Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rede Globo maquia audiência de novela

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 9 de outubro de 2008


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo maquia audiência de ‘A Favorita’


‘Em anúncio publicado ontem, a Globo aumentou artificialmente a audiência de ‘A Favorita’. Para dar maior audiência à atual novela das oito, a pior da história, a emissora atribuiu a ela resultados dos dois últimos meses de ‘Duas Caras’, sua antecessora.


‘A Favorita’: 66% de telespectadores, 100% de liderança’, era o título do anúncio. Um asterisco remetia a uma frase de borda de página, revelando que os dados eram do PNT (Painel Nacional de Televisão) e do segundo trimestre.


‘A Favorita’ estreou em 2 de junho. Naquele mês, no país todo, teve 37 pontos de audiência (cada um ponto equivale a 1% dos domicílios) e 57% de share (participação no total de televisores ligados, que foi de 65% no horário em junho). A Globo, no anúncio, se refere ao share.


Em seus dois últimos meses, ‘Duas Caras’ teve 46 pontos e 70% de share. A média desse desempenho com o do primeiro mês de ‘A Favorita’ dá 66%. Na média acumulada até o dia 4, ‘A Favorita’ tinha 60%.


A Central Globo de Comunicação afirmou que ‘os números publicados serão sempre referentes à faixa horária do período retratado no PNT e associados ao programa que está no ar. Como esta é uma campanha de cunho comercial, os anunciantes que compraram a faixa horária da novela 3 [‘Duas Caras’ e ‘A Favorita’] neste período [2º trimestre] efetivamente obtiveram uma média de 66%’.


CONTEÚDO


A Rede TV! promete mudanças em sua programação de 2009. Uma das novidades será a criação de uma linha de shows após o ‘Superpop’ (que continuará diário, segundo a emissora). Por enquanto, só está prevista uma ‘série de ponta’ às segundas, às 23h15. Superintendente-artística da emissora, Mônica Pimentel embarca amanhã para feira de TV em Cannes, na França, onde tentará comprar a atração.


VINTAGE


Após ‘Buffy’, que exibirá aos domingos às 17h, a partir do dia 19, a Rede TV! anuncia mais duas séries antigas. Em novembro, aos sábados, às 19h, transmitirá ‘Barrados no Baile’, a primeira versão, desde o primeiro episódio. E a clássica ‘Dallas’ reestréia dia 25 _entrará aos sábados, às 23h30.


MAIS DEBATE


A Band estuda promover um debate com os candidatos a vice-prefeito nas capitais em que haverá segundo turno.


FRISSON


Após mirar (sem acertar) em locutores da Globo, a Record está tentando tirar da concorrente executivos da área de eventos esportivos, profissionais que conhecem o caminho das pedras para grandes transmissões, como olimpíadas.


SUMIÇO


Tarcísio Meira, após afastamento para cirurgia nos olhos, deve voltar a gravar ‘A Favorita’ na semana que vem. Na novela, seu personagem continua sendo citado, mas não aparece. Fica parecendo que o autor não quis reescrever as cenas de seu Copola. Ou que o diretor esqueceu de gravá-las.’


 


 


Silvana Arantes


Guel Arraes ironiza o mundo da TV


‘Em seu novo filme, ‘Romance’, o diretor Guel Arraes (‘O Auto da Compadecida’, ‘Lisbela e o Prisioneiro’) faz um ensaio sobre a representação dramatúrgica do amor, recheado de ironias aos cacoetes da TV e do cinema brasileiros.


Na primeira exibição pública do longa, anteontem, no Festival do Rio, a platéia riu mais do que o diretor gostaria.


Antes da sessão, Arraes apresentara o filme como um romance com pitadas de comédia, distinguindo-o de seus trabalhos anteriores, que são comédias com pitadas de romance. ‘Se vocês rirem muito, vou ficar bastante preocupado’, disse ele.


Recente pesquisa Datafolha encomendada pelo Sindicato dos Distribuidores para mapear os hábitos de consumo de cinema no país identificou que comédia é o gênero preferido do espectador quando se trata de filmes nacionais.


Não-atores


A platéia que lotou o Cine Palácio, no centro do Rio, para ver ‘Romance’, riu ruidosamente de personagens como Orlando (Vladimir Brichta). Ele é um ator que ambiciona um papel num especial de TV a ser rodado no Nordeste, mas descobre que os testes serão restritos a não-atores da região -expediente que é voga no cinema nacional recente.


‘Passei anos da minha vida me formando como ator e vou perder a melhor chance que tive até agora porque sou ator’, conclui Orlando, que decide, então, fingir-se de sertanejo, para se submeter ao teste.


A escalação de Orlando para o papel termina acrescentando mais um vértice à relação do casal de protagonistas, formado pela atriz Ana (Letícia Sabatel- la) e pelo ator e diretor Pedro (Wagner Moura). Os dois se apaixonam durante uma montagem teatral de ‘Tristão e Isolda’, matriz das narrativas do amor romântico.


O desempenho de Ana na peça chama a atenção de Danilo, diretor geral de uma emissora de TV cuja logomarca é prateada e esférica. Danilo é interpretado por José Wilker, com entonação, gestual e tiradas sarcásticas que remetem ao diretor Daniel Filho.


Alçada ao estrelato na novela, Ana vê sua relação com Pedro entrar em crise. Ele despreza a audiência de TV. Prefere a atenção atenta do restrito público de teatro a um espectador ‘que está me vendo por acaso, entre dois anúncios de detergente’.


É uma escolha que a pragmática produtora Fernanda, vivida por uma Andréa Beltrão decalcada de Paula Lavigne, que produziu ‘Romance’, é incapaz de compreender.


‘Por que representar para 300 pessoas, se você pode representar para 30 milhões?’ é uma das falas de Fernanda.


O roteiro de ‘Romance’ foi escrito por Arraes, diretor de núcleo na Globo ao qual pertencem produções como ‘A Grande Família’, e por Jorge Furtado (‘O Homem que Copiava’, ‘Saneamento Básico’), que também realiza trabalhos para a emissora. O título tem co-produção da Globo Filmes.


De Glauber a Manga


Resumindo sua trajetória profissional, anteontem, Arraes disse que, ‘em meados dos anos 70, queria fazer cinema como Glauber Rocha’ e que, no início de sua ‘vida profissional na TV Globo’, inspirado pelas chanchadas, ‘queria fazer comédia como Carlos Manga’.


