Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Presidente está cada vez mais distante de repórteres

Quando o plano terrorista de ataque a 10 aviões comerciais de grande porte foi descoberto no Reino Unido no dia 10/8, os únicos repórteres a divulgarem a reação do presidente americano George W. Bush foram jornalistas locais do Texas, onde ele estava, e alguns outros que estavam com ele a bordo do avião presidencial Air Force One no vôo de volta a Washington. O fato de o presidente cruzar o país sem um contingente de repórteres, especialmente durante o conflito no Oriente Médio, realça uma grande mudança cultural na relação entre a presidência e a mídia.


Sem companhia da imprensa


Nas quatro décadas após o assassinato de John F. Kennedy, os presidentes tradicionalmente levavam jornalistas com eles onde quer que fossem – afinal, um furo pode acontecer a qualquer momento em se tratando do líder mais poderoso do planeta. Porém, nos últimos meses, Bush deixou Washington diversas vezes sem a companhia de repórteres. O presidente saiu da capital pelo menos sete vezes este ano sem um avião da imprensa, incluindo as quatro vezes no mês passado que ele viajou para eventos, fechados à mídia, de arrecadação de fundos para a campanha republicana.


Não tendo seu deslocamento financiado para estar nas cerimônias a fim de cobrir os discursos presidenciais, a maior parte das empresas de mídia opta por não pagar do seu próprio bolso pelas viagens de avião para acompanhar o presidente. Além disso, a tendência da Casa Branca ao sigilo de informações e sua relação um pouco conturbada com a mídia acabaram contribuindo para este afastamento dos repórteres.


Para veteranos da mídia de governos passadas, as mudanças são drásticas. ‘Não me lembro de uma ocasião em que o presidente estivesse viajando e nós não tivéssemos um avião fretado’, disse Ed Rollins, que foi diretor político da Casa Branca no governo de Ronald Reagan. ‘Volte 20 ou 25 anos no tempo e imagine que estamos em guerra e o presidente está viajando pelo país e houvesse apenas, digamos, três pessoas com ele’, sugeriu Joe Lockart, que foi secretário de imprensa da Casa Branca no governo de Bill Clinton. ‘Isto seria impensável. Um dia algo muito importante vai acontecer e a grande mídia nacional não vai estar presente. A imprensa vai ter de usar a tecnologia. O impacto sobre a democracia será grande? Pessoas mais inteligentes que eu terão que responder esta pergunta’.


Em algumas situações, entretanto, tais mudanças parecem não fazer muita diferença no que se refere à divulgação dos passos dos presidentes. Como seus antecessores, Bush sempre viaja com um grupo pequeno de profissionais de mídia que inclui um cinegrafista e um repórter de mídia impressa. Tecnologias como TV a cabo e internet tornaram possível para a mídia acompanhar o presidente Bush mesmo estando longe dele.


Olhar restrito


Segundo alguns grupos de monitoramento da mídia, entretanto, a questão é que quanto menos jornalistas acompanharem o presidente, menor será a quantidade de perguntas e, conseqüentemente, menor o número de versões disponíveis ao público sobre fatos relacionados ao presidente. Para Patrice McDermott, diretora da OpenTheGovernment.org, coalizão privada de grupos de vigilância das atividades do governo, a constante mudança nos padrões da cobertura é ‘preocupante’ e parte de uma ‘tendência crescente ao sigilo’ em Washington. ‘Eu acho que o público preferiria que os jornalistas que acompanhassem o presidente não estivessem lá apenas para satisfazer os interesses dele’, afirmou ela.


Tony Snow, porta-voz da Casa Branca, alegou que as empresas de mídia podem optar por pagar um avião para acompanhar o presidente. ‘É tudo uma questnao de dinheiro. Antes, as empresas de mídia tinham mais recursos’, observou ele. ‘Acho que hoje os presidentes estão mais acessíveis do que em qualquer outro momento da história americana’, opinou Snow, referindo-se às novas tecnologias de comunicação. Snow afirmou ainda que em grandes eventos, a Casa Branca garante que o presidente esteja acessível.


Aumento de custos


Os custos necessários para cobrir o presidente aumentaram drasticamente em um momento em que as empresas de mídia, sob pressões econômicas, estão cortando despesas. Uma viagem de um dia a St. Louis, por exemplo, custou ao Washington Post US$ 3.317. Já uma viagem de dois dias à Europa saiu por US$ 8.283, sem despesas de hospedagem.


Mesmo em viagens presidenciais que disponibilizam um avião à imprensa, algumas vezes são poucos os jornalistas a bordo. Jornais que costumavam viajar com freqüência, como o USA Today, o Wall Street Journal e o Chicago Tribune, agora o fazem mais esporadicamente. O Boston Globe não tem mais um correspondente da Casa Branca e adotou a postura de focar em matérias exclusivas em vez de escrever sobre as atividades diárias do presidente. ‘Não significa que estamos ignorando completamente as suas atividades. Mas este novo foco nos dá maior flexibilidade para cobrir uma variedade maior de matérias do que se estivéssemos designado um correspondente para a Casa Branca’, avaliou Joe Williams, vice-chefe do escritório do jornal em Washington.


 


Reforma na West Wing


No dia 14/8, a unidade de imprensa saiu da Casa Branca para que a sala de informes oficiais à mídia fosse reformada, noticia Terence Hunt [AP, 14/8/06]. Assim, pelos próximos nove meses, os repórteres que ficavam a postos na ala oeste da Casa Branca, conhecida como West Wing, mudarão temporariamente para escritórios em dois andares do centro de conferência da Casa Branca ao lado do Parque Lafayette.


‘Esta é a primeira vez que repórteres terão de cobrir o presidente do lado de fora do complexo’, disse Martha Joynt Kumar, cientista política da Universidade de Towson especializada em presidência. Segundo ela, desde 1902, os repórteres tiveram espaço na West Wing – sendo temporariamente deslocados quando a sala de imprensa foi reformada na década de 80. Um grupo de 14 repórteres, cinegrafistas e fotógrafos permanecerá em trailers do lado de fora da Casa Branca para não perder eventuais oportunidades de foto. Informações de Peter Baker [Washington Post, 12/8/06].