Ao saber que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou os jornalistas que cobrem a presidência da República de mal-educados, lembrei-me dos tempos em que era apresentador do programa Frente à frente, da TVE/Bahia e entrevistei, ao vivo, os principais candidatos a presidente em 1989. Mario Covas, Leonel Brizola, Paulo Maluf, Aureliano Chaves, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva passaram pelo Frente à frente. Lembro bem que Lula chegou aos estúdios da TVE/Bahia acompanhado do fiel escudeiro, jornalista Ricardo Kotscho.
Terminado o programa nos dirigimos ao Fique no 4, um boteco localizado em frente à emissora. Lula, descontraído, conversou com os clientes, tomou umas e outras, comeu sarapatel e demonstrou toda a sua simpatia. Foi uma noite memorável que ficou marcada em minha memória: de todos os candidatos entrevistados, foi o único que se dispôs a atender ao convite de ir ao boteco após o programa.
Alto custo
Em 1994 e 1998, reencontrei Lula, novamente candidato a presidente, em Recife, na campanha de Miguel Arraes, e em Maceió, na campanha de Ronaldo Lessa. Lula continuava o mesmo. Solícito com a imprensa, um bom papo e excelente entrevistado.
Mas o mundo dá voltas e Lula mudou ao chegar ao poder. Como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva tomou aversão à imprensa. Desde a posse, mantém jornalistas a distância. Essa performance, talvez, tenha sido a causa do afastamento de Ricardo Kotscho da assessoria de imprensa da presidência da República.
Como presidente, Lula se chateia com o assédio da imprensa. Chama os jornalistas de mal-educados e os mantém em cercadinhos, apelidados de chiqueirinhos pelo exíguo tamanho. Em quase três anos de governo, apenas uma coletiva, mesmo assim feita a fórceps, e umas poucas entrevistas individuais. No mais, uma tentativa de amordaçar a imprensa com a criação de um Conselho Federal de Jornalismo e de expulsar um correspondente estrangeiro do país. Dois fatos negativos para seu currículo.
Uma pena, pois a má vontade com a imprensa tem alto custo para Lula. Ao se tornar antipático, expõe-se a ser interpelado por perguntas gritadas. Não pode chiar, pois foi o presidente quem criou esses constrangimentos ao manter os jornalistas a distância.
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Jornalista