O Estado de S.Paulo, em sua versão online, conseguiu dar 52 linhas sobre o casamento do jogador de futebol Ronaldo com a modelo Daniela Cicarelli. Para isso fez um esforço de reportagem enorme, e foi fundo em detalhes para conseguir preencher a lingüiça das vaidades e das invejas.
A viagem do presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi à Venezuela fechar acordos acompanhado de vários ministros, dos presidentes da Petrobras, BNDES, Eletrobrás e de empresários brasileiros de diversos setores, mereceu 18 linhas, sendo que 30% delas foram preenchidas com o nome dos ministros e dos ministérios.
A Folha deu 33 linhas a cada ‘evento’, falou de números, claro, mas não passou disso. A foto do Lula está lá, ao lado do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, para fingir que a notícia é importante, mereceu destaque. Mas, e daí? Será que os leitores não merecem saber mais sobre os planos desses encontros? Qual a agenda dos ministros? Com quem vão falar? O que articulam esses governos? Como estão fazendo para inserir práticas socialistas num universo político e econômico tomado pelo capitalismo? No setor das Minas e Energia, por exemplo, quanta pergunta a ser feita!
Não importa se se gosta ou não de Lula e do atual governo brasileiro, mas cobrir direito, com o mesmo empenho empregado para saber detalhes do casamento do Ronaldo, é o mínimo que o leitor merece. A gente lê e não fica sabendo nada, parece que Lula e seu séqüito de ministros estão numa viagem turística e mais ou menos tinham alguma coisa que há tempos estavam para fazer, alguns acordos. É assim, desse jeito. E depois ninguém sabe por que o leitor fica cada vez mais panaca, sem interesse pela notícia, voltado para superficialidades.
E a mesma conclusão de sempre: não pode ser burrice, só pode ser picaretagem. Em grande escala.
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Jornalista em Florianópolis