Desde que assumiu a presidência do Irã, no ano passado, Mahmoud Ahmadinejad – cujos poderes são limitados às decisões dos aiatolás – tem deixado os governos de países ocidentais sempre com um pé atrás. Na semana passada, a revelação do presidente de que o Irã havia retomado o programa de pesquisa na área nuclear recebeu críticas internacionais. Em novembro de 2003, o país havia feito um acordo com a União Européia para suspender qualquer atividade relacionada ao enriquecimento de urânio. O presidente justificou que a retomada da pesquisa tinha o objetivo de desenvolver a produção de energia elétrica.
Os governos americano e de alguns países europeus acreditam que se trata de um passo em direção a uma eventual produção de armas nucleares e ameaçam levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU, para que o Irã coopere com a inspeção da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA). Se o Irã não concordar em permitir a visita de inspetores, os EUA e a União Européia planejam exercer ‘sanções específicas’ ao país, como restringir o acesso do regime a canais financeiros internacionais e apertar o cerco em relação ao comércio e viagens para o exterior. No entanto, conseguir a aprovação destas sanções – e evitar o veto da China ou Rússia, que têm interesses econômicos no Irã – pode levar meses de negociações.
Caráter belicoso
Para muitos iranianos, a estratégia de Ahmadinejad de confrontar o resto do mundo e se recusar a cooperar reflete a pugnacidade do regime. O atual governo retrocede os movimentos de abertura do ex-presidente Mohammed Khatami, ao impor restrições islâmicas e censurar a imprensa e outras formas não-políticas de expressão – como mulheres fumando em cafés e canais de televisão por satélite. Alguns iranianos acreditam que as proibições do país podem incentivar jovens a pedir maior liberdade, o que enfraqueceria a autoridade do governo. ‘Eles temem isto, e a estratégia usada pelo governo é atacar, em vez de cooperar’, afirma um ex-funcionário do governo reformista.
A política de censura à internet mostra como o presidente está decidido a lutar contra a reforma democrática. Em 2004, o governo fechou, pela primeira vez, o cerco à rede ao prender técnicos de informática e blogueiros. Desde então, autoridades prenderam no mínimo 20 blogueiros por terem colocado material considerado subversivo na internet, condenando-os à prisão por dias ou por até 14 anos. No ano passado, o governo usou softwares para bloquear sítios com conteúdo noticioso, político ou de sátira. O sistema proíbe que se tenha acesso a sítios que contenham palavras como ‘mulheres’. ‘Isto faz com que haja uma marginalização da mulher e de questões envolvendo mulheres’, afirma a ativista Sussan Tahmasebi.
Para burlar os filtros, muitos blogueiros mudam o nome de domínio de seus sítios, para possibilitar seu acesso por alguns dias – até que os censores os bloqueiem novamente. O sítio Women in Iran, com notícias sobre temas femininos, mudou a terminação ‘.com’ para ‘.org’ depois de ter sido bloqueado. Os censores descobriram e agora ele está no ar com a terminação ‘.net’. Alguns ativistas investigam a possibilidade de colocar seus sítios no ar através de serviços por satélite.
As estratégias de Ahmadinejad começaram a dividir a elite no poder dentro do próprio país. Ele enfrenta pressão de alguns rivais conservadores, desconfortáveis com suas declarações bombásticas – como pedir que Israel ‘seja varrido do mapa’ e abertamente torcer para que o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon morra –, para abrandar a censura. Em outubro do ano passado, alguns conservadores expressaram suas críticas no sítio Baztab, que pertence ao ex-comandante da Guarda Revolucionária Mohsen Rezai. O sítio foi imediatamente retirado do ar. Informações de Azadeh Moaveni [Time, 15/1/06].