Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rio e São Paulo no centro do noticiário

No domingo (6/4), ao acompanhar a abertura do Fantástico durante os 20 longos minutos acerca da tragédia que se abateu sobre aquelas famílias na capital paulista, pensei em escrever a fim de sugerir um tema na pauta do Observatório da Imprensa. Porém, na terça-feira (8/4), qual não foi minha surpresa: a votação da urna eletrônica do OI versa exatamente sobre o ‘objeto oculto’ da minha sugestão, que é ‘A mídia nacional e o preconceito contra pobres’, porque, consciente ou inconscientemente, até nas tragédias os jornais e/ou os jornalistas têm esse preconceito.

Mesmo que o fato da capital paulista tivesse ocorrido em Sapopemba, com certeza não teria tido a repercussão que está tendo. Aqui em Pernambuco, no interior do estado, foram assassinadas – infelizmente – duas crianças em condições igualmente trágicas e, com toda a certeza, a Rede Globo Nordeste (com sede em Recife) mandou a matéria para a edição do Jornal Nacional. Percebe-se, porém, que esse erro é generalizado, caso contrário vocês teriam usado o tema para consulta aos telespectadores?

A responsabilidade dos editores de jornais ou telejornais de repercussão nacional é grande: a irresponsabilidade também. Acredito até que esse tipo de erro seja cometido inconscientemente, caso contrário, seria puro preconceito assumido – é dizer, fascismo tupiniquim.

O Brasil é grande, maior do que a grande mídia. É compreensível, mas é inaceitável, principalmente para quem vive em outras províncias, que o noticiário nacional tem mais caráter local dos grandes centros. Ficamos todos nas mãos de pessoas insensíveis, que editam os jornais achando que quem mora fora do Rio de Janeiro ou de São Paulo tem realmente que saber de coisas que só interessam a quem vive nessas duas cidades.

Senão, vejamos: existe coisa mais estúpida do que ver e ouvir toda vez que chove em São Paulo que ‘a Marginal Pinheiros está com um congestionamento de quase tantos quilômetros’?; ou então, nas vésperas de feriadão, durante mais de 2 minutos no Jornal Nacional (isto para não falar do Jornal da Band, com a sua paulistanice), que ‘dezenas de carros descem a Serra do Mar em direção ao litoral’? Há que se perguntar: no que estas coisas podem interessar ao resto do país?

Repito: o preconceito contra os pobres ocorre até nas tragédias. Se o Observatório refletir sobre o reclamo, e quiser transformá-lo em tema do programa de televisão, sugiro que o faça com a participação de pessoas isentas (de outras praças), através de outras TVs educativas, porque senão já seriam previsíveis as respostas e observações. Afinal, muita gente se sente no direito de muita coisa, inclusive de negar o óbvio e discordar de evidências indiscutíveis.

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No meu tempo de repórter na Folha da Tarde, a gente escrevia o que descobria que estava acontecendo. Aprendi a ser responsável pelas minhas matérias, checando tudo antes de entregar o texto. E não tive faculdade para me ensinar isso. Meus editores cuidaram disso e confiavam plenamente em meu trabalho.

Hoje, fico espantado com tantos ‘supostos’ que são escritos para descrever os casos do dia-a-dia das cidades. No domingo (13/4), o site Terra publicava uma matéria onde um réu confesso era tratado como ‘suposto’ do esquartejamento da amante. Na segunda-feira, mais três ou quatro ‘supostos’, um deles o marginal ‘Mata Rindo’, morto pela polícia do Rio. O cara era assaltante, assassino (está no nome) e ainda é ‘suposto’.

Suponho que a meninada de hoje tem medo do que escreve. Ou não tem certeza de nada. Ou é orientação das editorias, para ficarem livres de um ‘suposto’ processo? (Herminio Naddeo, ex-jornalista, Belo Horizonte, MG )

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Na noite do dia 29 de maio o Brasil se assustou ao se deparar com um assassinato brutal. Uma garota de apenas 5 anos foi morta, supostamente espancada e jogada do 6° andar de um prédio. Era um sábado e o mais extraordinário disso tudo é que as suspeitas do brutal assassinato caíram sobre o pai e a madrasta da garota. Trata-se da pequena Isabella Nardoni, morta sem nenhuma chance de defesa.

