A história sempre estipulou marcos para melhor entendimento da evolução humana: a invenção da escrita, a queda do império romano, a Revolução Industrial etc. Diante da revolução digital que se aprecia neste começo de século, é bastante plausível que historiadores, daqui a 100 anos ou mais, determinem algum momento desde o advento da microeletrônica como um novo marco. Pois a revolução em curso atinge diretamente um dos elementos que a espécie humana mais desenvolveu em sua evolução: a comunicação. A rapidez com que a comunicação é encampada pelos bytes é impressionante e requer uma observação aprofundada principalmente pelos profissionais que têm a informação como matéria-prima.
Pode-se citar a década de 1950 – com a invenção do transistor e, por consequência, o desenvolvimento da microeletrônica – como um ponto de partida para a convergência de mídias que se observa atualmente. Afinal, a partir dessa época os computadores e os meios de difusão como rádio e TV e as telecomunicações ganharam mais recursos e tamanhos cada vez mais reduzidos. Junte-se isso ao surgimento da internet, já na década de 1970, que indiscutivelmente modificou o modo como as informações são difundidas. O resultado é o que se tem hoje: aparelhos multifuncionais com um poderoso suporte para envio e recebimento de informações.
Conceito de interatividade
A convergência das mídias coloca em voga alguns conceitos aos quais é cada vez mais necessário compreender e colocar em prática. Provavelmente, o principal deles seja a interatividade. Hoje, a relação emissor e receptor ganhou um novo viés, distinto da unilateralidade de décadas atrás. A tecnologia possibilita que o fenômeno da interação possa ocorrer segundo a premissa de que dois ou mais agentes possam ter contato com o mesmo poder de participação. Entre o conceito de interação e interatividade, para o caso das novas mídias, o segundo é o mais correto, de acordo com alguns autores citados por Luciana Mielniczuk em seu texto Considerações sobre interatividade no contexto das novas mídias. Essa conclusão pode ser explicada pelo fato de existir a mediação física entre os agentes comunicantes.
Com relação à interatividade, cabe aqui uma ressalva. Nem sempre tudo que é vendido como interativo realmente o é. Existe uma clara diferença entre interatividade e reatividade, ou seja, uma situação em que o poder da comunicação não está dividido de maneira igualitária. No mercado de TV por assinatura, por exemplo, é possível comprar programação pelo sistema pay-per-view através do controle remoto. Nesse caso, são dadas ao consumidor opções dentro de uma grade pré-definida. Assim, o poder do consumidor é limitado por essa grade de programação, caracterizando a reatividade. Mas, o mercado de TV por assinatura veicula a ideia de interatividade como estratégia de marketing. Se existe má-fé ou não nesse fato, a verdade é que o conceito de interatividade, conforme conclui Mielniczuk, é tão recente quanto o advento das novas mídias e não prescinde de uma observação mais aprofundada.
Mercado emergente e pouco explorado
A convergência das mídias não ocorre somente no nível técnico. De fato, esse fenômeno ocorre nas esferas política, econômica e jurídica. Voltando o olhar para o mercado, atualmente ocorre o que Suzy dos Santos e Sérgio Caparelli chamam de convergência da economia da comunicações. Essa convergência está em curso desde o início da década de 90 e consiste no agrupamento de dois setores distintos, telecomunicações e comunicações eletrônicas de massa, mediados pela internet. No Brasil, essa mudança possui um case bem atual. O grupo de mídia francês Vivendi adquiriu, em novembro de 2009, 57,5% da empresa de telecomunicações Global Village Telecom (GVT), sediada em Curitiba. A Vivendi é proprietária de marcas como Universal Music e Canal +. Possui atividades ligadas à música, ao cinema, editoração, vídeo games e internet. Com a empresa brasileira GVT, a Vivendi passa a atuar também com telecomunicações. Aparentemente distintos, telecomunicações e mídia de massa se convergem em negociações milionárias. A junção conteúdo mais meio de propagação forma um coquetel palatável, e as empresas já percebem isso, investindo substancialmente.
Outras ocorrências no meio empresarial nesse ramo também são notáveis. A fusão da AOL, provedora de internet, com o conglomerado de mídia Time Warner, no ano passado, causou comoção no mundo dos negócios. A fusão foi um fracasso, culminando na separação das duas empresas em dezembro de 2009. Mesmo assim, mostrou o quanto as empresas estão dispostas a seguir o caminho da convergência.
