Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa do Jô, o debate em uníssono

Uma pergunta ao apresentador Jô Soares: qual a utilidade de se realizar um debate entre cinco pessoas, todas com as mesmas opiniões? Ou melhor, isso é debate?

Às quartas-feiras, quando se reúnem as chamadas ‘meninas do Jô’, antes do quinteto parar de tocar já se sabe tudo o que vai ser falado. Na edição de quarta-feira (1/8), cada vez mais histéricas, as convidadas disputavam qual delas iria fazer colar a imagem de incompetente e ignorante no governo federal e no presidente Lula.

A certo ponto, Ana Maria Tahan, com seu ar enfadado enfatiza: ‘Foi preciso duas tragédias, com 350 mortos, para que o governo federal admitisse a crise’. Só faltou provar que o ‘causaéreo’ desligou o transponder do Legacy que se chocou com o Boeing da Gol, e que o presidente Lula bloqueou o reversor da turbina do Airbus.

Jô Soares então, usa o seu talento de ator para imitar Lula e diz que o presidente está contente com os problemas no transporte aéreo, pois assim pode aumentar a produção de veículos nas fábricas de São Bernardo do Campo. A sorte é que o programa foi gravado antes da queda da ponte nos EUA. Poderia sobrar para Lula.

Antes crítico da atitude do presidente da Venezuela de não renovar uma concessão de um canal de TV golpista, começo a entender o que se passava naquele país. Aqui, sei que seria impossível acontecer algo semelhante, já que o PT e o governo têm muito medo da Globo. Além disso, a proposta de democratização da mídia não sai do papel, e o governo continua a injetar dinheiro da publicidade oficial em veículos que não medem esforços para desestabilizá-lo.

***

Sou engenheiro aeronáutico, e tenho visto afirmações na mídia que revelam total desconhecimento dos jornalistas sobre a legislação do setor aéreo. Em particular, o que mais incomoda são declarações inflamadas em que diz que a empresa ou o governo foram irresponsáveis, mas sem fundamento na legislação, que não é brasileira, é internacional e construída com base na experiência adquirida ao longo da história da aviação.

A certificação de um avião é um processo que leva mais de um ano de testes. Tudo é verificado em vôo, e margens de segurança são adotadas obrigatoriamente. Minha preocupação é a seguinte: muitos dos colunistas que estão falando bobagens normalmente fazem comentários sobre política ou economia. Será que nessas áreas esses mesmos colunistas agem com a mesma irresponsabilidade? Ao ver jornalistas desinformados sobre o assunto passando informações sem sentido, fica uma sensação de insegurança sobre o conteúdo jornalístico como um todo. (André Cavalieri, professor, São José dos Campos, SP)

***

A mídia realmente é clássica quando quer demonstrar seu patriotismo e ufanismo pelo país. Depois da abertura dos Jogos Pan-Americanos, não se ouviu mais falar em atentados no Rio de Janeiro. De repente a onda de violência que abalava a capital carioca deu espaço a uma festa brilhante, cheia de luzes e cores, animação e vaias.

Mas me pergunto… Qual a finalidade desse emblema esquemático da mídia? É óbvio demais. Não quiseram simplesmente manchar a cara do belo Brasil. Do país que conseguiu, com o Cristo Redentor, ter uma das sete maravilhas do mundo. Quem participaria de uma competição ou simplesmente a assistiria num lugar em que ouvem-se sons de tiros das favelas ao asfalto? Ninguém seria capaz de correr esse risco.

Como os jogos acabaram, em meio a vaias do início ao fim, os veículos de comunicação de massa brasileiros voltam a soltar as manchetes rotineiras das metrópoles. ‘Ônibus incendiado’ …’Troca de tiros na favela tal…’. Saímos do sonho para retornar à dura realidade. Mas, agora, sem máscaras. (Simônica Capistrano, estudante de Jornalismo da Faculdade 2 de Julho, repórter estagiária do jornal A Tarde, Salvador, BA)

