Os nativos Cintas-largas do estado de Rondônia, mais especificamente das cidades de Espigão d’Oeste, Pimenta Bueno e Vilhena, precisaram seqüestrar cinco pessoas, entre elas um membro da (ONU) Organização das Nações Unidas, para serem vistos e julgados pelo Estadão.
Um dos objetivos dos aborígines com o ato era de atentar o governo federal para a exploração desenfreada comandada por não-índios nos garimpos localizados na região. Segundo os nativos, a exploração de diamantes feita pelos garimpeiros é absurda e desastrosa.
Para acalmar os índios – que clamam há anos por assistência médica, educação e combate ao grupo operacional no garimpo –, representantes da comunidade étnica foram ouvidos pelo presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Márcio Meira.
Na pauta, os indígenas reivindicavam simplesmente justiça, o que o Estadão não pretendeu visualizar. Os índios pedem o fim da truculência dos agentes federais que fazem a vigilância das divisas das áreas minerais. De acordo com os Cintas-largas, a fiscalização é ineficiente. A polícia não impede a entrada de garimpeiros em suas terras.
Ilegalidade escancarada
Além disso, as revistas diárias aos índios são muito constrangedoras e de quase nada adianta. Em torno das fiscalizações com o intuito de reprimir o comércio de diamante, a Operação Roosevelt já gastou no ano de 2007 o valor de 2 milhões de reais.
A aplicação parece não ter surtido efeito. Conforme revelou a reportagem de O Estado de S. Paulo (16/12), ‘Governo aperta cerco, mas garimpo ilegal avança em reserva’.
Nesta mesma matéria, que revela a ilegalidade escancarada e enumera em torno de 400 garimpeiros divididos em 40 barracas de apoio – avistadas pela equipe jornalística em sobrevôo à área pertencente a quatro comunidades aborígines – o preconceito e o julgamento também estão presentes na narração.
Imprensa distorce
Lá pelas tantas surge a seguinte justificativa para todo esse processo de exploração milionária instalada na região norte brasileira: ‘(…) Os índios que facilitam a entrada de garimpeiros e equipamentos por trilhas e estradas clandestinas da reserva (…).’
Os nativos estariam dando tiro no próprio pé? Provavelmente não. Esta talvez seja mais uma das saídas infundadas de um sistema de combate à exploração ineficiente, que não contempla aos nativos o direito usufruir da sua terra, seu habitat e de suas riquezas.
E para finalizar, mais um registro do jornal para tentar julgar quem são os culpados: ‘(…) Três dias seguidos a reportagem tentou ouvir os representantes dos Cintas-largas. Um deles, avistado por acaso ao lado de sua namorada num restaurante de classe média em Cacoal, chegou a agendar uma entrevista para o dia seguinte, mas não apareceu, nem deu explicações. A alegação deles é de que a imprensa costuma distorcer o que dizem, além de ser preconceituosa.’
O índio não pode namorar? Degustar de um prato diferenciado em um restaurante de classe média? Enfim, a alegação dita para membros do Estadão de que a imprensa costuma distorcer fatos e ser preconceituosa estaria errada?
******
Jornalista e pós-graduando em Linguagem, Cultura e Ensino pela Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Foz do Iguaçu, PR