Depois da trágica notícia, passamos a conviver com a enxurrada de notícias dos meios de comunicação que de nada ajudam no processo de investigação do crime. Assistimos até a vídeos da pequena garotinha em seu ambiente escolar. Jornalistas mostraram suas versões da história, a pequena Isabella se transformou em fonte para alimentar o sensacionalismo dos vários meios de comunicação deste país. Até mesmo o trajeto que a família fez ao sair e entrar em um supermercado foram revividos por jornalistas. O caminho percorrido pelo pai da garota ate chegar ao local do crime também se tornou interessante.

A notícia é importante para todos, nós temos o direito de estar bem informados sobre os fatos de um país, mas acima de tudo temos que saber a hora certa de nos calar e respeitar a dor e o sofrimento as pessoas, sejam elas culpadas ou inocentes. É importante saber o limite entre a informação e o respeito pelas pessoas. (Vanderson de Souza Cordeiro, jornalista precário, Santo Antonio do Aracangua, SP)

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Descobri o site por uma indicação de um professore logo vi que o Observatório da Imprensa e o lugar onde o jornalista realmente pode dar sua opinião e dizer o que pensa. No país a ditadura não existe mas o jornalista vive sendo censurado… Parabéns a todos do OI. (Gleicival Mendes, estudante de Jornalismo, Figueirópolis, TO)

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Duzentas mil pessoas no Nordeste estão sofrendo com enchentes e precisando de ajuda, dezenas morreram. Mas o que interessa a vocês [jornalistas] é a morte lamentável de uma menina da classe média paulistana. Os nordestinos são seres humanos que merecem atenção pelo que acontece hoje. Por que um exagero na cobertura do caso Isabella, com flashes ao vivo de delegacias e residências? E as enchentes no Norte e Nordeste, gravíssimas, que merecem uma mobilização nacional para combater a dengue e minorar os efeitos das águas sobre centenas de milhares de pessoas?

A imprensa pode ajudar muito, muito mesmo. Por favor deixem o jornalismo sensacionalista de lado e façam jornalismo sério de verdade, que ajude a construir a solidariedade e um país melhor. Espero que respondam e olhem para o Brasil como um todo. Estou me queixando como cidadão. (Jair Ferreira de Souza, historiador, Natal, RN)

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Apenas para ficarmos em dois fatos recentes, gostaria de comentar o destaque que a imprensa tem dado ao acidente/assassinato com uma garota que caiu/foi jogada de um prédio e ao leilão dos pertences de um traficante. Como se pode brincar com as pessoas, que recebem informações que de nada servem a não para tagarelagem? Deveriam ser veiculadas informações sobre as quais se pudesse desenvolver conversas onde todos crescessem, promovessem o desenvolvimento. Não se observa que haja interesse na menina ou não-repetição do acidente/assassinato. Do mesmo modo, a quem pode interessar que uma cueca usada de um traficante seja precificada por 1 real em leilão a ser realizado? É para desanimarmos ou vocês acham que ainda há esperança de que o povo brasileiro se respeite e seja respeitado? Em que a imprensa pode ajudar? Ela está realmente interessada? (Roberto Magalhães, engenheiro, Rio de Janeiro, RJ)

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Primeiramente gostaria de parabenizá-los pelo programa e pelo portal virtual. É tão difícil encontrar uma ilha de moralidade e ética no mundo jornalístico… Venho aqui mostrar e pedir uma atenção por parte de vocês sobre um pseudoportal jornalístico que meus alunos apresentaram em uma aula em que discutíamos ética jornalística. Não sou defensor de x ou de y, apenas quero que a justiça seja feita, mas ver como o caso está sendo tratado é demais.

Sou divorciado tenho três filhos deste relacionamento e hoje tenho uma nova esposa e meus filhos (a mais velha tem 11 anos e a mais nova, 6) questionam e comentam o que a TV mostra a todo momento. Até falar que coleguinhas mandaram que tomassem cuidado quando fossem à minha casa no final de semana. É difícil de acreditar que um pai e sua esposa consigam fazer isso com uma criança, mas não posso duvidar (visto como mundo hoje se apresenta) e nem posso também acusar (o que eu sei? nada!). Mas não vou e nem quero que também fiquem impunes jornalistas que, pelo brilho da audiência e popularidade, incitem a população a uma novela e a uma caça às bruxas, como o caso da Escola Base. Não sei se vocês podem fazer alguma coisa, mas o fato de apenas criticar este tipo de jornalismo já é reconfortante. (Cláudio Adriano Elias Soares, professor, Belo Horizonte, MG)

