Sua filha é uma criança e já sabe dançar. E, como se não bastasse, seu filho foi, desde cedo, criado para ser um idiota. Você não se deprime porque é mais idiota que seu filho. Ou, talvez, se por acaso tiver lido livros na vida, sente-se de alguma forma culpado: não se preocupe tanto, pois a culpa não é somente sua.
Recentemente, em pesquisas a respeito de assuntos relacionados àmídia e educação, deparei com um estudo realizado pela pesquisadora Sara Schmidt, o qual todos deveriam ler (ver aqui). Ele, de fato, é esclarecedor. Em uma análise a respeito de anúncios publicitários envolvendo crianças, a autora constata uma dicotomia interessante: enquanto anúncios voltados para crianças mostram crianças sexualizadas, sedutoras, competitivas etc., anúncios voltados para o público adulto retratam uma infância toda simpática, amável, inocente…
Estupidez, nesse contexto, deixa de ser uma palavra feia para tornar-se conceito científico. Não acho outro para referir-me à publicidade voltada para crianças. A não ser, talvez, atrocidade, chacina intelectual ou coisa que o valha.
As novas gerações me dãomedo
Ao avaliar, por meio de oficinas realizadas junto a crianças de uma escola pública, os comportamentos, ações e palavras de jovenzinhos de quatro a cinco anos de idade, Schmidt descobriu que a linha de separação de gêneros (“aventura, força, armas, velocidade” para meninos; “beleza, maquiagem, compras, novela” para meninas) mostrada na mídia já se fazia presente em suas visões de mundo. O grupo de meninos e meninas da oficina foi questionado sobre que brincadeiras poderiam fazer juntos (misturando os dois sexos). Algumas respostas contidas no artigo: “beijar na boca, namorar na cama, trocar de uniforme, dar um selinho, balançar, escorrega, príncipe e princesa…” E por aí vai. Ponto para a mídia (uma observação: acho que esse “escorrega” a é escorregar numa daquelas rampinhas que tem nas praças mesmo).
Hoje, nossas crianças são apresentadas para o mundo da idiotice, perdão… da moda (confundo conceitos com estreita relação às vezes) desde muito cedo, através de Barbies loiras e sem costelas (você nunca ouviu falar que seria necessário retirar algumas costelas de uma mulher para que seu corpo ficasse igual ao de uma Barbie?). Nossas crianças são ensinadas sobre as vantagens de ter um iPhone (poder esfregar isso na cara do seu colega que não tem). Em outra palavras, não é difícil saber de onde brota toda a estupidez que ouvimos diariamente quando ligamos a TV ou passamos perto de um grupo de adolescentes.
De fato, quando o consumo assume o lugar de Deus na sociedade, torna-se necessário pensar nos ensinamentos que a mídia transmite a nossas crianças. Estãoelas realmente sendo preparadas para lidar com as situações difíceis que o mundo vai lhes oferecer? Ou estãoaprendendo a refugiar-se em um mundo de faz de conta enquanto o consumo e a prostituição sãoincutidos continuamente em seus espíritos? As ações e os caminhos de uma sociedade dependem do quãopreparados sãoos indivíduos que nelas se inserem. Por isso é que as novas gerações me dãomedo… muito medo.
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Estudante de Jornalismo, Passo Fundo, RS