A convergência econômica foi o catalisador para a convergência técnica. Hoje, graças ao aperfeiçoamento das tecnologias de transmissão de dados, a TV pode oferecer suporte à internet e vice-versa. Criou-se um misto TV e computador. Prova disso é que a Google, gigante da internet, segundo informações da revista Info Online, está testando um sistema de buscas via internet através da televisão, utilizando-se um teclado. A proposta é possibilitar ao usuário montar a grade de programação disponível na internet. Essas iniciativas mostram que, cada vez mais, as mídias tradicionais, como TV e rádio (não podemos nos esquecer dele), estão se integrando com a internet, com os streamings e videos on demand.
Observa-se no Brasil a popularização dos combos, pacotes de serviços que incluem TV por assinatura, internet banda larga e telefone. Pois o notável crescimento desse tipo de venda, impulsionado pelos preços e promoções oferecidos, é outra evidência da convergência em curso. Empresas como a Oi, tradicional no ramo de telecomunicações, há muito tempo investiram em banda larga de internet e já oferecem a sua TV por assinatura. Sua principal concorrente, a Net, pertence às Organizações Globo, que dispensa apresentações. A tendência é que cada vez mais empresas de telecomunicações se lancem em outras mídias e vice-versa, principalmente em um mercado emergente e pouco explorado, como o Brasil. Cabe aos profissionais da comunicação compreender essa dinâmica e usufruír das oportunidades, que não são poucas.
As redes sociais e a convergência
Não se pode falar em convergências de mídias sem falar na rede mundial de computadores, a internet. Pode-se creditar a ela a grande parte da revolução das comunicações. De maneira muito rápida, a internet passou de um projeto militar para uma verdadeira digitalização das interações humanas. Mais que isso, a parte da internet que utilizamos, a web, mudou a forma de compreender o mundo e de difundir informações, o que serve muito bem para os profissionais de comunicação.
Desde a criação de uma interface amigável por Tim Berners-Lee, nos anos 1980, a convivência com a web se tornou cada vez mais trivial. Mas a tecnologia das comunicações é tão rápida que o modelo criado há pouco mais de 20 anos já está superado. Atualmente, vive-se o mundo da Web 2.0 (já se fala, no meio acadêmico, na Web 3.0, que ainda está em estágio embrionário). Pois as novas gerações já convivem com termos como Orkut, scrap, tweet, post, Facebook e outros. A Web Colaborativa, 2.0, canalizou as oportunidades no campo da comunicação e, mais importante, democratizou a difusão de informações. Todos podem ter um blog e escrever sobre o que acontece no bairro onde vivem, sobre uma ONG de que participam etc. O jornalismo, agora, deixa de ser exclusividade das empresas tradicionais de comunicação.
Há dois ou três anos, nem se falava sobre o Twitter. Recentemente, ele alcançou incríveis 15 bilhões de mensagens. É uma verdadeira revolução. O microblog se tornou fonte de informações que, quem diria, fura a própria internet, considerada um dos meios mais rápidos de divulgação. Onde quer que se esteja, com um celular com acesso à internet, é possível divulgar uma informação antes mesmo que seja veiculada em sites da web.
O mercado, mais uma vez, percebeu essa evolução das redes sociais e está reagindo. A Reuters, mais conhecida agência de notícias do mundo, criou regras para seus jornalistas sobre o uso do Twitter. Uma dessas regras preconiza que os jornalistas devem escrever primeiro a notícia para a agência, mesmo que as informações sejam muito relevantes e/ou já estejam circulando em outras redes sociais de internautas. Segundo informações da Agência France-Presse, o presidente da rede americana CNN, Jon Klein, declarou que teme as redes sociais. Para ele, as pessoas de quem se é amigo do Facebook ou que se segue no Twitter são fontes confiáveis de informação. Por isso, ele está mais preocupado com os 500 milhões de usuários das redes sociais do que com os dois milhões que assistem à Fox, rede concorrente. O medo da CNN reflete o poder que as redes sociais adquiriram.
Para os profissionais da comunicação, cabe observar de maneira atenta a evolução da convergência das mídias e das redes sociais e se integrar à nova realidade. Aquele que tratar com indiferença o assunto ou deixar passar algum capítulo dessa movimentação está fadado ao insucesso, já não tão difícil de acontecer num mercado tão competitivo.
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Estudante de Jornalismo, Belo Horizonte, MG