Há quatro anos, um relatório da ONU observou que a falta de livros estrangeiros traduzidos restringia a vida intelectual árabe. Na ocasião, o estudo revelou que, a cada ano, a Espanha traduz o equivalente ao número total de livros traduzidos para o árabe nos últimos mil anos. Para reverter esta situação, foi criado o projeto Kalima (Palavra), anunciado esta semana em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O objetivo é publicar 100 livros traduzidos para o árabe no primeiro ano e 500 títulos por ano até 2010.
Entre os primeiros autores a entrar no projeto estão Stephen Hawking, Umberto Eco, Haruki Murakami e Jürgen Habermas. Em breve deverão ser traduzidos livros de Khaled Hosseini, Albert Camus, George Eliot, Albert Einstein e Jacques Lacan. A seleção de obras participantes é planejada de maneira a equilibrar gêneros literários e abordar autores clássicos e contemporâneos. Também serão traduzidos trabalhos acadêmicos e educacionais. Os primeiros 100 livros são de 16 línguas diferentes, incluindo inglês, grego, japonês, russo, chinês, italiano, sueco e iídiche.
Vácuo
‘Nós queremos dar aos leitores árabes a oportunidade de ler e apreciar, em sua língua materna, a vasta qualidade literária mundial. A língua árabe é bela e expressiva, e deveria ser mais valorizada’, afirma Muhammad al-Mazrouei, diretor-geral da Autoridade de Abu Dhabi para Cultura e Herança, órgão governamental que financia o projeto de tradução e publicação.
Para Karim Nagiba, que coordena o Kalima, é hora de acabar com o vácuo que existe na biblioteca árabe. ‘Em séculos passados, a cultura árabe foi fonte de grandes riquezas para a tradição intelectual ocidental. Por isso temos que comemorar que esta iniciativa possa oferecer outras riquezas em troca’, lembra o escritor britânico Ian McEwan. Informações de Ian Black [The Guardian, 22/11/07].