‘Romance’, segundo o diretor, filia-se ‘a uma terceira linha de cinema, que corresponde à nouvelle vague, na França, e, no Brasil, aos filmes de Domingos de Oliveira’.


‘Romance’ estréia em 14/11, em aproximadamente 70 salas, segundo o distribuidor Rodrigo Saturnino Braga (Columbia). Antes, tem exibição na Mostra de São Paulo.’


 


 


Lùcia Valentim Rodrigues


Especial retrata ‘mãe de Harry Potter’


‘Um cinegrafista acompanha o ponto final na saga do bruxo Harry Potter. Em um quarto de hotel, J.K. Rowling faz os últimos ajustes em ‘As Relíquias da Morte’, 11 anos após o início da milionária série.


O programa tenta aproximar criadora e criatura, seja com algumas coincidências -fazem aniversário no mesmo dia, 31 de julho-, seja com fatos reais da biografia dela, como uma infância difícil e a morte da mãe. Até um quarto sob a escada ela tinha como no livro (mas não era obrigada a dormir lá).


O especial tem dados interessantes, como o rompimento com o primeiro marido em Portugal, a relação com a irmã, Dianne, e as brigas com o pai.


São detalhes curiosos que não se vê normalmente no noticiário sobre ela e descortinam a vida da escritora mais bem paga do mundo, segundo a ‘Forbes’.


Embora não precise quanto dinheiro tem, ela admite ser ‘muitos milhões’. E em libras.


O filme também discute religião -e ela vê na igreja que freqüentava um nome que ‘roubou’ para ‘Harry Potter’-, privacidade e dinheiro.


Um alerta: ela destrincha o final do livro em detalhes. E promete que não haverá continuação da série -embora depois de um silêncio pensativo.


HARRY POTTER: UM ANO NA VIDA DE J.K. ROWLING


Quando: estréia hoje, às 21h


Onde: no GNT


Classificação indicativa: não informada pelo canal’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Editorial – Folha de S. Paulo


Crise no debate


‘O SEGUNDO debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, na noite de terça, foi particularmente difícil para o candidato republicano, John McCain. Sua campanha enfrenta grandes dificuldades desde o agravamento da crise econômica. Para ele, é difícil se distanciar da imagem do presidente George W. Bush. Além disso, McCain não conseguiu mostrar uma alternativa à atual política econômica do seu companheiro de partido.


A crise, como era de esperar, ocupou quase dois terços do confronto. Melhor para o democrata Barack Obama, que só precisou manter a corrida eleitoral no seu curso, que lhe é favorável. Desde o agravamento da crise, pesquisas apontam que a situação econômica passou a ser a preocupação central dos eleitores. O repúdio ao continuísmo republicano é mais natural nesse cenário.


Não foi à toa que Obama caracterizou as eleições de 4 de novembro como ‘o veredicto final para a política econômica fracassada dos últimos oito anos’. De forma previsível, o democrata tentou associar o oponente ao presidente Bush, que bate recordes de impopularidade.


Cabia a McCain tentar reverter a situação desfavorável com uma performance excepcional. Não conseguiu. Pesquisa CNN apurou que 54% dos espectadores consideraram que Obama se saiu melhor, contra 30% que apontaram McCain.


Restou ao republicano a difícil tarefa de afastar-se do legado de Bush e de mostrar que é independente em seu próprio partido. McCain conseguiu, no entanto, melhorar sua performance na parte final do encontro, quando a política externa -seu ponto forte- entrou na pauta.


Com um formato de debate planejado para permitir frases de efeito e evitar que os candidatos se arriscassem, a discussão foi morna. Decerto não conseguiu alterar o rumo da campanha. Além de estar à frente na preferência dos eleitores, Obama agora avança em Estados-chave como Colorado, Ohio e Florida. No colégio eleitoral americano, serão sobretudo eles que vão definir o próximo presidente.’


 


 


CRISE GLOBAL
Clóvis Rossi


Vertigem


‘MADRI – Dá vertigem acompanhar os números envolvidos no noticiário sobre a crise financeira. Dupla vertigem, aliás: a primeira, porque são tão violentos que não é possível nem sequer imaginar aproximadamente o que significam. Alguém aí sabe ‘quem’ é US$ 700 bilhões (ou, em reais, R$ 1,603 trilhão, ao câmbio do fechamento de ontem)?


A segunda vertigem vem da montanha-russa que é tentar acompanhar o cassino. Acordei ontem, liguei, como de hábito, o computador e, dos cantos da telinha, até dava para ver pedaços derretidos das Bolsas asiáticas. Se era assim lá, aqui na Europa tenderia a repetir-se o caos da segunda-feira.


Saio para assuntar e, lá pela hora do almoço, um interlocutor me informa que os BCs de meio mundo reduziram conjuntamente os juros, com o que as Bolsas (européias) se recuperavam algo. Já tinha feito perguntas a meia dúzia de interlocutores com foco no derretimento.


Parecia trabalho meio perdido.


Depois do almoço, já não era trabalho perdido, porque as Bolsas podiam até não estar derretendo, mas caíam pesadamente. Não tenho mais idade para andar na montanha-russa.


Volto aos números. Carlos Eduardo Lins da Silva, o ombudsman, tem reclamado que a gente não consegue apresentar ‘quem’ é US$ 700 bi ao leitor. No fundo, é uma abstração, não é?


Como tenho muito respeito pelo Carlos Eduardo, resolvi traduzir para o Brasil conta inspirada na edição eletrônica da ‘Der Spiegel’, alemã: US$ 700 bi dariam para pagar um salário mínimo por dez anos para quase 30 milhões de brasileiros, se é que não errei nas contas, de tantos zeros.


Continua uma abstração, mas dá ao menos pálida idéia de como é a vida no que o Elio Gaspari chama de andar de cima e andar de baixo. Dá ou não dá vertigem?’


 


 


Vinicius Mota


Comédia financeira


‘PARA AQUELES que, como eu, têm a tara escapista de rir da própria desgraça, e da alheia, uma das indicações contra esta crise pavorosa são os veteranos humoristas britânicos John Bird e John Fortune. Algumas das impagáveis esquetes da dupla sobre o cataclismo financeiro estão à disposição no YouTube.


