Ivan Safronov, repórter especializado em assuntos militares do diário russo Kommersant, foi encontrado morto, na sexta-feira (2/3), após aparentemente ter caído da janela do prédio de cinco andares onde morava em Moscou, noticia Vladimir Isachenkov [Associated Press, 5 e 6/3/07]. Na segunda-feira (5/3), diversos jornais especularam que a morte do jornalista estaria relacionada a seu trabalho, embora as investigações apontem para suicídio.
Safronov estaria escrevendo sobre a venda de armas pela Rússia para Síria e Irã, via Bielorrússia. Ele teria obtido esta informação em uma feira de armas no Oriente Médio, em fevereiro, mas afirmou a seus colegas que não poderia divulgar de imediato a notícia pois teria sido alertado sobre o risco de um escândalo internacional.
Sem motivos
O jornalista tinha 51 anos, era casado e tinha filhos, para os quais não deixou nenhum bilhete; segundo o jornal em que trabalhava, Safronov não passava por problemas profissionais. A família informou que ele tinha ido ao médico recentemente para tratar de uma úlcera, mas que não tinha problemas sérios de saúde. ‘A teoria de suicídio é a dominante na investigação, mas aqueles que o conheceram sabem que ele não faria isto’, escreveu o Kommersant. ‘Por alguma razão, os jornalistas que morrem no país são aqueles que desagradam ao governo. Ivan Safronov era um deles. Ele sabia muito sobre a real situação militar da Rússia e divulgou isso’, declarou o jornal Moskovsky Komsomolets.
Safronov, que serviu na Força Aérea Russa antes de começar a trabalhar no Kommersant em 1997, chegou a ser interrogado algumas vezes pelo Serviço Federal de Segurança, agência sucessora da KGB, que suspeitava que ele estaria divulgando segredos de Estado. O jornalista não chegou a receber nenhuma acusação formal, pois alegou que seus artigos eram baseados em fontes públicas. Em dezembro, Safronov irritou autoridades ao ser o primeiro a divulgar a terceira falha consecutiva do lançamento do míssil balístico intercontinental Bulava, que, segundo o presidente Vladimir Putin, seria a base do poder nuclear do país nos próximos anos. O governo nunca reconheceu oficialmente o fracasso do lançamento.
Perigo
A Rússia é considerada um dos países mais perigosos para a prática do jornalismo e suas autoridades são acusadas de perseguir os profissionais que expõem temas como corrupção governamental. Em outubro, a jornalista investigativa Anna Politkovskaya foi assassinada a tiros após denunciar abusos de direitos humanos na Chechênia. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas afirmou, em janeiro, que 13 jornalistas russos teriam sido mortos, com motivação relacionada a seu trabalho, desde 2006. O número faz da Rússia o terceiro país mais letal para profissionais de imprensa nos últimos 15 anos, atrás apenas do Iraque e da Argélia.