Nesses dias, a programação da TV está recheada de propaganda eleitoral gratuita. A cada dois anos a telinha traz bizarros personagens que disputam votos, audiência e a paciência do telespectador. Os programas humorísticos não conseguem tanto efeito como a fala dos aspirantes à vida pública. Em ano de votação, o eleitor é bombardeado com convenções de partidos, nomes curiosos, mil candidatos, muitos boatos e poucos fatos, apelidos curiosos, mensagens artificiais e se pergunta o tempo todo: por que esse senhor é candidato? Será o sonho de virar celebridade por um mês chegando à TV em horário nobre? Suas propostas podem promover alguma transformação social? Ele só quer o emprego? Vale tudo na busca do voto, que vem do latim volutas (vontade) e que deve ser dado de forma livre e espontânea.
A poucos dias das eleições, o voto é manipulado na telinha pela propaganda política subliminar, ou seja, o que está por debaixo dos panos dos discursos daquela centena de candidatos que aparecem na TV e discursam no rádio. Na luta pelo poder, é armado um jogo irreal de denúncias e acusações. O circo ilusório das urnas. São técnicas subliminares para convencer o eleitor. Os marqueteiros criam o malabarismo dos programas de governo, palavras melodramáticas e o clima artificial do ‘já ganhou!’, que mais confunde do que esclarece. E a pergunta fica no ar: ‘O que o senhor quer dizer com isto?’
Propaganda opressora
Analise o que fala o candidato. Analisar compreende ouvir o que ele diz, o que fez, faz, não fez, promete e desenvolver sua opinião crítica. Leia os gestos nos programas da TV. Desligue o som e olhe os gestos, posição de corpo e olhar do candidato. Em três dias, vai perceber os gestos ensaiados, o modo como olha e como não olha para a lente. Como usa o gestual das mãos, como aperta as pálpebras e como sorri. Nas cenas de multidão ou comícios observe os gestos dele, se franze o nariz ao tocar as pessoas, se no abraço ao eleitor ele se afasta para trás, se o sorriso é preso e artificial. Se ele acena de longe para a massa. Se os pequenos filmes, aqueles exibidos durante a programação, revelam outras idéias. Nenhuma imagem é inocente. Traz um mundo de coisas.
Outro elemento subliminar: o som. Ouça a voz dele. Se perceber que ela é impostada, artificial ou ensaiada ou se o tom inspira confiança. Se ele fala ‘nossos filhos’, ‘nossos lares’ é porque ele quer passar uma imagem de pai que cuida do eleitorado e toma decisões em seu nome. É a chamada propaganda opressora, pois sabe o que o eleitor quer. O candidato precisa e busca identificação. Os temas do momento são saúde, emprego e segurança.
Para convencer corações e mentes
A propaganda de apelo popular, populista, funciona para os menos críticos. O candidato diz ‘todo mundo vota em mim’ ou ‘todos me amam’. Ou ainda ‘a campanha cresce a cada dia’ para que o eleitor adversário se sinta minoria ou marginalizado e adote o voto útil, ao pensar ‘se ele já ganhou, não vou perder o meu voto’. Muitos candidatos abusam do poder econômico. Sujam a cidade com cartazes, poluição visual, pichações, adesivos de carro, pintam muros, compram espaços nas paredes externas das casas mesmo sabendo que não têm votos ali e, pior, não limpam a cidade depois das eleições. Este ano, a Justiça eleitoral coibiu procedimentos como comícios com artistas, outdoors gigantes, camisetas, bonés, brindes e banners em postes públicos. Um alívio!
Enfim, a mensagem da campanha afeta o inconsciente ou subconsciente do eleitor e aparece no resultado das urnas. Ela precisa ser analisada porque é cuidadosamente elaborada para convencer corações e mentes. Deve atingir facilmente o eleitor e sensibilizá-lo sem que ele perceba.
******
Jornalista, professor universitário e mestrando em Comunicação