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Estudo realizado numa área onde será implantado um parque eólico com 67 aerogeradores (nas dunas de Canoa Quebrada, Aracati, CE) identificou a presença de mais de 50 sítios arqueológicos. O achado não recomenda a continuação da obra, visando a proteção desse patrimônio cultural. Denunciamos via e-mail e em alguns meios da imprensa local, nacional e internacional. Os dois grandes jornais de circulação local (O Povo e Diário do Nordeste) não realizaram até agora (há quase duas semanas da denúncia) qualquer matéria.

Desconsiderando o relatório, o próprio Iphan, permitiu e emitiu licença para que outro arqueólogo realizasse o salvamento arqueológico. Entretanto, esse salvamento é incompatível com a área arqueológica e com a dinâmica dos sítios, situados numa área de dunas móveis. O silêncio do estado é absurdo. O silêncio dos jornais locais também. Os próprios órgãos licenciadores estão ‘passando por cima’ de toda uma legislação que protege tanto o patrimônio cultural como o natural. Nossa denúncia tem também o desejo que esse tipo de discussão torne-se pública, o que ninguém quer: discutir os impactos ambientais e culturais na construção de grandes empreendimentos. (Igor Pedroza, estudante, Fortaleza, CE)

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Por que logo após a entrada em vigor da obrigatoriedade de as emissoras de TV se adaptarem à classificação indicativa aos diferentes fusos horários, eis que o Congresso acaba com um dos fusos e faz outros ‘arredondamentos’ em relação a Brasília? É claro que o projeto que alterou os fusos tramita há meses. Mas, da mesma forma, a adaptação aos fusos também já deveria ter sido feita há meses. Quem, de verdade, está por trás da mudança dos fusos? A justiticativa oficial não me convence. (Lúcio Haeser, jornalista, Brasília, DF)

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Recentemente o Observatório da Imprensa comentou no seu programa radiofônico a reportagem especial sobre Amazônia, da revista Veja (edição de 26/3/2008). Tratando-se de tema de relevante importância e tendo em mente os comentários do OI, busquei diretamente a leitura integral dessa reportagem da Veja, chegando à conclusão de que o resumo do OI não faz justiça à qualidade, profundidade e clareza da reportagem. Destarte, estou procurando na internet a análise mais conseqüente e detalhada desse Observatório a propósito do assunto em questão, não tendo, entretanto, até aqui, encontrado. (Urbano Alencar Machado, engenheiro, São Paulo, SP)

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Vale a pena um olhar crítico sobre duas ‘pequenas’ chamadas de capa do Globo. Na edição de quarta feira (9/4), debaixo do título ‘Ordem em Ipanema’, aparece a foto de um garoto seminu em primeiro plano com 5 ou 6 policiais em pé, ao fundo. Subjugar um menor é a noção de ‘ordem’ do jornal? E todas as outras desordens onde estão? Pior veio na edição de sexta (11/4), na charge do Chico, com humor abaixo de zero. Para sacanear Ziraldo, que recebeu uma indenização indevida na visão de muitos articulistas do jornal – e certamente também na visão do chargista –, ele coloca uma mulher, negra, de traços jovens, quase infantis, ligando para o Ziraldo, fato chamado de ‘efeito colateral’. Quer dizer então que homem ‘rico’ já atrai logo o interesse de uma mulher prostituta, e a melhor representação de uma é aquela? Humor é humor, mau gosto é mau gosto, preconceito é preconceito. Não dá para disfarçar uma coisa atrás da outra. (Sérgio Ricardo S. Rosa, bancário, Rio de Janeiro, RJ)

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Recentemente a revista Época publicou matéria sobre aposentadoria privada – ‘Como se aposentar com 10 milhões’. Ora, o bom senso mostra que a previdência privada é o pior negócio do mundo, um péssimo investimento, mas todas as grandes revistas falam o tempo todo nisso, parecendo matérias pagas. Sugiro que um meio isento e honesto como o Observatório fale mais sobre isso, de forma realista, criticando esse tipo de matéria e mostrando suas falácias. Creio que isto poderia ser esclarecedor para os leitores. (José Beltrame, médico, Porto Alegre, RS)

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Advogado, Recife, PE