É o caso da que explica o fenômeno subprime, as hipotecas de altíssimo risco que, a partir dos EUA, deflagraram a derrocada. Fortune entrevista Bird, que interpreta o mais cínico dos banqueiros. A certa altura, o financista revela o segredo do negócio: os ‘bons nomes’ dos bancos que atuam nesse mercado.


Bons nomes? Boa reputação?


Nada disso, responde o banqueiro.


É que eles sabem dar bons nomes aos produtos que vendem. Ninguém compraria um título derivado de uma hipoteca subprime se ele se chamasse dívida impagável do desempregado do Alabama. Já na forma de um ‘Structured Investment Vehicle’ (veículo estruturado de financiamento), fica palatável. E o que dizer de um ‘High Grade Credit Strategies Enhanced Leverage’? Irresistível -nem precisa traduzir para comprar.


Dado a fazer fosquinha, o presidente Lula também tentou tirar uma lasca do presidente Bush por conta da crise: ‘Que crise?’. Depois foi perdendo a graça e apelou até ao amor de Deus para que o Brasil não seja obrigado a comer, de novo, o pão amassado pelo capiroto. Caiu a ficha, como se diz. Está certo que não caiu assim fácil, de chofre, pois Lula foi culpar a especulação contra o real pelo prejuízo que alguns exportadores tomaram. Presidente, as empresas estavam especulando a favor do real… A piada, no final, voltou-se contra o piadista.


Descobre-se agora que algumas companhias brasileiras, grandes e médias, estavam com os dois pés enfiados na jaca da farra dos derivativos. Exportadoras, não se contentaram em proteger sua receita contra oscilações cambiais. Quiseram ganhar uma grana fácil, apostando em que o real iria ficar para sempre valorizado. O dólar empinou-se, e o prejuízo fez boom. Agora essas empresas compram dólar desesperadamente e jogam a cotação da moeda americana para as alturas.


Voltando à explicação do banqueiro cínico, as empresas brasileiras que caíram na esparrela foram vítimas dos bons nomes aplicados pelos bancos. Por que vender algo que não passa de uma roleta-russa cambial quando se pode oferecer um ‘Target forward’?


Tanta criatividade ‘não pode produzir uma ruína financeira generalizada?’, indaga o entrevistador. ‘Não, se o governo entregar a nós, especuladores, o dinheiro que perdemos’, responde o banqueiro.’


 


 


ESCOLA
Painel do Leitor


Demissão na escola


‘‘Gostaria de registrar que nem a Folha, nem ‘O Globo’, nem, sobretudo, a Escola Parque procuraram ouvir o corpo docente dessa instituição de ensino no caso relacionado ao professor Oswaldo Teixeira.


O fato é importante, principalmente quando se leva em consideração o gabarito e a experiência pedagógica de seus profissionais, que em grande número são mestres e até doutores.


Se a voz dos professores fosse mais valorizada, certamente nossa sociedade poderia ser um pouco mais justa, e nossa democracia, mais plena.


Afinal, o que os professores da Escola Parque têm a dizer sobre tudo isso?’


FLAVIO LANZARINI , professor da Escola Parque Gávea (Rio de Janeiro, RJ)’


 


 


Denise Menchen


Pais criticam demissão de professor-poeta


‘Um grupo de pais de alunos da Escola Parque foram à direção de instituição cobrar explicações sobre a demissão do professor de literatura Oswaldo Martins Teixeira, 47. Segundo divulgou a Folha, Teixeira foi dispensado porque escrevia poemas eróticos em seu blog.


‘Matriculei meu filho aqui porque é uma escola moderna e progressista. Vai demitir o cara porque é poeta?’, diz Luiz Inglês, pai de um aluno do oitavo ano, que enviou e-mail de protesto à instituição.


Ele criticou o fato de a decisão ter sido tomada por pressão de um grupo de pais. ‘Por que não chamaram todos para conversar? Esses pais são mais importantes?’


O artista plástico Francisco Fortunato também se disse revoltado. ‘Foi ridículo pedirem o afastamento de um professor como se ele fosse um pedófilo ou um tarado.’


Ele diz que está até pensando em tirar o filho da escola. ‘A escola se intitula democrática e de vanguarda, e o que se vê é essa fraude: os alunos com medo de falar sobre o assunto, com receio de serem punidos. A Escola Parque virou um coleginho.’


Na segunda-feira, um dia após a publicação de reportagem da Folha, a escola enviou um coordenador às turmas onde Teixeira lecionava para explicar as circunstâncias da saída do professor.


Um aluno de Teixeira, de 14 anos, que cursa o oitavo ano, conta que os poemas foram parar em sala de aula depois de o professor comentar que tinha um blog. Segundo ele, os poemas foram impressos e ‘passaram de mão em mão’.


Procurada pela Folha, a direção voltou a dizer que não comentaria o caso. Já o professor diz desconhecer qualquer outro motivo para a demissão. Segundo ele, o argumento apresentado foi ‘incompatibilidade’ entre as atividades de poeta e professor.’


 


 


Laura Capriglione


Escola teve outro caso de expulsão polêmica em 2001


‘Em 2001, a Escola Parque envolveu-se em outra polêmica, quando expulsou quatro alunos que admitiram ter fumado maconha durante uma excursão a Ouro Preto (MG).


Na ocasião, estudavam na escola duas netas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma filha do atual candidato a prefeito do Rio Fernando Gabeira (PV), filhos do sociólogo Rubem Cesar Fernandes, da ONG Viva Rio, entre outros alunos ‘vips’. Todos envolvidos na polêmica da expulsão.


O processo começou quando, de regresso do passeio à cidade histórica, um dos alunos contou aos pais que a maioria dos 57 meninos e meninas com idades entre 13 e 15 anos, participantes do estudo em Ouro Preto, havia fumado maconha no hotel onde se hospedaram. Quatro jovens admitiram o feito e foram expulsos por isso.


Em um debate ocorrido na escola, todos os alunos e ex-alunos manifestaram-se contrários à expulsão. Alegavam que só sofreram sanções os que assumiram o delito; que outros também tinham fumado, mas escaparam porque mentiram; que a escola acabava estimulando a hipocrisia.


‘Não admita. Minta. Você vai se dar bem. Aprendi isso na escola.’ O texto apareceu impresso em camisetas de alunos contrários às punições. Na época, a diretora Patrícia Konder Lins e Silva disse: ‘Nossas regras são claras. É proibido usar droga, beber álcool e fazer sexo na escola e nas excursões. Eles infringiram a lei e sabiam que o caso era de cartão vermelho.’’


