Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Quem precisa de um marqueteiro?

Esta semana vários jornais publicaram as declarações dos coordenadores da campanha da senadora Marina Silva de que ela não terá um marqueteiro porque querem apresentar a candidata como ela é, sem mudar seu visual, ou sem ‘pirotecnia’, por exemplo. E daí, senti-me na obrigação de escrever algumas palavras. Vamos lá:

O marketing político tem sido a grande ‘Geni’ nacional: sinônimo para definir jogadas escusas, fabricação de candidatos enlatados e artifícios pouco louváveis de manipulação do eleitor. Mas, será esta uma arma tão poderosa, usada contra um eleitor tão frágil, que sucumbe passivamente à sua força? Bem, nem uma coisa, nem outra: nem o marketing político pode tudo, nem o povo é isento de percepção e capacidade de decisão. Muito pelo contrário: assim como em qualquer segmento do marketing, ele fundamenta-se no estudo dos movimentos do mercado. E no caso do marketing eleitoral, esse mercado a ser estudado é, obviamente, o eleitorado.

É com base numa extensa análise dos anseios, das tendências, das necessidades desse mercado, que um candidato deverá ser apresentado. Lembrando que o candidato não é um produto racionalmente desenvolvido, mas uma pessoa, com passado, história, ações e personalidade que não podem ser fabricados. E cujos atributos, que devem ser respeitados, podem ou não estar em sintonia com o que o eleitor espera, dependendo de uma infinidade de variáveis.

Um verdadeiro exército de Brancaleone

Nesse mar de estigmas é que entra em cena o famoso personagem chamado marqueteiro, ora visto como um mago onipotente, ora como um oportunista que aparece apenas nas eleições. Mais uma vez, aqui, cabem algumas explicações, a começar pela própria palavra marqueteiro.

O profissional de marketing é denominado consultor político. Se atua na área política, esse especialista também pode ser chamado de consultor político. marqueteiro é um termo pejorativo. Surgiu como referência aos aventureiros que se lançavam, sem muito conhecimento de causa, pelas vastas águas do marketing. Aos poucos, esse termo foi associando-se exclusivamente a quem ‘mexe com política’. Não é difícil entender o porquê e nem condenar essa confusão, afinal realmente, em épocas de eleição, aparece uma horda de pseudo-especialistas, que imaginam ter encontrado o Eldorado nas campanhas eleitorais. Junte-se a isso, o fato de que a classe política é um dos segmentos sociais com menor credibilidade e está feita a confusão.

O marquetólogo ou o consultor político, como queiram chamar, é um profissional altamente especializado e qualificado que vai aplicar a ciência Marketing a serviço da política. Sua atuação não se restringe à época eleitoral, mas neste período, especificamente, domina e aplica as técnicas do Marketing Eleitoral. Precisa ter o conhecimento global das várias áreas que compreendem essa empreitada e que vão desde as pesquisas, até a comunicação.

Não é ele quem manda no candidato, não é ele quem aparece mais que o candidato, mas é ele quem orquestra todas essas frentes, orientando a campanha como um todo e sua expertise é fundamental para atuar à frente de um verdadeiro exército de Brancaleone, formado por pesquisadores, publicitários, jornalistas, profissionais de rádio e TV etc. etc.

Exercício sério e ético da profissão

Ninguém critica o papel de um maestro, nem de um treinador de futebol, por exemplo, pois é consenso que, apesar dos talentos individuais, é necessário alguém que unifique e estabeleça um caminho único, respeitando os atributos já existentes, se me permitem fazer essa comparação. Ou ainda, se preferirem: ninguém enfrenta um júri, sem a orientação de um advogado, ninguém submete-se a uma cirurgia sem a orientação de um médico, assim como ninguém enfrenta outro exército sem as estratégias de um general, para utilizar uma analogia bélica.

É preciso entender que, quanto mais conseguirmos desmistificar a imagem equivocada que tem o marketing político e seus profissionais, mais ganharemos em transparência em nosso constante exercício de democracia. É um equivoco também acreditar que a figura do consultor político é uma coisa do Brasil. Estados democráticos no mundo todo vêem nesses profissionais importantes contribuições. Ditaduras não combinam com o marketing político.

No Brasil, há 20 anos, a Abcop-Associação Brasileira de Consultores Políticos ocupa o papel de defender o exercício sério e ético dessa profissão, nos mesmos moldes de outros importantes representantes de classe no mundo todo, como a Alacop-Associação Latinoamericana, a AAPC-Associação Americana, a EAPC-Associação Européia, e a IAPC-Associação Internacional de Consultores Políticos.

Ao final dessa reflexão, pelo menos num ponto preciso concordar com a coordenação da campanha da senadora Marina Silva: eles não precisam de um marqueteiro. Mas precisam, urgentemente, de um consultor político.

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Consultora política, diretora de Relações Públicas da Abcop – Associação Brasileira de Consultores Políticos e editora do blog MarketingPolitico.com.