Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Quem vai matar a imprensa?

Tudo que é sólido se desmancha no ar. Tudo que é sólido se desmancha na rede. O que todos temem agora – principalmente os profissionais de comunicação – é que a própria imprensa se pulverize na rede, restando somente migalhas devidas àquilo que muitos gurus previam e ao que ela, por esse motivo, mais temia: o seu fim.


A imprensa está acabando? Provavelmente sim. Provavelmente não. O que realmente está acabando são os modelos tradicionais de produção noticiosa. Talvez isso leve a toda uma readaptação estrutural por parte dos grandes meios de comunicação, mas anunciar seu fim talvez seja tão incerto quanto anunciar o fim do mundo para 2012.


O fato de a imprensa estar desaparecendo não é tão relevante em si, pelo menos a curtíssimo prazo. A mídia tradicional de informação só está sofrendo tais sequelas por um único fator. Na verdade, dois.


O consumidor ‘tradicional’ não é mais o mesmo há pelo menos uns 20 anos, com o advento da própria web, só que os grandes meios teimam em não enxergar. O homem passa por um estágio de pós-modernismo em que os seres, para sobreviver, além da comida e da água precisam do consumo de informação. São os chamados informívoros, seres ávidos pelo consumo de informação abundante e instantânea.


O segundo fator é exatamente a instantaneidade: os principais meios de comunicação ainda teimam em não assumir um papel informacional na internet, realizando apenas a ‘transposição’ do jornalismo tradicional para a estrutura digital. Isso não é jornalismo digital. É mais do mesmo. Se você já tem a notícia no jornal impresso, dificilmente irá atrás da mesma informação na web. O leitor (usuário, na web) quer complementação, aprofundamento, discussão e, além de tudo, poder obter e compartilhar diferentes visões de pessoas ‘comuns’, de outros usuários, e não só a opinião restritiva de jornalistas consagrados.


Tempo restante


Para Summer Redstone, presidente da rede de TV americana CBS, a imprensa tradicional está acabando. Aliás, para ele, restam menos de 10 anos para que essa extinção, de fato, aconteça. O fator mais notável dessa previsão é a queda de circulação de jornais impressos, principalmente nos Estados Unidos.


Nos primeiros seis meses de 2009, o Los Angeles Times encolheu sua circulação em 6,5%; o USA Today, 7,46%; o New York Times, o jornal de maior prestígio do planeta, diminuiu 3,55%. Houve uma queda média de 10,6% na circulação de jornais americanos: todos, somados, não passam de 44 milhões de exemplares diários vendidos, o pior desempenho desde 1940. Nesta década, cada lar americano detinha mais de uma assinatura de jornal impresso. Hoje, esse número é 40% menor.


Apesar dos barulhos serem maiores no âmbito dos impressos, onde a queda de publicidade já é de 30%, os meios eletrônicos também sofrem com as mudanças. O rádio é condenado desde a invenção da TV. A CNN, uma das maiores emissoras noticiosas do mundo, despencou para o quarto lugar na audiência americana. Agora, o modismo é anunciar o fim da TV perante o celular, dispositivo móvel de importância ímpar para o mundo atual.


Fim de tudo


De previsão em previsão, devemos estar cientes de que a imprensa pode até estar em uma fase de urgência adaptação e mudança, mais a informação e a notícia jamais acabarão. Jovens que nunca antes leram uma edição do New York Times, agora acessam a página do jornal para checar algum fato de que tomaram conhecimento. Isso prova que a imprensa sofre, os gurus e céticos de plantão aplaudem, mas a credibilidade ainda fala mais alto, mesmo em tempos de web 2.0.


Os meios de comunicação de massa devem reformular o conceito da informação digital, pois a mera transposição jornalística não é jornalismo digital, muito menos demonstra uma imprensa atrás de inovação. Há uma sutil diferença entre estar na rede e fazer rede. Estar, todos nós estamos. Fazer, é o papel que a imprensa tradicional está mais do que na hora de assumir.


E há ainda um ponto importantíssimo nos chamados Gil (gurus de internet local): eles sempre realizam previsões catastróficas, como o fim do papel, dos livros, do rádio, da TV, do jornal e da imprensa em geral. Para a nossa sorte, eles erraram na maioria delas.

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Jornalista e blogueiro, pós-graduado em assessoria de imprensa, gestão da comunicação e marketing; São Paulo, SP