Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Repórter, deus ou vilão?

Telespectadores se identificam, reagem, criam opiniões, se revoltam, ficam felizes e tristes com os conteúdos jornalísticos que são diariamente veiculados na TV. Essa identificação ou repulsa também acontece na relação telespectador-repórter.

Em televisão, pessoas passam de simples seres humanos para celebridades instantâneas. Isto acontece mais acentuadamente em programas chamados reality shows.

Tornar-se astro, no século 21 não é nada difícil, basta um escândalo ou um ato heroico para que a mídia se interesse pelo cidadão ou pelo que ele representa, para tê-lo como notícia.

Esta fama, seja repentina ou não, torna seus personagens seres olimpianos. Edgard Morin (1975) diz que a apropriação do título de olimpiano a cidadãos ou celebridades se dá pela imprensa.

A imprensa de massa, ao mesmo tempo em que investe os olimpianos de um papel mitológico, mergulha em suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância humana que permite a identificação. (…) Os olimpianos, por meio de sua dupla natureza, divina e humana, efetuam a circulação permanente entre o mundo da projeção e o mundo da identificação. Concentram nessa dupla natureza um complexo virulento de projeção-identificação (MORIN, 1975, p.92 e 93).

Conjugando a vida cotidiana e a vida olimpiana, os olimpianos se tornam modelos de vida. A publicidade, apoderando-se das estrelas para fazer delas modelos de beleza, confirma seu papel de modelo. Os jargões criados por atores, ao encenarem seus personagens em novelas, são amplamente apoderados pelos telespectadores. As roupas, adereços e penteados tornam-se febre em ritmo crescente. Essas ações são consideradas como forma de auto-realização.

Merecimento e eficiência

As celebridades, sejam elas instantâneas ou não, formam nova camada olimpiana. Elas estão presentes em todos os setores da cultura de massa, inclusive no telejornalismo.

Os olimpianos desempenham na sociedade o papel de espelho; são modelos para atitudes comuns da vida cotidiana. Mas não apenas como modelos; são ícones, que passam credibilidade através de seus papeis, que devido ao tratamento dado pelos meios de comunicação, regem as formas de pensar e agir. Aquilo que é dito por eles é aceito com mais facilidade, pois são tidos como deuses, como seres dotados do saber e da verdade.

O telejornalismo em si, e os repórteres, são representações rotineiras de seres olimpianos. Todos os dias eles saem às ruas para apurar fatos e contá-los aos telespectadores, enfrentando frio, catástrofes, guerras, alegrias e contratempos, eles se tornam seres firmes que superam adversidades para poder executar sua função, sua profissão. E vão além disso, para poder transmitir os fatos; entram todos os dias nas casas, escritórios e escolas, invadindo a intimidade dos cidadãos, com permissão, fazendo parte do dia a dia, para narrar os acontecimentos, com pessoalidade, usando de linguagem fácil, valorizando não só o fato, como também o receptor.

Os telespectadores valorizam essa ação, dão mais credibilidade a repórteres que desempenham sua função com ética, de forma clara e compreensível. Repórteres de televisão conseguem destaque em telejornais, cargos de chefia, de apresentação e realizam reportagens de relevância, viram profissionais de rede pelo merecimento provido de sua eficiência, mas também pelo que eles representam, da credibilidade que ao transmitirem uma notícia através de sua imagem eles transferem a ela, tornando o fato mais interessante e prendendo ainda mais sua atenção.

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Jornalista, Juiz de Fora, MG