Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Que jornalismo é esse?

A jornalista Helena Mader, do Correio Braziliense, antes mesmo de todas as instituições legais se manifestarem em definitivo, já deu a sua sentença sobre o impasse existente na reserva ecológica Burle Marx, na Asa Norte, Brasília, no qual o Governo do Distrito Federal (GDF) pretende expulsar a comunidade indígena de lá.

Na edição de quinta-feira (19), na matéria ‘Há dez anos um só índio’, ela chamou a área, que é uma reserva ecológica, de futuro Noroeste (uma cidade para 40 mil pessoas nos planos do GDF). Ato falho? Certamente que não. Pois quem está acompanhando o caso percebe a forte tendência do setor especulativo imobiliário nas matérias da jornalista.

Não vou entrar naquele discurso da mídia golpista, blablablá. Até porque a imprensa é ‘livre’ e, resguardados os devidos limites, é assim mesmo que tem que ser. E na mesma forma de liberdade, aqui estamos, livremente, manifestando o contraditório e revelando os grandes equívocos sobre a inexistência deste imbróglio. No entanto, a grande diferença entre nós e aquele veículo está no meio de divulgação em relação às proporções da mensagem, é verdade. Mas quem nunca ouviu dizer naquela briga de um sujeito enorme e outro pequenino, Davi e Golias?

Área de trânsito

É preciso dizer que a manipulação está óbvia demais. Nas matérias do jornal as opiniões contrárias às indígenas são sempre introduzidas e concluídas e os títulos são sempre favoráveis ao setor imobiliário. Chegaram ao cúmulo de entrevistar uma pessoa, que se disse advogado dos índios, mas que não tem aval nenhum para falar em nome deles. O pagé Sanxiê nos contou que há anos o tal advogado não fala em nome da comunidade indígena. O sujeito disse, em uma das apurações da jornalista, que aceita uma indenização de 3 milhões de reais para que a comunidade indígena saia do parque. Mas os índios ao menos foram consultados sobre isso?

A reserva ecológica Burle Marx, que foi criada pela lei 2.007 de 20/7/1998, tem uma área de 825 hectares. A comunidade indígena formada por índios Fulni-Ô, Kariri-Xocó e Tuxá ocupam uma área de 10 hectares. Ao todo, residem periodicamente 27 indígenas na reserva ecológica. Mas a área é de trânsito para índios de todo o Brasil que vêm a Brasília para resolver questões com a Funai e também para manifestações em datas festivas.

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Jornalista, Brasília, DF