Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rede traça planos para canal no Oriente Médio

O canal de TV em árabe do Serviço Mundial da BBC, previsto para funcionar por 12 horas diárias a partir de 2007, pretende se distinguir dos rivais, como a rede de televisão al-Jazira, ao ‘trazer notícias do mundo para o Oriente Médio’, em vez de ‘trazer notícias do Oriente Médio para o Oriente Médio’.


Executivos da BBC esperam atingir uma audiência semanal de mais de 30 milhões de telespectadores – dobrando o alcance do canal em árabe do serviço de rádio da rede, que possui atualmente 12 milhões de ouvintes. De acordo com o diretor do Serviço Mundial da BBC, Nigel Chapman, o canal terá uma receita anual de US$ 32 milhões, mas necessitará de uma verba extra de US$ 10 milhões do ministério de Relações Exteriores para ser transmitido por 24 horas. ‘Vemos a al-Jazira como um canal árabe regional, com um ponto de vista tendencioso – se não defende a causa árabe, também não é um serviço independente e objetivo’, afirmou Chapman.


O diretor de notícias da BBC, Richard Sambrook, disse que o canal será transmitido por satélite de Londres, mas a rede de TV também está investindo em seu escritório no Cairo. Embora o processo de seleção para profissionais ainda não tenha começado, Chapman disse que pretende contratar jornalistas que falem árabe em países do Oriente Médio. ‘Alguns ficarão em Londres – onde estará a produção. Mas teremos produtores no mundo todo’, informou ele. O Serviço Mundial fez um investimento inicial de US$ 8 a US$ 10 milhões em estúdios e instalações para a produção do novo canal, que estará disponível do Marrocos até a Arábia Saudita e posteriormente poderá ser transmitido no Afeganistão e no Paquistão.


Riscos para a BBC


Lorde Triesman, representante do ministério das Relações Exteriores, afirmou que o governo espera que o canal em árabe da BBC acabe com as ‘visões extremas’ que circulam na mídia do Oriente Médio, ‘não através de propaganda política, mas realizando uma cobertura honesta’. Triesman disse que o canal em árabe preencheu um objetivo estratégico do ministério, mas insistiu que o departamento não irá interferir em suas atividades. ‘O que as pessoas vão descobrir, na prática, em um ambiente de mídia no qual há tolerância do terrorismo nas suas transmissões, é que a BBC é imparcial e independente’, afirmou.


Triesman destacou também que o lançamento de um canal em árabe pela BBC no Oriente Médio, onde a cobertura dos conflitos no Iraque e entre palestinos e israelenses será minuciosa, constituía um risco para a corporação. ‘Acho que a BBC já colocou sua reputação em risco antes – durante a Guerra Fria, por exemplo, onde era rotineiramente descrita por regimes da Europa Oriental como porta-voz do governo britânico. Haverá uma grande hostilidade ao novo canal, mas a BBC tem capacidade para superar isto’, disse o lorde. Mostefa Souag, editor-chefe do escritório da al-Jazira no Reino Unido, afirmou acreditar que o novo canal seja bem recebido no Oriente Médio, porque ‘ajudaria a estimular a mídia’.


Ian Richardson, editor-administrativo da tentativa anterior da BBC de lançar um canal de notícias em árabe – que foi fechado nos anos 90 devido a divergências editoriais com seu parceiro saudita –, acredita que o novo empreendimento da rede no Oriente Médio não tenha capital de investimento necessário. ‘Não estou certo [que a BBC] entende, ou que todos entendam, como é difícil administrar um canal em língua estrangeira. É pelo menos um terço mais caro [do que o serviço em inglês] por causa de todos os custos de tradução’, opinou Richardson.


A receita anual da al-Jazira é de US$ 99 milhões. Entretanto, Triesman acredita que a comparação entre os dois canais não é válida, porque a al-Jazira tem distribuição por satélite em todo o mundo, enquanto o canal da BBC seria transmitido apenas no Oriente Médio. Informações de Jason Deans [The Guardian, 30/11/05].