***

Ultrapassaram todos os limites da desinformação e da irresponsabilidade com a função de comunicação! Os sete erros da reportagem de Renata Granchi, na cobertura do portal G1 sobre a remoção de comunidade Canal do Anil, na quarta-feira (1/8): 1) A equipe do Globo nem esteve na comunidade durante a ação, logo só se pode supor que as informações foram prestadas por alguma fonte da Secretaria Municipal da Habitação (SMH); 2) a comunidade Canal do Anil tem cerca de 1.500 moradores, que não vão admitir a remoção ilegal, irresponsável e com requintes de crueldade que se tentou realizar; 3) segundo Maria Helena Salomão, coordenadora de remoções da SMH, foram cadastradas cerca de 172 famílias, mas apenas 39 negociaram e nem todas receberam a indenização – a grande maioria se recusa a receber os valores arbitrários e irrisórios oferecidos pela prefeitura; 4) na operação, quanto casas foram demolidas integralmente, uma das quais já abandonada há mais de um ano. Outras quatro foram duramente atacadas pelos funcionários da prefeitura, que fizeram demolições parciais em casas que ainda possuíam mobília e até com moradores dentro. A estratégia da prefeitura é atacar casas cujos proprietários negociaram, mas que são geminadas ou dividem laje com outras casas, cujos proprietários não negociam com a prefeitura ou não aceitaram os valores oferecidos. Com isso, a demolição de uma casa comprometeria a estrutura da outra, num efeito dominó.

5) Não há absolutamente nenhum escrúpulo ou respeito com relação aos que moram de aluguel – as negociações correram apenas com os proprietários e a única opção oferecida para os inquilinos é a retirada imediata do local; 6) o ‘risco ambiental’ apontado pelos laudos da prefeitura, em verdade, tem acobertado sua real intenção: ‘limpar’ o terreno da Agenco para que o projeto da Vila Pan-Americana seja concluído. A gleba que fica ao lado da comunidade Canal do Anil faz parte do terreno da Vila Pan-Americana e tem previsão de ser construído um centro de convenções, um estacionamento e uma ‘área de reserva imobiliária’, segundo o EIA/RIMA do empreendimento registrado na FEEMA;

7) Os recursos do governo federal são oriundos de um convênio fraudulento entre o Ministério do Esporte e a própria Prefeitura Municipal. O convênio previu a remoção sem negociação com a comunidade, sem a apresentação pública dos projetos e em total desrespeito à Lei Federal 10.257/2001 e à Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro, entre outras. Em audiência pública realizada na Câmara Municipal, o representante do Ministério do Esporte afirmou categoricamente que não haveria um centavo do convênio para remoção de famílias.

Em várias reuniões da representação da Comunidade, com o Secretário Municipal da Habitação sempre se negou a apresentar dados concretos, limitando-se a fazer discursos evasivos e ‘tranqüilizadores’ para tentar desmobilizar a comunidade. Enfim, é lamentável que uma jornalista se preste a um serviço desses… (Jorge Borges, geógrafo, Rio de Janeiro, RJ)

***

Caros senhores que diabo de enquete é essa da urna eletrônica do OI? ‘A que atribuir as vaias anti-esportivas durante o Pan? À cobertura patrioteira; À paixão pelo esporte; À incivilidade’. Cadê a quarta opção, qual seja a insatisfação com o governo? Do jeito que está, no mínimo, é capcioso. Sempre costumo responder às questões da urna do OI, mas este não é o caso. (Peter Moon, jornalista, São Paulo, SP)

***

A motivação para as vaias foi política, está na cara. Nós sabemos receber bem, mas o perfil do público era aquele da ‘Marcha…’. (Graça Maria de Moraes Pernambuco Agostini de Matos, administradora, Rio de Janeiro, RJ)

***

Pela primeira vez, creio que em anos, tenho uma crítica à pesquisa do Observatório. Não sendo, a meu ver, nenhuma das três hipóteses levantadas fiquei, sem opção de resposta. Creio que houve uma indução indevida na pesquisa, o proponente da mesma deveria verificar até onde sua posição subjetiva não influenciou a escolha das respostas. (Fraim Hechtman, aposentado, ex-engenheiro, ex-psicanalista, Rio de Janeiro, RJ)

***

Sou um leitor e telespectador relativamente assíduo do Observatório. Neste último fim de semana, ouvindo a reportagem sobre a implosão do prédio da TAM, em São Paulo, deparei-me com o seguinte comentário por parte de uma ‘jornalista global’: ‘Estavam presentes no local, autoridades (Infraero, prefeito, governador, policiais, bombeiros etc), jornalistas e curiosos’.

