‘Zélia Duncan? De onde veio? Quem é? Alguém vai? Tinha que colocar um pessoal maneiro, não uma pessoa que ninguém nunca viu, só porque é de graça, né? Claroooo… Hahahahahaha’ (sic).
Facilmente, essa citação poderia ter sido colhida em alguma rede de relacionamento social como Orkut, Facebook ou Twitter. Mas não foi. Trata-se da coluna de Jéssica Souza, a nova colunista do jornal Aqui, da cidade de Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro.
Jéssica tem 19 anos e trabalha como recepcionista do jornal. Agora, dividirá a função que ocupa com a coluna semanal. Não se trata propriamente de uma coluna tradicional. Sua participação fica restrita a pequenos comentários, publicados depois de notas sobre a movimentação social da cidade.
Por exemplo, depois de uma rápida notícia sobre uma exposição artística, Jéssica comenta: ‘Ah, fala sério, esse negócio de Fazenda da Posse, não tô julgando, não, mas pô, quem vai perder tempo indo nessas paradas?’ (sic).
A linguagem, julgada vulgar e conhecida como ‘internetês’, assustou os leitores voltarredondenses. Diante da forma de escrita da jovem e suas posições opinativas, julgadas imaturas, colunista e jornal receberam vários emails com manifestações de desagrado.
Intenção é atingir os jovens
Na edição seguinte, o jornal Aqui publicou um texto opinativo (mesmo sem assinatura) defendendo a colunista. ‘Poucos entenderam a novidade e o propósito de se criar uma coluna voltada para os jovens, intercalando o noticiário social com a irreverência, o estilo e o linguajar próprio dos jovens que se comunicam via Orkut, Facebook, Twitter etc. O engraçado é que todos eles usaram a própria internet para emitir suas opiniões. Contrárias a Jéssica S., é lógico’, argumenta a publicação.
Ainda na defesa de Jéssica, o jornal destacou a manifestação de alguns leitores, todos perplexos com a coluna da semana anterior. ‘Sou leitora do jornal Aqui e venho demonstrar minha indignação após ler a `coluna´ da Jéssica S. Sim, entre aspas, porque é impossível chamar aquela escrita tosca e precária, cheia de erros de português e culturais, de coluna’, condena a leitora Patrícia Tolentino.
Junto com a defesa que o jornal fez da sua colunista, a própria Jéssica destaca sua opinião sobre as manifestações de desagrado recebidas: ‘Vou crescer com tantos `amigos´ me ajudando. O que eles não sabem é que sei ser o que quero ser. Posso ser infantil, adolescente rebelde na visão de quem me critica, mas antes que me condenem, um aviso: era essa minha intenção e o `público´ se comportou como eu queria!’, ironiza.
O editor-chefe do jornal Aqui, Luiz Vieira, garante que a coluna continuará sendo publicada. ‘Assustou um pouco os leitores. O pessoal está acostumado a ler sobre políticos, madames e assuntos mais sérios. Nossa intenção é atingir outro público, os jovens. Apenas isso’, ameniza.
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Radialista e jornalista, Pelotas, RS