Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Repórteres avaliam cobertura do conflito no Líbano

O The Media Line (agência americana multimídia não-lucrativa de notícias que cobre o Oriente Médio) e o Mideast Press Club (Clube de Imprensa do Oriente Médio) reuniram esta semana oito jornalistas no YMCA de Jerusalém no primeiro fórum para tratar de questões sobre a cobertura da guerra do Líbano. Respondendo a perguntas do chefe do escritório de Jerusalém do Media Line, David Harris, os jornalistas – dentre eles Steven Erlanger, do New York Times, e Danny Rubinstein, do Ha´aretz – aproveitaram a oportunidade para refletir sobre suas próprias fraquezas ao cobrir a guerra.


NYTimes


Erlanger admitiu que o New York Times não levou as discussões políticas do Líbano suficientemente a sério durante o conflito. ‘Posso dizer que nós, como um jornal, cobrimos o conflito como uma história de interesse humano, e não com o Hezbollah sendo parte do Exército e do governo’, afirmou. Erlanger também revelou que lastimou que o jornal tenha publicado uma foto de Beirute destruída sem incluir ao lado outra foto que mostrasse uma visão panorâmica da cidade, para assim contextualizar a destruição.


Ha´aretz


Os efeitos da guerra nos israelenses do norte, especialmente durante o tempo em que os jornalistas ficaram um mês dento de abrigos de bombas, levaram Danny Rubinstein a acreditar que o Hezbollah havia vencido a guerra até o recente reconhecimento do xeque Hassan Nasrallah sobre o mau senso em seqüestrar os soldados da IDF (Forças de Defesa de Israel, sigla em inglês). ‘Em meu jornal, não sei quem venceu a guerra. Se Nasrallah cometeu um erro, então [Ehud] Olmert [primeiro-ministro de Israel] também o fez. Olmert tem de mandar algumas flores para Nasrallah porque ele matou o comitê de investigação’, afirmou o jornalista.


Falta de equilíbrio


Uma das críticas mais freqüentes à mídia foi o fato de a imprensa ter falhado em realizar uma cobertura equilibrada do conflito. ‘A minha postura para o equilíbrio é que quanto mais perto você está, melhor’, disse Stephen Farrell, correspondente do Oriente Médio para o The Times que ficou observando a situação com binóculos de seu hotel por três semanas, quando não teve acesso ao campo de batalha. ‘O IDF pode não ter gostado, o Hezbollah pode não ter gostado, mas foi como eu fiz’.


Para o chefe da sucursal de Jerusalém da al-Jazira, Walid Omary, foi a mídia israelense que falhou ao não prestar atenção suficiente a fontes árabes e, portanto, não pôde sequer se aproximar do equilíbrio que a emissora teria alcançado. ‘Da mesma maneira que a al-Jazira foi pioneira na idéia de entrevistar israelenses, e eles fazem isto diariamente, os israelenses têm de saber o que está acontecendo do outro lado’, opina Omary.


Restrições, seqüestros e manipulação


Omary e outros jornalistas afirmaram não poder cobrir tudo o que queriam por causa das restrições da IDF para se chegar ao campo de batalha. ‘A questão para os jornalistas profissionais é o acesso’, observou Simon McGregor-Wood, da ABC News. ‘E o acesso ao campo de batalha foi obviamente algo problemático’. Erlanger também teve as mesmas dificuldades. ‘O IDF queria que nós cobríssemos a guerra de casa, para focar no Katyushas [mísseis muito utilizados pelo Hezbollah]; escreveríamos sobre isto de qualquer maneira. Eles não queriam que nós focássemos na falta de água, de roupa, de ordem’, conta.


Além das dificuldades operacionais, os jornalistas ainda sofriam com ameaças de seqüestros. ‘Eu fiquei um dia [seqüestrado] com insurgentes sunitas’, disse Farrell. ‘É uma experiência terrível e, a cada segundo, você pensa que vai morrer. É uma boa idéia para eles, porque, se você não quer a mídia, intimidar as pessoas garante que os jornalistas não vão a determinados lugares’.


A foto manipulada da Reuters e sua repercussão também foram tema de debate. ‘A credibilidade dos blogs que revelaram o caso disparou; a nossa caiu drasticamente’, analisou McGregor-Wood. ‘Os blogueiros têm mais influência nesta guerra do que nas demais, especialmente nos EUA, onde a foto foi desmascarada’. Informações de Max Kitaj. [The Jerusalem Post, 30/8/06].