No século 17, surgiu o jornalismo que exaltava principalmente o discurso do Estado e da Igreja. Em 1609, os primeiros jornais veiculavam somente idéias da burguesia, relatando fatos corriqueiros e outros de interesse geral. No Brasil, este publicismo difundia a chegada e partida de navios, propagandas e publicação de escravos fugitivos. As notícias apuradas beneficiavam somente o grupo incluído na alta administração imperial e os senhores fazendeiros, pois o enorme contingente populacional no Brasil era analfabeto.
Já no 19, surge um novo modelo de reportagem, com mais técnica, para leitores cada vez mais ávidos de notícias, estilos espetaculares e sentimentalismo, formatando assim um estilo próprio e capitalista por causa das variáveis e infundadas informações colhidas nas ruas e junto aos setores governamentais.
Hoje este relacionamento entre a mídia, a violência, a população e o Estado continua conflitante por causa da exigência das notícias. Gerando assim informações para preencher tempo e espaço, voltadas também ao capitalismo, o que compromete a apuração dos fatos conforme as regras impostas pela ética profissional do jornalismo, contidas em seu Código de Ética, aprovado em congresso da categoria, que registra em seu artigo 6º que ‘é uma atividade de natureza social, e de finalidade pública’ e no artigo 7º consta que o ‘jornalista deve ter o compromisso com a verdade’.
A realidade em retalhos
Segundo José Luiz Alcântara, chefe de redação do jornal O Estado de S. Paulo, as fontes de controle social e as pessoas em conflitos com a lei não são contatos confiáveis para apurar informações, declaração registrada no livro Mídia e violência: tendências na cobertura de criminalidade e segurança no Brasil (2007), justificando assim uma cobertura jornalística diversificada, como foi o caso da Escola Base, ocorrido no ano de 1994, em São Paulo, ocasião que os proprietários do estabelecimento, um casal de descendentes de japoneses, foram perseguidos pelo ódio popular por causa de uma falsa acusação de estupro contra uma aluna. Ou seja, a autoridade informou posteriormente para a mídia que o casal não era culpado pelo fato da existência de um laudo contido no boletim de ocorrência (BO) de Nº 1.827 de 28 de março de 1994, emitido pelo setor de sexologia do Instituto Médico Legal de São Paulo, resultando a culpa sobre a imprensa que não buscou inicialmente os dados do BO, atitude que não influenciaria no estardalhaço causado pela imprensa capitalista, que na época promovia uma campanha contra o ‘abuso de menores’.
A confiabilidade do repórter entre a fonte é o conceito forjado por interesses, de forma concreta, por causa da imagem do profissional formatada pelo público, aludindo que ele está sempre nos locais inacessível ao leitor, ouvinte ou espectador. Função de controle social delegada pelo público que autoriza a mídia a serem os ouvidos e olhos, selecionando o que pode ser interessante ou não para o público, e não para o privado, ocultando às vezes a verdade.
Uma relação de amor e ódio ocorrida no Espírito Santo entre a mídia, as instituições governamentais e a população foi marcada pela apuração dos fatos do ‘Caso Araceli’, no ano de 1973, com o envolvimento de pessoas de classe alta do estado e registrada no documentário Caso Araceli: A cobertura da Imprensa, trabalho de conclusão de curso de Rádio e TV/FAESA/2005, de Diego Herzog e Tatiana Beling, que identifica vários problemas éticos na divulgação dos fatos, fazendo assim uma ligação com o ‘populismo’ exposto pela mídia dominante no século 17, quando a classe menos favorecida em conformidade com atualidade, era impedida de ter acesso a informação de qualidade, em virtude do gerenciamento e interatividade da imprensa, realizada com a fonte oficial e não oficial, as quais sempre resistem na obstrução da ação de coleta de informações, o que ocasiona a apresentação da realidade em formato de retalhos.
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Graduado em Comunicação Social e aluno do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública/Faesa, Cariacica, ES