Os jornalistas faziam a cobertura da implosão pelo óbvio motivo de informar seus ouvintes, leitores, telespectadores etc. A definição da jornalista é, no mínimo, curiosa, pois se o cidadão está em casa e procura informações sobre a implosão nos jornais, TV ou rádio ele é um leitor, ouvinte, telespectador bem informado, culto, interessado etc. Agora, se ele prefere presenciar a notícia em vez de simplesmente acompanhar pelo noticiário, então ele se torna um ‘curioso’. Isso me lembrou Foucault quando dizia que a imprensa precisava ouvir psicólogos, advogados, médicos e representantes da população em geral, pois ouvir da fonte mesma – isto é, das donas-de-casa, dos presos e dos envolvidos diretamente no problema – não traz credibilidade. O que sabe uma dona-de-casa das dificuldades que enfrenta para gerir seu lar, ou um preso sobre as mazelas do sistema, ou os mendigos das dificuldades que encontra para sobreviver e se incluir na sociedade? Precisamos ouvir sempre os ‘intérpretes das situações’ e não as pessoas mesmas envolvidas no problema. A mídia realmente informa? (Ibsen José Fabis Marques, São Paulo, SP)

***

Foi publicado no blog humoristico kibeloco (www.kibeloco.com.br), na quarta-feira (1/8) um vídeo em que o neto de Brizola, João Eduardo Brizola, aparece jogando ovos em transeuntes e automóveis da varanda de um apartamento em Ipanema, no Rio. O vídeo foi gravado com o consentimento do jovem, que não se sentiu nem um pouco acanhado em demonstrar como acertar pessoas comuns na rua (algumas delas acertadas enquanto trabalhavam). Após lançar os ovos, ele e sua gangue da elite carioca se escondem no interior do apartamento, protegidos de qualquer reclamação, onde riem e debocham das suas vítimas. Em outro vídeo (parte 2), Boninho, Narcisa Tamborindeguy e outros relatam a sua experiência em lançamento de objetos. Narcisa: ‘Eu taco tudo pela janela, adoro acertar, adoro me esconder’. Boninho: ‘Já acertei muita vagabunda em São Paulo’.

Por que nenhum jornalista escreve sobre o assunto? Parece que a indignação dos jornalistas é seletiva de acordo com a esfera social a quem se refere (por exemplo, assessor do Planalto fazendo gestos obscenos). Será que ninguém viu o vídeo no site kibeloco? Em tempo: os vídeos são apagados misteriosamente do YouTube, minutos após serem postados, apesar de não infrigirem nenhuma norma do site. O Observatório poderia discutir o movimento de abafa do vídeos. Links aqui e aqui. (Henrique Gomes da Silva, psicólogo, Campinas, SP)

***

Não vou escrever sobre o que segue, apesar de militar na área. Limitar-me-ei a levantar a bola para que os colegas deste Observatório reflitam ou escrevam. Pego a revista Bravo! deste mês. Na capa tem uma foto de Caetano Veloso anunciando matéria sobre a chegada dos 40 anos do Tropicalismo. O mote é uma exposição que vai rolar em comemoração à coisa. A curadoria é de Marcelo Rezende, o mesmo que assina a matéria, que vem a ser também editor da revista. Há um conflito de interesse escadaloso aí ou estou sendo um xiita deslocado do pudor jornalístico? (Edson Wander, jornalista, Goiânia, GO)

***

Recorro ao Observatório por que não sei a quem recorrer quando o assunto é televisão. Muitas emissoras brasileira defendem a ética da liberdade de imprensa mais não respeitam a vida infantil presente em cada família. Nós pais ficamos cada vez mais impotentes diante disso. Eu tento controlar no que posso para que minha filha não veja tanta porcaria, sexualidade e violência. A propaganda da Petrobras que tem um ET falante está deixando minha filha medrosa e desesperada. Ela sempre dormiu e fez tudo sozinha. Agora vive no meu pé e tem medo de tudo porque viu esta propaganda. Eu estou em casa e vi como minha filha de 5 anos ficou assustada e chorando o tempo todo. A quem recorrer? Não há como brigar para que se retire esta propaganda da TV? Gostaria que houvesse discussão sobre os limites da propaganda, novela, desenhos, filmes e tudo que passa na TV. (Veronica Lima da Fonseca, pedagoga, Taguatinga, DF)

******

Jornalista, Cotia, SP