tecnologia de Alimentos) e do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que demonstram que o selo de alumínio não garante proteção contra contaminações por bactérias e coliformes fecais.


Para o Procon, ao sugerir o consumo da cerveja sem a limpeza da lata em suas campanhas publicitárias, Petrópolis e Schincariol ‘sugerem ao consumidor comportamento prejudicial a sua saúde’. Teriam assim infringido o artigo que proíbe publicidade abusiva, o que resultou nas multas.


O órgão baseou sua decisão no fato de que as campanhas da Petrópolis afirmavam que o selo de proteção ‘preserva a qualidade e a higiene da cerveja’. Já as da Schincariol dizem, segundo o Procon, que o selo ‘perfaz uma forma ‘mais higiênica’ de consumir sua cerveja’.


A Petrópolis informou ter recebido o auto de infração. Segundo a cervejaria, o uso dos selos já foi discutido no Ministério Público do Rio de Janeiro e nos Tribunais de Justiça de São Paulo e do Rio e que as decisões tomadas até agora foram favoráveis a ela.


De acordo com a Petrópolis, o MP se baseou em laudos do Instituto Carlos Éboli que relatam que o ‘selo protetor, quando íntegro, serve de anteparo contra a contaminação direta ocasionada por sujidades macroscópicas ou sujidades deixadas por vetores mecânicos’.


A cervejaria também afirmou que sua propaganda apenas constata a existência do selo de alumínio e que ‘em momento algum cita informações descabidas’. Procurada pela reportagem, a Schincariol não se pronunciou até a conclusão desta edição.


Disputa acirrada


A disputa entre as cervejarias tem ganhado novos capítulos nas últimas semanas. No início do mês, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) multou a AmBev em R$ 352 milhões por prática de concorrência desleal. A AmBev já afirmou que irá recorrer.


Na semana passada, foi a vez de a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas), a qual estão filiadas a Schincariol e a Petrópolis, contestarem o uso das garrafas de um litro da AmBev. Segundo a entidade, o uso dessas garrafas com a marca da AmBev também inibe a concorrência porque impede seu uso pelas outras empresas.’


 


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


Após surra no Ibope, Globo muda reality ‘No Limite’


‘O reality show ‘No Limite’ sofrerá alterações já em sua próxima edição, nesta quinta. Será a primeira reação da Globo à derrota sofrida anteontem pelo programa, que marcou sua menor média histórica, 12,8 pontos na Grande São Paulo.


Enquanto competiu com ‘No Limite’ (das 23h10 à 0h14), ‘A Fazenda’, da Record, registrou 21,3 pontos. Chegou a dar quase o dobro (24 a 12,2) em um intervalo comercial da Globo.


Na média de toda a sua duração, no entanto, ‘A Fazenda’ perdeu para a Globo por um ponto (17 a 18). O programa da Record começou bem antes do que ‘No Limite’ (às 21h45) e acabou só dois minutos antes.


A edição desta quinta-feira de ‘No Limite’ será a última em que a eliminação será por voto popular, uma das inovações da atual edição, a quarta. Também não haverá formação de ‘paredão’. A partir de domingo, a decisão de quem deixará a atração voltará a ser da equipe perdedora de prova.


No domingo, a Globo também exibirá um dos pontos marcantes de ‘No Limite’: uma prova em que os participantes terão de comer algo repugnante, como olhos de cabra.


Mas, para a produção de ‘No Limite’, mesmo com as mudanças será muito difícil competir com ‘A Fazenda’ nas duas próximas semanas, as duas últimas do reality. Além de estar em fase análoga à de final de campeonato, o programa da Record não tem intervalos durante ‘No Limite’.


‘A Fazenda’ bateu ‘No Limite’ só em SP -no Rio, perdeu por 17 a 18. A Globo aposta em recuperação após o dia 23, com o fim de A Fazenda’.


SEM OBSTÁCULO 1


A provável mudança no calendário do futebol brasileiro não vai alterar a venda das cotas de patrocínio da Globo. A emissora sempre vendeu as cotas pelo ‘ano cheio’, de janeiro a dezembro. E continuará assim, mesmo que o Brasileirão, a partir de 2011, seja disputado de agosto a junho. Nesse caso, parte dos patrocinadores podem mudar em janeiro.


