A Fifa cometeu dois erros fatais ao negar as duas próximas Copas do Mundo ao ainda poderoso império americano e ao velho império inglês. Note que, desde então, jamais teve paz.
Primeiro caíram os velhos cardeais corruptos e agora os que os substituíram.
Não sejamos seletivos na indignação, porém.
Havelange, Teixeira, Hawilla, Leoz, Marin, o que menos importa é o nome do bicho.
Importa denunciar o mundo à parte que inventaram, no qual se vive nababescamente e depois corre-se o risco da desmoralização, da prisão e da humilhação. Vale a pena? Cada um sabe de si.
Lava-se dinheiro e joga-se bruto no esporte desde que o esporte virou o negócio que virou.
Certa de sua impunidade, a cartolagem da Fifa jamais deu bola aos que a investigavam.
Preferiu sempre negar-lhes credenciamentos, processá-los ou ignorá-los.
A polícia do mundo é a polícia do mundo e as três letrinhas do FBI golearam as quatro da Fifa. Porque, como sempre, alguém precisa botar um mínimo de ordem nesta zorra.
Zorra que gera a promiscuidade incapaz de separar jornalismo de propaganda ou de entretenimento.
Promiscuidade que atinge até o Poder Judiciário, que vira e mexe dá razão a tais figuras.
Ou permite que comunicadores e executivos frequentem os mesmos convescotes que tais cartolas e os protejam e homenageiem.
Dia desses mesmo, na festa da FPF, o número 1 da Globo Esporte, Marcelo Campos Pinto, se desmanchou em elogios ao “eterno presidente Marin” –e o homem já não tem mais nem o nome no edifício que mandou construir a toque de caixa, por R$ 70 milhões!
“2015 vai entrar para a história do futebol brasileiro como um grande ano, o ano em que José Maria Marin passou o bastão ao presidente Marco Polo Del Nero”, disse Campos Pinto. De fato!
Não satisfeito, acrescentou, emocionado, a Marin: “O senhor escreveu o seu nome na história do futebol brasileiro, tendo sucedido um outro grande presidente, que foi o Ricardo Teixeira”.
Nero foi saudado como “excelentíssimo senhor com o qual tenho o privilégio de conviver assiduamente há mais de 11 anos”.
Esta promiscuidade também precisa acabar porque não há autocrítica que dê conta quando o interesse do negócio suplanta a ética e os bons costumes.
O que vale para a GM, Visa, Ambev, Itaú etc.
Uma coisa é a polidez numa cerimônia pública, outra é a cumplicidade subserviente porque, enfim, tudo resulta no mesmo, em comissões, bônus ou corrupção.
Finalmente é preciso salientar que mais que novas CPIs da CBF, será fundamental aprovar a Medida Provisória do Futebol, esta sim com novos métodos de governança que podem mudar os hábitos que vigoram há décadas em nosso futebol.
Para que não sigamos ouvindo de um Hawilla o que eu já ouvi, há anos, de um Odebrecht: “Preferiria que fosse diferente. Mas o jogo é o jogo, não posso mudar o mundo”.
Todos podemos.
***
Juca Kfouri é jornalista, colunista da Folha de S.Paulo