 


 


COVER
Silas Martí


Mostra faz raio-X da cultura do YouTube


‘Quem sobe no palco é Deize Tigrona, mas a performance não é dela. Faz quatro anos que o artista Giorgio Ronna agencia os shows da funkeira carioca, ‘operação invisível’ que ele encara como um desdobramento de sua obra. É ela no palco e ele por trás, reencenando escondido o papel de manager.


‘Percebi que conseguia colocar a Deize em lugares onde ela devia estar, mas que ainda não ocupava’, lembra Ronna. ‘É um deslocamento: eu imaginava sempre dois de mim, quem organiza e o artista por trás.’ Na mostra que o Museu de Arte Moderna de SP abre hoje, Ronna volta sem Deize e reencarna, fora de cena, o papel de John Cassavetes (1929-89).


Ele tomou imagens de ensaio para filme do cineasta norte-americano, nos extras de um DVD, como base para uma série de fotografias que mostra em vídeo. Os atores do cover são amigos de Ronna, determinados a encenar ‘semelhanças e profanações’ do original, seguindo os passos ditados pelo artista que não aparece.


É essa mistura de fascínio e deboche que conduz as obras de ‘Cover’, exposição com 20 artistas, entre eles Sara Ramo, Laura Lima e o coletivo assume vivid astro focus, que tentam avaliar o peso da repetição e da reencenação na arte contemporânea. ‘Os artistas usam o cover como ferramenta, não como gênero’, afirma o curador Fernando Oliva. ‘É um diagnóstico contemporâneo de uma situação que não é nova.’


Numa operação que lembra Ronna torcendo por Deize Tigrona nos bastidores, a artista holandesa Barbara Visser, que esteve na última Bienal de São Paulo, constrói uma ficção em cima da própria presença. Seu vídeo mostra convidados que esperam ver uma palestra com ela, mas quem está no palco é uma atriz que diz ser a artista e responde às perguntas do público com frases sopradas por Visser num ponto eletrônico.


‘Ela reencena a figura de artista, responde às pessoas no corpo dessa atriz’, descreve Oliva. ‘É um jogo de espelhos.’


É também a imagem multiplicada e travestida. Dora Longo Bahia, que abandona a própria autoria assinando com o pseudônimo Phillippe Ledoux, faz no vídeo ‘Novela Vaga’ um pastiche da nouvelle vague: ela e seus amigos, em cena, falam um francês postiço, vestem perucas e óculos escuros e levam ao limite todos os clichês.


Na onda da repetição, não é essa a primeira vez que a obra é apresentada. O vídeo de Longo Bahia, aqui Ledoux, foi visto mais de 2.000 vezes na internet. ‘O YouTube promoveu uma fissura definitiva na imagem, mudou a relação com ela no mundo contemporâneo’, diz Oliva. ‘Ele permite a repetição e assume isso como recurso, já não existe distinção entre o original e sua repetição.’


‘Bedroom melancholia’


Em outro vídeo que pode virar ‘clássico’ do YouTube, Eliete Mejorado e Bruno Verner -a dupla Tetine- misturam ‘Vaca Profana’, na voz de Gal Costa, com a imagem de Pipilotti Rist em seu vídeo ‘I’m Not the Girl Who Misses Much’ (1986), uma referência feminista à música dos Beatles ‘Happiness Is a Warm Gun’.


Esse improviso solitário, triste e desavergonhado diante da câmera, em que fãs repetem os versos e passos de seus ídolos no próprio quarto, acabou resumido num termo que parece dizer tudo sobre a era YouTube: ‘bedroom melancholia’. Se na avalanche de imagens já não é possível fixar o original, resta só o cover e a desconfiança entre quatro paredes, que podem ser vistos à exaustão.


Numa série de fotografias de coqueiros lambidas pela brisa de um ventilador, cover barato dos trópicos, Rodrigo Matheus traz essa ‘melancolia do quarto’ para a sala expositiva e dá peso à fragilidade da repetição. Talvez esteja aí a mistura de fascínio e deboche que levou o funk de Tigrona ao mundo cult.


COVER


Quando: abertura hoje, às 20h (convidados); ter. a dom., 10h às 18h; até 21/12


Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300); livre


Quanto: R$ 5,50′


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Nova ordem, às pressas


‘Fora da Folha Online, a cobertura por aqui mal registrou, talvez por conta do personagem. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou reunião do G20 financeiro para sábado, nos EUA. O Brasil preside o grupo. Quem pediu a reunião foi o secretário do Tesouro, Henry Paulson. No exterior, noticiaram ‘Wall Street Journal’, ‘Telegraph’, agências etc. A reunião visa coordenar ações contra a crise.


Ontem, já agiram coordenadamente no corte de juros os bancos centrais de EUA, China, Austrália. Mas não o BC de Henrique Meirelles.


Por outro lado, o chanceler Celso Amorim, também na Folha Online, defendeu ação coordenada dos emergentes. Brics e outros, como África do Sul, não podem ficar ‘à mercê de dificuldades de crédito que venham dos países ricos’. Defendeu uma ‘nova ordem’ mundial, nos moldes levantados pelo presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.


Até a secretária de Estado, Condoleezza Rice, saiu dizendo ontem que trabalha ao lado de China, Índia e Brasil, pela ordem, para ‘responder efetivamente’ à crise. E que ‘o sistema internacional está mudando’, que ‘esses grandes, amplos países têm que ser acomodados numa moldura internacional’.


BUSH & LULA


Por UOL e outros, o que se noticiou foi a ligação de George W. Bush a Lula. Ele teria dado a previsão de que o pacote vai mostrar resultado em duas semanas e meia -e teria concordado que o Brasil está ‘sólido’. Na versão da Casa Branca, via agências, ele falou dos ‘esforços dos EUA em busca de estabilidade nos mercados’ e da ‘importância de todos coordenarem suas ações’.


‘MAIS FORTE’


O ‘Chicago Tribune’ avalia que a ‘diversidade pode ser a salvação do Brasil’, que ‘parece o mais bem equipado’, com ampla pauta de exportações -e só 20% aos EUA. Pode ‘sair mais forte’.