SEM OBSTÁCULO 2


A mudança na venda de cotas era a principal objeção da Globo à equiparação do calendário do futebol ao europeu. Hoje, setores da rede avaliam que a mudança será melhor para o futebol brasileiro e, consequentemente, para sua audiência. O plano comercial de 2010 será lançado em setembro..


CURVA


Depois de um começo animador no ‘Tudo É Possível’, Ana Hickmann já preocupa a cúpula da Record. Anteontem, seu programa deu só 4,7 pontos. O desempenho pesou. Na média das 7h à 0h, a Record não conseguiu superar o SBT -empataram em sete pontos em SP.


RODAS


Na Globo, o ‘Auto Esporte’ deu mais audiência do que o ‘Esporte Espetacular’. O programa automotivo exibiu uma reportagem que era só elogios a um novo carro.


COBERTURA


Além de uma caixa que capta sinais digitais de emissoras abertas, a Sky lançou ontem um pacote para quem recebe TV aberta via parabólica.’


 


 


FOTOGRAFIA


Eder Chiodetto


Cravo Neto transgrediu códigos da fotografia


‘‘UM MOMENTO de beleza é um momento de encontro’, escreveu o artista Mario Cravo Neto, morto no último domingo em Salvador, aos 62 anos.. E a beleza de sua arte, de fato, se explica em boa parte pela criação de um espaço simbólico de celebração de encontros. Sua fotografia promove de forma singular a junção entre realidades visíveis e as fronteiras do ficcional, entre mito, vida e arte. Sua percepção aguçada o levou a perceber, nos gestos cotidianos, manifestações cósmicas onde se podia entrever a origem do universo. O ancestral embutido no banal.


Esse caráter metafísico de seu trabalho foi gestado, não há como negar, pelo ambiente artístico e sincrético de Salvador, na Bahia, onde nasceu, foi criado, viveu e, por fim, transformou no pano de fundo de sua obra. ‘Na Bahia encontra-se o que a gente tem carinhosamente em comum e não agressivamente o que tem de diferente’, escreveu nos agradecimentos do livro ‘Laróyè’ (Áries Editora, 2000), sem dúvida, um dos mais belos, importantes e vigorosos livros de fotografia já editado no Brasil. ‘Laróyè’ é uma saudação em iorubá para o exu, entidade controversa adorada por Cravo Neto.


Além do cenário, havia a família e seu entorno a contribuir. O escultor Mario Cravo Junior, seu pai, ao saber naquele abril de 1947 que sua mulher estava em trabalho de parto no hospital, optou por ficar em casa, de frente para o mar, ouvindo ‘Prélude à l’Après-midi d’un Faune’, de Claude Debussy. Depois, levaria seu pequeno ‘fauno’ para conviver com artistas e intelectuais de sua geração como Jorge Amado, Pierre Verger, Carybé e Pietro e Lina Bo Bardi, entre outros tantos.


Trabalhando em paralelo com a escultura e a fotografia desde os 17 anos, Mariozinho, como seria sempre chamado pelos mais íntimos, aprimorou seus estudos após morar em Berlim com o pai e rodar a Europa. Estudou com o fotógrafo Max Jacob e com o pintor modernista italiano Emilio Vedova (1919-2006). Em 1968, estudou na Arts Students League, em Nova York.


Num dado momento da carreira, percebeu que seria impossível manter em paralelo as atividades de escultor e fotógrafo. Optou pela segunda. ‘Jorge Amado, assim como outros, gostavam de minhas fotos e diziam que eu devia me dedicar só a ela’, contou.


Um sério acidente de carro em 1975 o deixou com as duas pernas quebradas e sobre uma cama por cerca de um ano, levando-o à fotografia de estúdio. Iniciou assim as séries em preto e branco ‘O Fundo Neutro’ e ‘Meus Personagens’, as mais conhecidas de sua trajetória e que constam nas mais prestigiadas coleções particulares e públicas do mundo como a do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), a do Tokyo Institute of Polytechnics, a da Fundação Cartier (Paris), entre muitas outras.


Arte colecionável


No contexto da fotografia de arte brasileira, Cravo Neto tem uma importância fundamental: foi um dos primeiros a ter sua obra valorizada pelo mercado de arte internacional, a introduzir no Brasil a ideia da fotografia como objeto de arte colecionável, a discutir tiragem, qualidade de cópia etc.


