Não sei se por falta de leitores ou mesmo por questão de ausência de espaço, o fato é que o gênero jornalístico editorial sumiu das páginas do jornal Correio da Paraíba.
Ao que parece, pouca gente deu fé do sumiço do editorial das páginas de Opinião. Definido em A opinião no jornalismo Brasileiro (de 1985), pelo professor e catedrático José Marques de Melo, como sendo o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão do momento, o editorial foi seqüestrado das páginas do jornal. Em estudo posterior sobre os gêneros jornalísticos na Folha de S.Paulo, publicado dois anos depois, o renomado professor mostra que houve uma modernização na produção do editorial no jornal paulista, ressaltando a postura crítica do veículo, em consonância com sua opção político-mercadológica. Em outras palavras, o editorial serve, sim, para alguma coisa. Ainda há chance para esse gênero se inserir na contemporaneidade.
Num estudo que objetiva dar nova configuração à teoria dos gêneros jornalísticos na atualidade, o professor Manuel Carlos Chaparro publicou recentemente um livro que tem como título Sotaques d’aquém e d’além mar (Summus, 2008). Trata-se de uma tese de jornalismo comparado que analisa a configuração dos gêneros jornalísticos em oito dos principais jornais do Brasil e de Portugal. Unidos pela língua e divididos pelo mar, os dois países têm jornalismos diferentes, apesar da história em comum.
Ofício que se faz pelos mortos
Amparado em dados de pesquisa quantitativa, Chaparro rompe teoricamente com o professor Marques de Melo, afirmando que a divisão entre notícia (news) e comentário (comments) perdeu sua atualidade. E que no período de 1985 a 1993, houve uma verdadeira revolução no jornalismo brasileiro com o chamado Projeto Folha, que foi seguido a reboque por diversos veículos da imprensa nacional e regional. Assim, não só aconteceu um processo de modernização produtiva com a introdução da informática nas redações, mas também o surgimento de um jornalismo de serviços que traz consigo novos gêneros e modifica os tradicionais.
Tão atentos ao cotidiano da província, os cronistas sequer notaram que o velho editorial tinha sumido das páginas do jornal Correio da Paraíba. Ensimesmados, os cronistas e articulistas festejaram silenciosamente a fartura de espaço com os funerais do principal gênero jornalístico. Com a morte do editorial, sobrou espaço também para a voz do leitor, esse desconhecido que cultiva o hábito de acompanhar o cotidiano da cidade por meio de folhas impressas. Agora, ele pode também dar a sua contribuição para o debate democrático na coluna ‘Dos leitores’.
Vivo, morto, sumido? O editorial faz falta, sim, nas minhas aulas da disciplina de Jornalismo Informativo, Opinativo e Interpretativo. É com ele que eu ensino como se deve construir um discurso opinativo/argumentativo. Com o editorial longe das páginas, corremos o risco de confundir a tão sagrada opinião do jornal com as divertidas charges do multimídia C. Tadeu ou com os comentários sempre bem ancorados do jornalista Josival Pereira na coluna política ‘Informe’. É nesse cantochão, nesse ofício que se faz pelos mortos, que eu louvo o editorial como um gênero que não deve desaparecer.
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Jornalista e professor do curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)