AS NOTAS CONTINUAM


Também em meio ao noticiário da crise, surgiu a notícia de que a agência de classificação de risco Fitch teria revisado a avaliação de cinco pequenos bancos brasileiros, de positiva para estável.


A ESTATIZAÇÃO


E a ação coordenada dos bancos centrais não obteve êxito, destacaram ‘Financial Times’ e ‘New York Times’ no fim do dia. Daí, 23h no Brasil, entra manchete on-line do mesmo ‘NYT’ anunciando o plano dos EUA de ‘tomar parte de vários bancos’, a exemplo do que fez o Reino Unido. Quer ‘tentar restaurar a confiança’.


E foi um dos seis passos de Nouriel Roubini, na sexta.


SEM-TERRA LÁ


Em destaque no estatal ‘China Daily’, ontem, o debate sobre reforma agrária ‘antes da reunião anual do PC’. Elogia a coletivização de 1978, que derrubou o ‘sistema feudal’, mas vê a reforma como necessária agora para ‘libertar os camponeses presos às terras’ e ‘assegurar mercado estável de negociação’ das mesmas.


O ‘Financial Times’ diz que visa ‘evitar problemas de outros países em desenvolvimento, como Índia e Brasil, com amplas populações de sem-terra’.


‘AQUELE LÁ’


John McCain foi tratar Barack Obama por ‘that one’ e a expressão ‘decolou on-line’, segundo o Politico, citando site para vender camisetas, perfil no Facebook etc.


‘O PIOR’


Na manchete do Drudge Report, linkando o Politico, ‘The worst debate ever’, o pior debate da história. Questionou não apenas os presidenciáveis, mas principalmente o âncora, o célebre Tom Brokaw, que estava afastado da rede NBC e esfriou demais o programa.


SARAH FATAL


O colunista do ‘New York Times’ David Brooks, conservador, mas não ‘neocon’, em seminário da ‘Atlantic’, descreveu McCain e Obama como dois dos melhores candidatos que os EUA já tiveram. Mas não poupou Sarah Palin, ‘um câncer fatal para o Partido Republicano’.


SERRA GENTIL


Em texto sobre o Museu do Futebol, o correspondente do ‘New York Times’ no Brasil, Alexei Barrionuevo, destacou que o governador ‘José Serra sonhou com a idéia’ e, na abertura, falou ‘gentilmente’ da presença do governador do Rio, com isso rompendo a disputa bairrista. E por aí prosseguiu o jornal’


 


 


PESQUISA
Folha de S. Paulo


Folha é o jornal mais lido por jornalistas


‘A pesquisa Barômetro da Imprensa, feita com 563 jornalistas de todo o país, mostra que a Folha é o jornal mais lido pelos profissionais de mídia no Estado de São Paulo: ele foi indicado por 73,1% dos entrevistados, contra 62,7% de ‘O Estado de S. Paulo’ (cada jornalista podia fazer até duas indicações).


A Folha também lidera a pesquisa entre os jornalistas dos demais Estados do país, com exceção apenas do Rio de Janeiro, onde aparece em segundo lugar, com 32,2% das indicações -atrás de ‘O Globo’ (69%), mas bem à frente do ‘Jornal do Brasil’ (5,7%). Fora do eixo São Paulo-Rio, a Folha recebeu 62% das indicações, seguida por ‘O Estado de S. Paulo’ (24%), ‘O Globo’ (20,2%) e ‘Zero Hora’ (10,6%).


O Barômetro da Imprensa é uma pesquisa bimestral realizada pela FSB Comunicações com jornalistas de todo o país. Ao todo, são 39.772 profissionais cadastrados em veículos impressos (56,7% do total), televisão (15,9%), rádio (15,5%) e veículos on-line (11,8%).


Em março deste ano, outra pesquisa feita pela FSB Comunicações com 246 dos 513 deputados federais mostrou que a Folha também é o jornal preferido na Câmara dos Deputados: 84,6% dos parlamentares indicaram o jornal como sua principal fonte de informação, seguido por ‘O Globo’ (49,2%), ‘O Estado de S. Paulo’ (32,9%), ‘Correio Braziliense’ (32,1%) e ‘Valor Econômico’ (11,8%).


Leitura


O levantamento divulgado ontem mostra que os jornais são lidos diariamente por 82,2% dos jornalistas de todas as mídias, e algumas vezes por semana por outros 13,5%.


De acordo com a pesquisa, a imprensa constitui hoje a segunda principal fonte de informação dos jornalistas -a primeira é a internet: sites e blogs são citados por 56,7% dos profissionais de mídia; os jornais aparecem em seguida (27,5%), seguidos pelo rádio (6,8%), TV (3,4%) e revistas (2,7%).


Os profissionais de televisão são os que manifestam maior preferência pelas informações dos jornais (33,8%), seguidos pelos jornalistas dos próprios veículos impressos (32,5%).


Questionados sobre qual é sua segunda principal fonte de informação, 37,8% citaram os jornais, e 29,8%, a internet.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 9 de outubro de 2008


 


ELEIÇÕES
Clarissa Oliveira


Candidata petista evita falar em mudanças na TV


‘Diante das preocupações do comando nacional do PT com o desempenho na corrida municipal em São Paulo, a candidata Marta Suplicy esquivou-se ontem de comentar eventuais mudanças na campanha. Repetindo sucessivamente a mesma resposta ao ser indagada sobre eventuais trocas em sua equipe, a ex-ministra admitiu apenas que o simples fato de ter chegado ao segundo turno gera a necessidade de um novo foco.


‘A mudança que nós temos é que fomos para o segundo turno e a mudança agora é focar nas propostas com um adversário só’, afirmou Marta, que ontem escolheu a zona sul da cidade para pedir votos. Diante da insistência dos jornalistas em indagá-la sobre a permanência do comando da campanha e do marqueteiro João Santana, ela apenas repetiu: ‘A mudança que nós temos é que estamos no segundo turno. E a nossa campanha, agora, foca diferente’.


Marta voltou a investir ontem na comparação de trajetórias e gestões como parte do esforço para tentar ultrapassar Kassab. Ao comentar suas expectativas para o debate na televisão marcado para o próximo domingo na TV Bandeirantes, a petista disse ver a oportunidade de comparar projetos com o rival. ‘Acho que vai poder haver um enfrentamento de idéias, posicionamentos, trajetórias. Somos duas candidaturas com trajetórias muito diferentes. A minha tem uma transparência absoluta, sempre fui parceira do presidente Lula, em 30 anos.’


