Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Reação às ações da Polícia Federal

‘El tiempo pasa, y nos vamos poniendo viejos…’ E envelhecendo, mudamos? Não importa quanto: horas, dias, meses, anos. A verdade é que o passar do tempo nos muda. A certeza de ontem é a dúvida de hoje. Mesmo as convicções mais arraigadas podem ser erodidas pelo passar do tempo. Essa é uma regra universal? Sim. Ou não (como diria Caetano).

Sim, ou não, não importa muito para o objeto do texto, que é a conduta midiática. Embora tenha deixado de criticar a mídia há algum tempo, não deixei de acompanhá-la diariamente. E, de ontem para hoje, fui surpreendido por algumas manifestações bastante interessantes. Vamos a elas.

Segundo Luiz Weis [‘Dora desenca o DEM‘, neste OI] a jornalista Dora Kramer, notória crítica do governo Lula, deu uma enquadrada regulamentar no DEM (neé PFL), advertindo seus integrantes quanto aos riscos de privilegiar o circo em detrimento da busca de informações sérias e de interesse social em relação à crise aérea. O mesmo Luiz Weis publica em seu blog post, um texto com o título ‘A imagem perfeita da mídia facciosa‘, no qual reproduz cartum de Barry Bitt em que é criticado o hábito de tal mídia transformar tocos em árvores frondosas e vice-versa. Qualquer semelhança com fatos ou acontecimentos recentes em terras brasileiras não é mera coincidência.

De outra banda, o jornal Zero Hora, classificado por muitos como o Pravda de determinados círculos políticos gaúchos, publicou matéria na edição de domingo (29/4) na qual comenta a opção de ‘estrelas’ oposicionistas de se manterem afastadas da(s) CPI(s) da crise do transporte aéreo. Segundo alguns integrantes do DEM (neé PFL), existe grave risco de que os governistas levem a investigação até atos praticados durante os governos tucanos (leia-se FHC), o que poderia resultar em elevados prejuízos políticos para a oposição.

Interesses inconfessáveis

Então, cabe indagar: essa brecha na blindagem se dá por uma tomada de consciência provocada pela reação popular à abordagem midiática do governo federal ou resulta da corrosão provocada pela passagem do tempo? Não sei a resposta, mas me permito especular. Penso que é efeito de manifestações climáticas e mitológicas desencadeadas por ações da Polícia Federal nos últimos dias.

Como já escrevi neste OI (ver aqui), tenho plena convicção de que muito desse ataque massivo ao governo Lula se deve à liberdade de atuação conquistada pela Polícia Federal, que vem desmantelando esquemas de corrupção há muito enquistados nos mais diversos setores da República. O que me traz à lembrança outra convicção: nós, policiais civis de todas as unidades da federação, temos uma ambição: quando crescermos, queremos ser iguaizinhos à Polícia Federal. Quando, e se, esse dia chegar, vai faltar espaço para publicar a quantidade de malfeitorias praticadas por pessoas ‘acima de qualquer suspeita’.

Gostei. Comecei com Mercedes Sosa e terminei com Scott Turow. Aquele negócio de ‘puliça’, ‘pê, ú, éle, i, cecedilha, a’, só existe na Globo e serve a interesses que, parafraseando Oscar Wilde, não podem ser confessados.

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Policial civil, graduado em Direito e pós-graduando em Segurança Pública e Direitos Humanos, São Pedro do Sul, RS