A CBF troca a área de comunicação para se defender das acusações de corrupção. Com a imprensa esportiva comendo em suas mãos, com raras exceções, o problema maior da entidade, porém, é como deixar de ser vista como obscurantista.
Tirando uma declaração ali e outra acolá de um cronista esportivo contra a corrupção no futebol, a mídia não consegue se aprofundar nas matérias sobre os escândalos recentes na Fifa envolvendo a CBF e seus aliados. O fato é que ela não tem interesse nisso.
Com vínculos em competições promovidas pela entidade, seja em direitos de transmissão ou em cotas de patrocínio já negociadas a partir do calendário proposto pela CBF, a imprensa tradicional acha que atua contra si quando fere a confederação – sua parceira (direta ou indireta) nos eventos voltados ao futebol que ela mesma cobre. Com isso, a mídia fica no aguardo dos passos da entidade para sair do atoleiro. Porém, mexer no obscurantismo antigo da entidade é tarefa mais complexa do que deixar como está.
Ruim de comunicação
Isso significa que o reforço da área de comunicação que a entidade está fazendo, representa apenas se proteger de possíveis pedradas fora de seu controle. Profissionais para exercer esse papel são pagos a peso de ouro – a área de gestão de crises de assessorias de imprensa é a mais bem remunerada dessa atividade, e costuma enriquecer rapidamente o sujeito que submete a essa função.
A CBF sempre esteve na vanguarda da comunicação institucional de suas atividades. Foi uma das primeiras no país a usar seu portal como ferramenta de contato com jornalistas, disponibilizando dados de competições e acervo. Também criou canais digitais de relacionamento com a mídia no padrão das grandes corporações globais.
Ainda estabeleceu o modelo de coletiva de imprensa-show, utilizando astros da seleção, onde se fala o que quer e ouve-se pouco de útil. Além disso, organizou a disponibilização farta de fotos e imagens às editorias de esporte, embora convenientemente tratada para promover seus parceiros.
Toda essa estrutura amarrada e voltada essencialmente a dar visibilidade a seus patrocinadores e a valorização da marca CBF, funcionou muito bem durante anos, a despeito do pouco que isso represente como resultado jornalístico – mas é o modelo padrão adotado pelo futebol europeu, embora a imprensa de lá seja menos influenciada a este tipo de aparato do que a daqui.
Mas, por outro lado, toda essa exposição, feita desse jeito, encobriu as metas e projetos da entidade, criando um raso conhecimento da CBF no que tange a sua relevância e missão enquanto entidade esportiva, e de seus reais objetivos no desenvolvimento do esporte.
Com os escândalos recentes, não há um plano de comunicação que consiga fazer com que a credibilidade ainda existente conquiste alguma importância. O mergulho antigo no obscurantismo tira qualquer possibilidade de uma ação eficaz visando reverter esse quadro – é muita informação para ser revirada para se gerar uma percepção de transparência na entidade no curto prazo.
A CBF é boa de comunicação-espetáculo. Mas ruim de comunicação preponderante – talvez por que isso nunca tenha sido de seu interesse. Agora vai penar para mudar essa situação.
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Augusto Diniz é jornalista