APOIOS


Em mais uma demonstração de que continuará buscando o voto dos eleitores do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), derrotado no último domingo, Marta voltou a mencionar o apoio concedido ao ex-governador Mário Covas, morto em 2001. ‘Quando eu fui candidata a governadora deste Estado, depois dei o apoio a Mário Covas’, afirmou a petista, em referência à disputa de 1998, quando Covas derrotou o hoje deputado federal Paulo Maluf (PP). ‘Quando fui candidata a prefeita, recebi o apoio de Alckmin e Mário Covas’, completou, desta vez referindo-se à eleição de 2000, quando também enfrentou Maluf nas urnas. ‘Eu estou do lado em que sempre estive, onde trabalho para ter uma diminuição da desigualdade social’, continuou a ex-ministra.


Marta, que caminhou ontem pelos bairros de Santo Amaro e Jabaquara, voltou a dizer que aposta num discurso propositivo para ganhar todas as camadas da sociedade, inclusive a classe média. Dessa vez, ela citou como exemplo os planos de investir R$ 490 milhões ao ano na expansão da rede de metrô, além da promessa de estender também a rede de corredores de ônibus.


Dizendo-se confiante de que vencerá a eleição, Marta afirmou que espera ter nas urnas o resultado de suas propostas para a população carente. ‘Estou preocupada em ter um metrô de qualidade nesta cidade, que chegue às regiões mais pobres’, afirmou a candidata. Desde o início da campanha, Marta tem proposto um traçado próprio para a rede metroviária, que segundo ela chegaria à periferia. A proposta contraria os planos do governo estadual e da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô).’


 


 


Vera Rosa


Tom da propaganda abre guerra interna no partido


‘Dirigentes querem campanha apimentada, mas equipe diz que mudar foco para atrair classe média é bobagem


O tom da campanha de Marta Suplicy no segundo turno da disputa contra o prefeito Gilberto Kassab (DEM) já divide o PT. Enquanto dirigentes nacionais do partido criticam a ‘pasteurização’ da candidatura no primeiro turno e pedem mais pimenta na linha adotada até agora, a equipe de Marta considera que mudar o foco do confronto para atrair a classe média é ‘uma bobagem’.


As divergências abriram uma crise entre grupos petistas. Nos bastidores do PT, a avaliação é de que não basta comparar o governo Marta (2001-2004) ao de Kassab no programa eleitoral. Integrantes da Executiva Nacional acham que a propaganda do PT deve ter alto teor de politização, a exemplo do que ocorreu com a campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, quando ele disputou o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB).


Uma ala do partido insiste em que, além de nacionalizar a corrida municipal, o comitê de Marta precisa tratar a briga como uma espécie de plebiscito entre o PT e o PSDB


PRIVATIZAÇÃO


‘É voz corrente no PT que devemos oferecer um combate mais político na disputa em São Paulo’, afirmou Paulo Frateschi, secretário nacional de Organização. ‘Politizar a eleição é dizer que Kassab está privatizando a saúde, que, se ganhar, vai entregar o transporte coletivo aos empresários. Não podemos ficar só em comparações de governos e em sopa de números.’


Apesar de negar que o PT pregue mudanças radicais na campanha, o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que a estratégia do segundo turno precisa mostrar as conseqüências das ‘políticas exitosas’ de Marta para a classe média, na tentativa de atrair esse segmento. ‘Devemos ter a humildade de reconhecer que está havendo ruído nesse diálogo’, advertiu.


Depois de ouvir reclamações da equipe de Marta, Berzoini divulgou nota na qual nega haver diagnóstico interno que vincule a repentina ultrapassagem de Kassab ao ‘salto alto’ e ‘arrogância’ da candidata, como informou o Estado. ‘Estamos fazendo uma abordagem positiva de como deve ser o segundo turno’, desconversou.


Coordenador da campanha de Marta, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) não quis esticar a polêmica e minimizou as divergências. ‘Ninguém veio no comitê reclamar de nada’, afirmou.


Zarattini garantiu que a propaganda de Marta continuará investindo em propostas para toda a cidade. ‘O problema não é a classe média. Existem pobres e classe média na periferia e no centro. Essa discussão é uma bobagem’, reagiu. Para ele, há um ‘preconceito estimulado’ por parte da imprensa contra o PT, Marta e Lula em São Paulo.


Questionado se a campanha seria mais ‘politizada’ para enfrentar Kassab, Zarattini devolveu com outra pergunta: ‘E eu sei lá o que é isso?’’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
AP E Reuters


Frase do debate vira camiseta de campanha


‘A frase ‘That one’ (‘Aquele lá’), dita pelo republicano John McCain para se referir ao democrata Barack Obama no debate de terça-feira, virou camiseta de campanha do democrata e está à venda na internet. A referência, tida como vulgar, foi considerada um dos poucos deslizes do republicano durante o debate.


McCain respondia a uma questão sobre alternativas energéticas quando fez a observação. ‘Havia uma lei sobre energia no Senado carregada de verbas para projetos inúteis. Vocês sabem quem votou a favor?’, perguntou McCain ao público. Apontando para Obama, ele mesmo respondeu. ‘Aquele lá!’


Mal terminou o debate e o domínio www.thatone08.com já havia sido registrado na internet. No site, é possível comprar as camisetas em vários tamanhos e estampas por cerca de R$ 40. Na abertura do site há uma breve biografia de Obama, cujo nome nunca aparece e é sempre substituído pela expressão ‘Aquele lá’.’


 


 


CRISE GLOBAL
Marili Ribeiro


Publicidade tenta ganhar com a crise


‘O vice-presidente da GM do Brasil, José Carlos Pinheiro Neto, é o protagonista de uma campanha publicitária, com início marcado para hoje, que tenta tirar partido da crise financeira global. O executivo vai comunicar a decisão da GM de manter os juros dos financiamentos para seus carros em 0,99% ao mês. ‘Crise no ideograma chinês quer dizer oportunidade’, diz Pinheiro Neto. ‘É emblemático que, nesse momento, que se fala tanto em juros, a GM garanta financiamento abaixo de 1%. O interesse é manter o ritmo de vendas e afastar o temor dos compradores.’


