A TV Record perdeu a grande chance, no domingo 9/10, de realizar um dos melhores programas esportivos da sua história. Os convidados do programa Terceiro Tempo, apresentado por Milton Neves, debateriam as denúncias contra a arbitragem no Brasil. Lá estavam o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, acusado de vender resultados de jogos para beneficiar apostadores virtuais; o ex-árbitro Oscar Roberto de Godoy, o árbitro Carlos Eugênio Simon, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Marcopolo Del Nero, e o presidente do Internacional, Fernando de Carvalho, além de comentaristas e repórteres esportivos.
Verdadeiro idiota
A impressão que se tinha era de que o caso envolvendo Edílson ganharia novos rumos. Mas tudo não passou de impressão. O excesso de propaganda inserida durante o programa, com duração de 120 minutos, enterrou essas pretensões. É bom que se diga que as verbas de publicidade são importantes para manter ou melhorar a qualidade dos programas. As emissoras que sobrevivem sem esses recursos, exceção feita às mantidas por fundações e poder público, são vistas (ou pelo menos deveriam) com suspeição. Se elas não tiram seu sustento do merchandising, então de onde vêm ou deveriam vir os recursos que as mantêm? Quando o dinheiro não sai dessa rubrica, o telespectador, o ouvinte ou leitor deve desconfiar, pois o faturamento estará vindo de outra fonte, talvez até oficial. E aí a situação fica ainda pior. O contribuinte é que poderá estar pagando a conta, da maneira mais desonesta possível.
Temos que defender a publicidade forte nos meios de comunicação. Só que deve haver limite. No programa Terceiro Tempo, quando a discussão começava a fluir, o apresentador Milton Neves e sua assistente de palco, Renata Fan, eram obrigados a interrompê-la para dar lugar aos comerciais.
O telespectador da TV Record deve ter-se sentido verdadeiro idiota diante de um programa de que se esperava muito. Os convidados tinham tudo para trazer novidades sobre o caso de corrupção na arbitragem brasileira. Só depois de duas horas assistindo a mais propaganda do que a debate percebi que tinha sido usado indevidamente pela emissora e, por que não dizer, pelos anunciantes.
‘Quero mais’
A área responsável pelo marketing da TV Record precisa rever sua estratégia em relação ao excesso de publicidade. Não vêem os anunciantes que seus produtos estão se perdendo diante da quantidade excessiva de mercadorias e serviços? Não há mais espaço para debate. Não tenho dúvida de que, das duas horas de programa, pelo menos metade do tempo foi gasta com publicidade. Volto a dizer que os meios de comunicação só deveriam tirar verbas da publicidade. Sem essa fonte de recurso, sobra espaço para jabás e negócios estranhos, como a busca por socorro federal para evitar rombo maior nas finanças dessas empresas.
Diante disso, cabe à TV Record repensar sua estratégia de tal forma que a emissora continue com seu alto, legal e necessário faturamento, mas que olhe com um pouco mais de carinho para seus telespectadores. Que eles sejam respeitados. Afinal, são eles que dão audiência e decidem quem deve ou não permanecer nesse mercado para lá de concorrido.
Quem ficou das 23h de domingo à uma da manhã de segunda-feira em frente à TV esperando um debate de alto nível foi dormir muito decepcionado. Até Edílson Pereira de Carvalho deixou o programa com gostinho de ‘quero mais’. E o telespectador também.
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Jornalista em Brasília