Para além desse aspecto, a obra de Cravo Neto continuará a ser uma chave fundamental para se discutir um tipo de arte que utiliza elementos mínimos para expressar a ancestralidade do homem, seu lugar no universo, a poética que envolve a noção de passado e futuro etc.


Foi assim, por exemplo, que se deu sua incursão no candomblé. Ao fotografar os ícones ritualísticos da religião afro-brasileira, Cravo Neto buscava de forma muito peculiar conectar objetos, pessoas, atmosfera, símbolos e mitos organizados em sua beleza escultórica para celebrar a pulsão de vida da matéria. A morte como parte dessa pulsão, um ciclo que não cessa.


Com Cravo Neto, a fotografia transgrediu códigos e ampliou suas possibilidades de representação. São raros os artistas que conseguem ampliar o repertório de sua arte dessa maneira. E raros artistas não morrem jamais. Laróyè!’


 


 


LITERATURA


Raquel Cozer


Livro mostra as paixões literárias de Ruy Castro


‘Ruy Castro dedica a Ezequiel de Souza Escobar e Odorico Quintella, entre outros, o livro ‘O Leitor Apaixonado’, que tem lançamento hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.


Os homenageados, se escapou a alguém, frequentam as páginas de ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis, e ‘Asfalto Selvagem’, de Nelson Rodrigues. Eles e outros acompanham o escritor e colunista da Folha a partir de seus cinco anos de idade, quando, ele diz, já sabia ler e escrever.


‘Convivi com esses personagens a vida inteira, admirando, sentindo compaixão, sempre com algum envolvimento’, diz Ruy, 61, que atuou como jornalista nos maiores veículos do país, como o extinto ‘Correio da Manhã’.


É dessa relação sentimental com a literatura e a língua portuguesa que trata ‘O Leitor Apaixonado’. O volume inclui 43 artigos publicados ao longo de mais de 30 anos em jornais e revistas. A organização ficou a cargo de Heloisa Seixas, mulher de Ruy, que já cuidou das coletâneas dele sobre música e cinema, e que prepara outra ‘só de textos provocativos’.


Não que falte provocação em ‘O Leitor Apaixonado’. A ironia aparece em textos como aquele de 1996 em que, referindo-se às conversas do vento e do sol com o protagonista de ‘O Alquimista’, de Paulo Coelho, Ruy conclui: ‘Pode ser emocionante e pode ser muito engraçado -você decide’.


Ou no artigo de 1989 sobre um estudo que relaciona alcoolismo e qualidade literária, no qual argumenta que, se Pearl S. Buck (1892-1973) não era bêbada, ganhou o Nobel porque ‘os suecos é que deviam estar de porre quando a elegeram’.


Com quase 20 mil volumes nas estantes de seu apartamento, no Leblon, o escritor conta que nunca quis ter uma coluna fixa em jornal sobre o tema justamente para não perder o prazer de ler. Na mesa de cabeceira, diz, estão sempre ‘três ou quatro livros que não tenham nada a ver com trabalho’.


Chama a atenção a atualidade dos argumentos, em especial no capítulo dedicado à paixão do autor pelos dicionários. Em texto de 1989, ele cita diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal. Só em Portugal, ele destaca, um ‘banheiro’ (salva-vidas) poderia salvar alguém de ‘morrer ao tomar banho’ (afogado).


O LEITOR APAIXONADO – PRAZERES À LUZ DO ABAJUR Autor: Ruy Castro


Editora: Companhia das Letras


Quanto: R$ 49,50 (368 págs.)


Lançamento: hoje, às 19h, na Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, tel. 0/xx/11/3170-4033)’


 


 


 


 


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Veja


Edição nº 2125, de 12/8/09 


 


ACUSAÇÕES


Roberto Pompeu de Toledo


Elle, o de sempre


‘Pode sentir-se defendido quem tem em sua defesa a dupla formada pelos senadores Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello? Há defesas que ferem como ataque. Num primeiro momento funcionam, como funcionou a furibunda blitz desfechada pela dupla contra o senador Pedro Simon, na memorável sessão do Senado da última segunda-feira. A torrente de insultos, insinuações e, da parte de Collor, assustadoras caretas lançadas contra Simon intimidou o senador gaúcho a ponto de, como ele afirmaria mais tarde, ter sentido medo físico. Mas o ônus de carregar pela vida afora, e biografia adentro, o fato de ter contado com tais defensores supera o alívio momentâneo. Os senadores do PT sabem disso e conspicuamente procuram se dissociar dos referidos senhores. Já o presidente do Senado, José Sarney, não bastassem os próprios problemas, é refém de um duo cujo abraço aperta, aprisiona e sufoca como tenaz.


