Condenado por líderes religiosos por disseminar ‘valores imorais’, o reality show Afghan Star conquistou o público jovem do Afeganistão. Versão mais comportada dos shows de calouros ocidentais modernos, como o americano American Idol e o brasileiro Ídolos, o programa apresenta aspirantes a cantores que se apresentam diante de jurados e são eliminados semanalmente.
Em sua terceira edição, o reality traz uma novidade: pela primeira vez, há uma mulher entre os três finalistas. Nesta sexta-feira (15/3), Lima Sahar – que compete pelo prêmio final com Rafi Nabzada e Hamed Sakhizada – participa da penúltima etapa da competição, que terá a eliminação de um dos concorrentes. Daqui a uma semana, o público conhecerá o vencedor.
Desafio
Há alguns anos, seria impensável a participação de uma mulher em um programa de TV deste tipo no conservador Afeganistão, de maioria islâmica. Em geral, as mulheres do país pouco se aventuram às ruas e, quando o fazem, usam burcas completas. Lima Sahar não chega a dançar e usar roupas extravagantes como as participantes de versões ocidentais do programa, mas, ainda assim, a experiência é desafiadora para ela e para os costumes locais. ‘Cantar trouxe mudanças e reconhecimento para minha vida’, afirma.
No regime Talibã, no poder até 2001, música e televisão eram proibidos no Afeganistão. Hoje, o reality show é assistido por milhões de pessoas, mas ainda sofre com as críticas do conselho de clérigos islâmicos de Cabul, que chegou a pedir sua retirada do ar. ‘O Afghan Star encoraja a imoralidade entre jovens e é contra a Sharia [lei islâmica]’, declarou o conselho.
Etnias
Lima é da etnia pashtun, base de origem para o regime Talibã e maioria no país. Muitos questionam o fato de ela ter chegado tão longe na competição – já que sua voz não é considerada tão boa. Os telespectadores votam nos concorrentes por mensagens de celular e parecem ser influenciados pelas etnias, pois os três finalistas representam os três maiores grupos do Afeganistão: Lima, os pashtuns; Rafi Nabzada, os tajques, do norte; e Hamed Sakhizada, a minoria xiita hazara. Informações de Hamid Shalizi [Reuters, 11/3/08].