Anúncios de oportunidade, como esse da GM, devem começar a dar um certo movimento ao mercado publicitário nesse período de crise. Porém, como em todos os outros setores da economia, o clima no meio publicitário é de expectativa. Há clientes tirando o pé do acelerador, mas a maioria das agências evita comentar, com medo de desagradar aos anunciantes. Seus executivos dizem que, no curto prazo, não há cancelamento de campanhas programadas.


Mas os reflexos negativos também já começam a ser notados. Na agência de publicidade Borghier/Lowe, o presidente José Borghi admitiu que deverá adequar o quadro de funcionários em função da diminuição do ritmo de lançamentos da construtora InPar, sua cliente. A empresa alegou condições desfavoráveis no mercado de crédito para anunciar redução de sua meta de lançamentos e vendas.


Na verdade, o que mais preocupa os publicitários é o cenário do próximo ano. ‘É impossível que uma crise dessa magnitude não tenha reflexos aqui’, avalia Guga Valente, presidente da holding do Grupo ABC, que tem como maior acionista o publicitário Nizan Guanaes. ‘A restrição ao crédito é um sinal.’


ESTÍMULO


Outros executivos do setor, no entanto, insistem que a crise pode até vir a ter reflexos positivos para a publicidade. ‘O varejo vai ter de anunciar para estimular vendas, ainda que promocionais’, diz Luiz Lara, presidente da agência Lew?LaraTBWA.


Na mesma linha de enxergar a crise como possibilidade de crescimento, Aurélio Lopes, presidente da agência Giovanni+DraftFCB, diz ter ouvido clientes argumentarem que o momento é de avançar sobre a concorrência, em especial sobre os que afrouxarem, na espera de ver o que virá.


Para Sérgio Amado, presidente do rede global Ogilvy no Brasil, o País deve até desacelerar o crescimento, mas menos do que no primeiro mundo. ‘Estamos cautelosos, mas ainda otimistas.’’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


YouTube vai vender músicas e filmes


‘O site de vídeos YouTube começará a vender música e a experimentar novos formatos publicitários para ampliar sua receita. O serviço, controlado pelo Google, está dando os primeiros passos para se tornar uma página de comércio eletrônico, onde venderá música, filmes, entradas para espetáculos e outros produtos relacionados à mídia.Os visitantes poderão adquirir os produtos clicando em botões que os conduzirão à Amazon.com ou à loja iTunes, da Apple.’


 


 


RECICLAGEM
Vitor Hugo Brandalise


Restos da publicidade viram arte em grafite


‘De janeiro do ano passado, quando entrou em vigor a Lei Cidade Limpa, até hoje, mais de 150 mil placas tiveram de ser removidas das fachadas de lojas, empresas e edifícios de São Paulo. Outros 15 mil outdoors foram retirados das ruas, segundo estimativa da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb). Entre as peças publicitárias perdidas em depósitos e ferros-velhos ou recicladas para se adaptar às novas dimensões, ao menos 20 unidades tiveram destino inusitado: foram parar em uma galeria na Vila Madalena, servindo como suporte para obras de arte, que custam de R$ 2 mil a R$ 15 mil.


Com restos de placas galvanizadas ou de madeirite, luminosos, letras-caixas e painéis de lona, o muralista Eduardo Kobra, de 33 anos, grafiteiro desde 1987, elaborou 14 obras para a mostra Lei da Cidade que Pinta, em exposição a partir de hoje até 10 de novembro, no Empório Artístico Michelangelo, na Vila Madalena. ‘A idéia foi criar arte com anúncios publicitários, que acompanham a evolução de São Paulo, para refletir sobre as mudanças na cidade ao longo do tempo’, explica. ‘Quando comecei a buscar os anúncios em depósitos e ferros-velhos, não sabia o que ia encontrar. Aí fui achando luminoso, resto de outdoor, placas fora do padrão. Vi que tinha um bom material e decidi brincar até com a lei.’


Cobrindo uma parede inteira da galeria, está pendurado um luminoso grafitado, em que Kobra retrata a esquina entre as Ruas Direita e São Bento, no início do século 20. O contraste entre a São Paulo de ontem e a de hoje é um dos temas caros ao autor. Garimpado em um depósito em Taboão da Serra, o luminoso é obra de descarte ocorrido entre abril e junho de 2007, meses de adaptação à nova lei. ‘Ouvi um comentário que era de uma lanchonete, mas não tenho certeza. Já estava sem tinta’, afirma Kobra.


Ao redor do luminoso, ficam outras obras que remetem a tempos românticos, criadas sobre material publicitário de marcas como Coca-Cola, Calvin Klein e empresas de comunicação visual. No antigo letreiro do restaurante Almanara – hoje somente restam as letras ‘anara’ -, está grafitado um senhor de terno e chapéu Panamá. Num painel de lona da Coca-Cola, Kobra pintou, inspirado em fotografia de 1932, um bonde cruzando a Rua Sebastião Pereira. Na placa em que ficava, com mão no queixo e ar inteligente, um modelo da Calvin Klein, o artista grafitou o cruzamento da Avenida Paulista com a Alameda Campinas em dois momentos, em 1920 e hoje.


Na busca por material, o artista percorreu dez ferros-velhos e depósitos de empresas de comunicação visual e ouviu reclamações. ‘Diziam que teriam de fechar as empresas. Mas, no meu caso, sou a favor da lei, acho que a cidade precisava disso’, opina Kobra, conhecido pelo projeto Muros da Memória – o artista já grafitou paisagens antigas em 18 pontos internos e externos, os mais famosos nas Avenidas Domingos de Moraes, Sumaré, Morumbi e na Igreja do Calvário. ‘Agora, é hora de discutir a arte na rua, se deve ou não haver mais espaço para o grafite, nos locais antes ocupados pela publicidade.’


Anteontem, com quase tudo pronto para a exposição, a nova lei ainda levou Kobra a uma irônica situação. Achando que se tratava de propaganda irregular na fachada da galeria – repleta de cartazes, em alusão à obra do artista -, um fiscal da Prefeitura pediu a ‘retirada imediata’ do material. ‘Depois de muita conversa, conseguimos convencer o fiscal de que não havia nada de ilegal.’ O argumento de Kobra foi simples: embora parecesse, não era publicidade, mas intervenção artística.