O senador Collor superou-se, naquele dia, na utilização dos velhos recursos em favor do novo papel de injustiçado e sofredor. Buscando inspiração no aparelho digestivo, ordenou a Simon que ‘engolisse’ as próprias palavras e ‘as digerisse como julgasse conveniente’. Chamou o honrado senador de ‘parlapatão’. E enquanto isso armava seu impressionante repertório de expressões fisionômicas e exalações corporais, um conjunto que, querendo sublinhar indignação, acaba por revelar um perturbador descontrole. A respiração era pesada como a do touro ao investir contra o pano vermelho. Repetiam-se os estranhos olhos fixos de outras ocasiões. E a alturas tantas, quando se cansou de Simon e de Sarney, sobrou para quem? Quem? Quem? O colunista que vos fala. Disse ele que ‘o jornalista chamado Roberto Pompeu de Toledo, que costuma sujar a última página de uma revista local, se não me engano a VEJA’, procurou o ministro Ilmar Galvão, encarregado, no Supremo Tribunal Federal, de relatar o processo contra ele, Collor, à época do impeachment, e lhe propôs: ‘Ministro, declare a culpa do Fernando Collor que nós daremos ao senhor a capa e as entrevistas de páginas amarelas da revista’. O ministro, indignado, teria expulsado o interlocutor de seu gabinete.


Deus do céu, quanta pretensão, num pobre jornalista, achar que a efêmera glória do bom tratamento num órgão de imprensa pudesse influenciar o julgamento de um ministro do Supremo! Collor acrescentou que Roberto Pompeu de Toledo não poderia desmentir tal episódio. Pode sim. É mentira. Mais uma vez: MENTIRA. E uma terceira: MEN-TI-RA. A conversa que na época o colunista teve com Ilmar Galvão não teve nunca, jamais e em tempo algum o caráter de (ingênua) negociação do julgamento do ministro contra possível tratamento privilegiado em VEJA. Mesmo se, enlouquecido, o jornalista quisesse fazê-lo, não teria poderes, como não tem agora, nem nunca teve, de dispor da capa ou das páginas amarelas da revista. Seu único e singelo objetivo era informar-se. Claro está que se não houve o principal – uma tentativa de negociação – também não houve o secundário – a expulsão do gabinete. Em todo caso, registre-se que o cinematográfico desfecho pretendido pelo senador é outra mentira, MENTIRA, MEN-TI-RA. A entrevista transcorreu em clima de cordialidade.


Como encerrar este artigo? Primeira hipótese: dizer que sujar páginas por sujar páginas, perito mesmo na especialidade é o ex-presidente – no caso, sujar as páginas da história do Brasil. Sentencioso demais. Se os leitores permitem a falta de modéstia, o colunista gostaria na verdade é de congratular-se consigo mesmo.. Ao contrário de Sarney, ele não tem Collor como defensor. Tem como acusador. É uma honra.


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Por falar em fisionomia, e para arejar o ambiente com caso oposto ao da carranca oferecida por Collor a Simon, a fisionomia do momento, no Brasil, é a do vice-presidente José Alencar. O fato de ele estar impelido a correr de internação em internação, e de operação em operação, dentro daquilo que se convencionou chamar de ‘luta’ contra o câncer, é o de menos. Como ele próprio alega, não dispõe de alternativa. Muitos também o fariam – e fazem –, especialmente quando têm recursos para pagar o tratamento. O que impressiona é a serenidade com que enfrenta o infortúnio, manifestada no sorriso e no jeito bonachão que estampa nas entradas e saídas do hospital. Seu comportamento, na mais decisiva das horas que espera um mortal, cativou o país. A ele seria dedicada a coluna desta semana, se o homem das Alagoas não se interpusesse no caminho. Fica o registro.’


 


 


 


 


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