100 horas de cárcere privado. 100 horas de medo e tensão. 100 horas ao vivo, na televisão. Um seqüestro parece entretenimento na tela de milhares de lares brasileiros. Uma transmissão sem fim, que se multiplica em pautas na imprensa do país. Seja nas primeiras ou últimas horas do dia, ou mesmo durante as refeições, o importante é acompanhar tudo e em tempo real.
As cenas, repetidas incessantemente, lembram um filme da década de 50, A montanha dos sete abutres. Não pelo roteiro, diferente do drama protagonizado por um seqüestrador passional, mas pela cobertura sensacionalista.
Na produção cinematográfica, um verdadeiro circo é armado durante o salvamento do homem preso em uma mina. Um repórter prolonga o resgate para que a notícia ‘dure’ mais e transforma o acontecimento em comoção geral. Jornalistas, comerciantes e curiosos lotam o local.
Tragédias são como seriados
Em 25 de abril deste mesmo ano, Eugênio Bucci já anunciava alguma ‘semelhança’ da história fictícia com a tragédia do caso Isabella, no site Observatório da Imprensa. Ele usa a expressão ‘reality show a céu aberto’ para definir o espetáculo tramado em torno da notícia.
Realmente, o que assistimos há mais de uma semana em todas as emissoras e todas as edições dos telejornais foi uma espécie de reality show. Embora as notícias já tenham sido transmitidas e praticamente toda a população tenha conhecimento do caso, revemos as cenas e ouvimos toda a história novamente, para relembrar e reviver o drama.
Resta questionar até quando assistiremos fatos de horror como este em rede nacional, transmitidos e repetidos centenas de vezes? O pior é pensar que na vida real as tragédias não são como filmes, mas como seriados. Infelizmente histórias assim não são isoladas. Vamos esperar a próxima temporada.
******
Jornalista, Ponta Grossa, PR