Empório Artístico Michelangelo – Rua Fradique Coutinho, 798. Até 10 de novembro. Segunda a sexta, das 9 às 19 horas; sábados, até as 22 horas’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Diagnóstico do caos


‘O Fantástico ganhará em breve um ‘doutor Drauzio Varella’ do trânsito. Trata-se de um novo quadro, comandado pelo comentarista de automobilismo da Globo Luciano Burti.


Na atração, batizada de Mão na Roda e com estréia prevista para domingo, Burti aparecerá diagnosticando os maiores problemas do trânsito de São Paulo, dando soluções para alguns deles e alertando os motoristas.


A criação do quadro é uma parceria do ex-piloto com a direção do Fantástico, que, a princípio, gravará seis episódios na cidade. Entre os assuntos abordados estão os locais em que acontecem acidentes diariamente, situações de risco no trânsito, pontos críticos nas estradas e as vias recordistas em congestionamento.


Luciano Burti também deverá acompanhar um dia de trabalho de agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o resgate de um motoboy acidentado, e fará um teste de direção de uma auto-escola.


Se der certo, o Mão na Roda pode ganhar mais episódios no Fantástico, com gravações no exterior – Burti aproveitaria as viagens que faz para comentar as provas automobilísticas – e em outras cidades do País.’


 


 


Patrícia Villalba


Shakespeare de cabeça pra baixo


‘Debaixo de uma das jabuticabeiras carregadas do quintal da O2 Filmes, em Cotia (SP), o ator Pedro Paulo Rangel é quem melhor define Som & Fúria: ‘É uma minissérie sobre teatro, dirigida por um diretor de cinema e que vai passar na TV.’


Depois de se esbaldar na densidade, com filmes como O Jardineiro Fiel e Blindness, Fernando Meirelles escalou um elenco gigante e estrelado para refilmar a comédia escrachada Slings and Arrows, que foi ao ar na TV canadense em 2003. O próprio Meirelles adaptou o texto, e divide a direção com Gisele Barroco, Toniko Mello, Fabrizia Pinto e Rodrigo Meirelles. Som & Fúria é mais uma co-produção entre a Globo e a O2 que, neste modelo, já fez séries como Cidade dos Homens e Antônia. Estão gravando, até o fim deste mês, além de Pedro Paulo Rangel, Andréa Beltrão, Felipe Camargo, Dan Stulbach, Regina Casé, Daniel de Oliveira, entre outros.


A série conta a história de uma companhia fictícia de teatro, residente do Teatro Municipal de São Paulo e especializada em montagens de Shakespeare, que está muito mal das pernas, à beira da falência.


A âncora da história, que conta o dia-a-dia da trupe teatral, é o personagem de Felipe Camargo, Dante. Tão dramático e atormentado quanto um Hamlet, o ator de repente se vê à frente da companhia, que antes foi dirigida por Oliveira (Pedro Paulo Rangel). ‘O Oliveira morre logo no primeiro episódio, atropelado. Depois, como fantasma, passa a assombrar o teatro e faz uma parceria com Dante na direção da companhia. Todo bom teatro tem o seu fantasma’, adianta Rangel. ‘O texto é todo muito ligado ao universo shakespeariano. Não chega a ser uma metalinguagem, mas universos paralelos que vão se misturando – o que é encenado no palco pelos atores e o que acontece em suas vidas, nos bastidores.’


O descompasso entre o talento artístico e a vocação para os negócios tempera a série com graça e humor negro. ‘Os atores da companhia são assalariados. No pano de fundo da história estão questões como a falta de patrocínio para o teatro e a dificuldade de se sustentar uma companhia’, adianta Felipe Camargo.


Na outra ponta da história, entre planilhas de gastos, está Ricardo, personagem de Dan Stulbach. ‘Ele é o diretor-financeiro da companhia, meio peixe fora d?água’, detalha Stulbach. ‘Quando garoto, ele cantou numa peça, teve seu instante artístico. Mas é careta, exato, e está no meio dessa história porque teoricamente é o cara que discute dinheiro. É o cara do Excel.’


Stulbach defende Ricardo, diz que ele não é exatamente um vilão. Mas só o fato de ter de lidar com dinheiro e tirar lucros de Shakespeare já faz dele um sujeito controverso, no mínimo. É numa tentativa desesperada de Ricardo de trazer grande público para o teatro que entra na história o publicitário Sanjay – aí, Rodrigo Santoro aparece em cena.


No meio de mais de 120 atores, a participação de Santoro foi a que causou mais comentários e expectativa. Numa brecha entre os lançamentos dos últimos filmes de que participou no exterior, La Leonera e Che, o ator passou apenas três dias no set de Meirelles – um deles acompanhado pela reportagem do Estado. Logo no começo da conversa, o ator diz que é lenda a informação de que ele estaria ganhando milhões para estar em Som & Fúria e só depois de muita negociação é que a Globo conseguiu três dias em sua agenda internacional. ‘Imagina, não é verdade. Meu personagem tem só oito cenas, por isso estou gravando só em três dias’, esclarece.


Como todos os outros atores ouvidos pela reportagem, Santoro festeja a oportunidade de trabalhar com Meirelles e a possibilidade de fazer uma comédia rasgada. ‘Nunca fiz nada assim, onde pude trabalhar muito com humor’, diz ele. ‘Ensaiei trabalhar com o Fernando em 1994, quando ele ia dirigir uma adaptação de Mar Morto. Eu cheguei a começar a me preparar, mas a minissérie acabou não acontecendo. E eu fiquei com essa vontade de trabalhar com ele. Agora, finalmente tive a oportunidade e adorei.’


Na minissérie, prevista para ir ao ar no começo de 2009, Santoro contracena apenas com Stulbach. Ele surge no set com cabelos estrategicamente grisalhos, lápis preto nos olhos, barba desenhada, suado de uma partida de tênis. Fora isso, sabe-se pouco: que é esotérico, um tanto picareta e que sabe ficar numa posição invertida de ioga com perfeição (veja foto no alto). ‘Ele é contratado pelo personagem do Dan para melhorar a imagem da companhia. Ele chama isso de reposicionamento de marca, e monta uma campanha chocante. Essa é a filosofia da Sapo Martelo, a agência dele: chocar’, adianta. ‘Mas o Sanjay é um personagem que tem mistérios, acho melhor não revelar para não perder a graça’, desconversa ele, como se isso fosse mesmo possível.’


 


 


 


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